Nutricionista Adriana Lauffer

Náuseas e vômitos após a cirurgia bariátrica

Náuseas e vômitos após a cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica transformou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, oferecendo não apenas redução de peso, mas também melhoria significativa em condições associadas à obesidade. Entretanto, muitos pacientes enfrentam náuseas e vômitos no período pós-operatório, sintomas que podem comprometer a recuperação e a qualidade de vida. Compreender as causas desses desconfortos e implementar estratégias preventivas torna-se, portanto, fundamental para o sucesso do tratamento.

Causas de náuseas e vômitos após a cirurgia bariátrica

As náuseas após a cirurgia bariátrica surgem principalmente devido às alterações anatômicas do sistema digestivo. Inicialmente, a manipulação dos tecidos durante o procedimento estimula receptores que ativam o centro do vômito no cérebro. Além disso, a redução do tamanho do estômago modifica drasticamente a capacidade de armazenamento de alimentos, provocando consequentemente sensações de plenitude mesmo após pequenas refeições.

Os medicamentos anestésicos e analgésicos utilizados no procedimento também contribuem significativamente para o mal-estar gástrico. Estes fármacos, embora necessários, retardam o esvaziamento gástrico e irritam a mucosa digestiva, desencadeando assim episódios de náusea nas primeiras 48-72 horas pós-cirúrgicas.

Após alguns meses de cirurgia, muitas pessoas conseguem ingerir aproximadamente meio copo ou 120 ml de alimentos em 30 a 45 minutos. Ao exagerar, você poderá sentir pressão ou estufamento no centro de seu abdômen ou pode sentir-se nauseado. Qualquer que seja o sinal, pare de comer, pois uma garfada a mais pode causar dor e muito desconforto.

Comportamentos alimentares inadequados representam outra causa frequente de vômitos. Muitos pacientes, por hábito, consomem alimentos rapidamente ou em quantidades maiores que a capacidade do novo estômago. Consequentemente, ocorre sobrecarga do sistema digestivo, resultando em regurgitação involuntária do conteúdo gástrico.

A síndrome de dumping, caracterizada pela passagem rápida dos alimentos para o intestino delgado, afeta aproximadamente 70% dos pacientes submetidos ao bypass gástrico. Esta condição manifesta-se através de náuseas intensas, sudorese e taquicardia após a ingestão de carboidratos simples ou açúcares, tornando-se assim uma preocupação significativa no manejo pós-operatório.

Como evitar náuseas e vômitos após a cirurgia bariátrica

Felizmente, diversas estratégias preventivas mostram-se eficazes no controle desses sintomas. Primeiramente, a adoção de uma alimentação fracionada constitui medida fundamental. Refeições pequenas (30-60ml por vez nas primeiras semanas) distribuídas ao longo do dia reduzem a pressão sobre o novo estômago e, por conseguinte, diminuem as chances de náuseas.

A mastigação lenta e completa dos alimentos representa outro pilar na prevenção dos vômitos. Idealmente, cada porção deve ser mastigada entre 20-30 vezes antes da deglutição. Desse modo, o alimento atinge o estômago em partículas menores, facilitando assim a digestão e evitando sobrecarga do sistema.

A hidratação adequada, embora desafiadora neste período, previne complicações graves. Contudo, líquidos devem ser consumidos separadamente das refeições sólidas (30 minutos antes ou 60 minutos depois), evitando desta forma a dilatação gástrica excessiva durante as refeições.

A introdução gradual de novos alimentos constitui estratégia fundamental. Inicialmente, privilegiam-se líquidos claros, progredindo posteriormente para líquidos completos, purês e, finalmente, alimentos sólidos macios. Portanto, respeitar este processo de adaptação reduz significativamente a incidência de náuseas e vômitos.

Assim, quando sentir desconforto, náuseas ou vômitos, tente identificar a causa, fazendo as seguintes perguntas:

  • Me alimentei muito rápido?
  • Não mastiguei bem os alimentos?
  • Comi demais?
  • Bebi líquidos junto com as refeições ou logo após?
  • Estava distraído ou conversando durante a refeição?
  • Comi alimentos difíceis de digerir, como carnes duras ou fibrosas?

Essa avaliação irá ajudá-lo a fazer mudanças necessárias para a próxima refeição.

Fique atento também à síndrome de dumping e hipoglicemia reativa.

Importância da mastigação

Se você não mastigar bem e engolir os alimentos em pedaços maiores, você poderá bloquear a pequena saída de seu estômago, o que pode até mesmo dilatar e romper a linha grampeada ou causas vômitos.

Portanto, lembre-se sempre da importância da mastigação adequada para evitar náuseas e vômitos após a cirurgia bariátrica. Para mastigar mais devagar, você pode utilizar as estratégias abaixo:

  • Leve de 30 a 45 minutos no mínimo para realizar cada refeição;
  • Mastigue cada garfada de 20 a 30 vezes ou até que os alimentos formem uma papa em sua boca;
  • Corte a comida em pedaços pequenos. Isso ajuda na mastigação e torna a refeição mais lenta;
  • Use talheres e pratos pequenos, como colher de chá ou sobremesa. Isso ajuda a comer quantidades menores de alimentos de cada vez e diminui a velocidade de sua refeição;
  • Explique aos outros porque você deve comer lentamente. Dessa forma, eles não irão apressá-lo;
  • Não fique conversando durante suas refeições;
  • Não “pule” refeições. Quando não faz uma refeição, você fica com muita fome na próxima. Com isso você perde o controle e acaba comendo muito rápido e se esquece de mastigar bem os alimentos.

No caso de apresentar vômitos durante um dia inteiro, pode ser que a saída de seu estômago esteja bloqueada. Nesse caso, procure seu médico imediatamente.

Conclusão

Por fim, o acompanhamento multidisciplinar regular permite identificação precoce de problemas e ajustes necessários. Nutricionistas, psicólogos e cirurgiões trabalham conjuntamente para garantir adaptação adequada e, consequentemente, minimizar efeitos adversos como náuseas e vômitos persistentes.

Dependendo do tipo de técnica cirúrgica adotada o volume inicial aceito pelo paciente varia entre 50 e 500 ml por horário e a consistência da dieta é líquida para que o estômago não seja muito estimulado. Por isso, não se compare a outras pessoas pois as orientações são individualizadas e baseadas na técnica cirúrgica.

Veja mais informações sobre a dieta após a cirurgia bariátrica, o preparo para a cirurgia bariátrica ou sobre a qualidade da alimentação após a cirurgia bariátrica.

Referências Científicas

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