A mudança do hábito alimentar começa a ser incorporada no período pré-operatório da cirurgia bariátrica. Período em que, através de alterações graduais, o paciente vai se conscientizando e se preparando para as mudanças que seus hábitos alimentares irão sofrer após a cirurgia. Mas, e quanto ao pós operatório, como é a dieta para cirurgia bariátrica?
Primeiro mês pós-cirurgia
O objetivo da dieta neste período não só é a perda de peso, mas também auxiliar no processo de cicatrização do estômago. Pode-se dividir o cuidado com a alimentação em cinco fases. São elas:
- Líquida;
- Evolução de consistência;
- Seleção qualitativa e mastigação exaustiva;
- Otimização da alimentação;
- Adaptação final e independência alimentar
Fase líquida
Nas primeiras duas semanas é a fase da alimentação líquida, cujo objetivo é adaptação aos pequenos volumes, hidratação, cicatrização e repouso gástrico.
Os primeiros dias de alimentação pós-cirurgia devem ser seguidos rigorosamente para evitar complicações. A alimentação é liquida e constituída de pequenos volumes, em torno de 50 ml por refeição.
Alimentos bem aceitos são água, água de coco, bebidas isotônicas, chás, sucos de frutas naturais coados, caldo de vegetais coados e gelatina diet. Açúcar, gordura e laticínios são excluídos da dieta por aproximadamente 5 dias.
Como consequência dessa alimentação, a perda de peso é bastante grande nestas duas semanas. Por isso, devem ser introduzidos os complementos nutricionais específicos para evitar carências de vitaminas e de minerais.
Toda vez que as calorias da dieta são inferiores a 1250 Kcal ao dia é necessário complementar vitaminas e minerais. No caso da cirurgia bariátrica, o valor calórico da alimentação se aproxima de 350 kcal nas primeiras semanas e continua inferior a 1250 kcal no mínimo até o sexto mês após o início do tratamento. Principalmente durante este período, a complementação é indispensável. Vitaminas e minerais não produzem calorias, portanto, não engordam.
A orientação nutricional deverá ser iniciada pelo médico e nutricionista já no hospital, antes da alta hospitalar.
Quanto à alimentação em casa:
- Prefira preparar os alimentos em casa, ao invés de comprar preparos industrializados, como sopas e sucos em pó.
- Dilua sempre os sucos industrializados líquidos, evitando aqueles com corantes e conservantes.
- Tempere os caldos habitualmente, mas não esqueça de coar.
- O leite e o iogurte também devem ser coados quando estiverem batidos com frutas.
- Não consuma líquidos calóricos, como: milk-shakes, leite condensado, creme de leite, sorvetes, flans, pudins, chocolates etc. São ricos em açúcar e podem causar síndrome de Dumping.
- Não consumir bebidas alcoólicas.
- As refeições deverão ser tomadas lentamente, podendo demorar cerca de 40 minutos para serem ingeridos sem desconforto abdominal.
- A atenção especial nessa fase é a forma de ingestão dos alimentos, ou seja: a velocidade e volume alimentar ingerido.
Hidratação:
Atenção à hidratação através da coloração da urina que, se estiver escura, pode ser sinal inicial da desidratação. A rápida perda de peso leva a um aumento transitório dos níveis de ácido úrico na circulação. Quando a hidratação não é suficiente poderá haver formação de litíase renal (pedra nos rins). Por este motivo o consumo de líquidos deve ser monitorado para evitar que a urina fique muito concentrada. O consumo de líquidos deve ser constante, independente da sede.
Alimentos que devem ser evitados nos primeiros 3 meses de cirurgia:
São eles: café, chá mate, chá verde, pimenta, sucos industrializados em pó, condimentos químicos (Knor, Sazon, mostarda, ketchup, molho inglês), leite e derivados de vaca, açúcares (chocolate, balas chicletes, doces em geral), frituras, carboidratos (em excesso), bebida alcoólica, fumo, refrigerantes, água gaseificada.
Fase da evolução de consistência
Começa na segunda quinzena após a cirurgia e, de acordo com a tolerância e as necessidades individuais, a alimentação vai evoluindo de líquida para pastosa. Nesse cenário, inicia-se a introdução de preparações liquidificadas, cremes e papinhas ralas.
A evolução de cada paciente é variável, de forma que a escolha de cada alimento deve ser cuidadosa para evitar desconforto digestivo como dor, náuseas e vômitos. Esta fase tem um tempo de duração diferente para cada indivíduo, porém, em média, dura em torno de 2 semanas.
Segundo mês pós-cirurgia
Fase da seleção qualitativa e mastigação exaustiva
Passado o primeiro mês após a cirurgia, inicia-se uma fase em que a seleção dos alimentos é de fundamental importância, pois, considerando que as quantidades ingeridas diariamente continuam muito pequenas, deve-se dar preferência aos alimentos mais nutritivos escolhendo fontes diárias de ferro, cálcio e vitaminas.
O paciente deverá ser treinado pelo nutricionista para reconhecer quais são os alimentos mais ricos nestes nutrientes de forma a ficar mais independente. Dessa forma, poderá fazer escolhas assertivas sobre os alimentos necessários nas suas refeições diárias. Como a alimentação passa a ser mais consistente, deve-se mastigar exaustivamente. Essa fase dura em média durante 30 dias
Terceiro mês pós-cirurgia
Fase da otimização da dieta
Nesta fase, que dura em média 30 dias, a alimentação vai evoluindo gradativamente para uma consistência cada vez mais próxima do ideal para uma nutrição satisfatória em que quase todos os alimentos começam a ser introduzidos na alimentação diária.
O cuidado com a escolha dos alimentos nutritivos deve continuar, pois as quantidades ingeridas diariamente continuam pequenas. Nesta fase o paciente pode ser capaz de selecionar os alimentos que lhe tragam mais conforto, satisfação e qualidade nutricional.
Dieta deverá ser normal, mantendo apenas o controle de volume e balanceamento nutricional. As restrições alimentares serão em relação ao consumo de bagaços, sementes, cascas duras especialmente de verduras e legumes, alimentos como carnes duras, empanados e frituras.
Orientações gerais
- Introduzir aos poucos os vegetais crus, sob forma de salada.
- Plano alimentar com seis refeições fracionadas ao dia, pequenos volumes e frequentes;
- Mastigar muito bem os alimentos, alimentando-se ambiente tranquilo e sem pressa;
- Ingerir líquidos somente entre as refeições, nunca durante;
- Preferir beber água ou água de coco;
- Não consumir doces e refrigerantes;
- Procurar equilibrar a dieta ao longo do dia;
- Parar de comer assim que sentir-se satisfeito;
- Começar comendo os alimentos fontes de proteínas para garantir ingestão de ferro;
- Plano alimentar individualizado, baseado em reeducação alimentar;
- Valor calórico de 1200 a 1600 Kcal com 1 g de proteína por Kg.
Quarto mês pós-cirurgia em diante
Fase da adaptação final e independência alimentar
Como as fases anteriores, essa também evolui de acordo com as características individuais, podendo iniciar-se um pouco antes ou um pouco depois do quarto mês.
A partir desta fase, um acompanhamento periódico faz-se necessário somente para o acompanhamento da evolução de peso e levantamento de informações para identificar se existem carências nutricionais como, por exemplo, a anemia.
O paciente já tem bastante segurança na escolha dos alimentos e está apto a compreender quais são os alimentos ricos em proteínas, carboidratos, gorduras, cálcio, ferro, vitamina A, vitamina C, ácido fólico, vitamina B12, além de outras propriedades nutricionais.
Primeira semana de dieta após a cirurgia bariátrica
Tipo de dieta | Líquida restrita (sem lactose, sem sacarose/açúcar) |
Alimentos permitidos | Líquidos, como: água, chá, água de coco, bebida isotônica, suco de gelatina diet, caldo de legumes, sucos de frutas naturais coados. |
Volumes | Começar com 30 ml no início da semana e ir aumentando para 50 ml até o final de 1 semana, a cada 20-30 minutos, enquanto estiver acordado. |
Segunda semana de dieta após a cirurgia bariátrica
Tipo de dieta | Líquida completa. |
Alimentos permitidos | Sopas e caldos liquidificados e coados em peneira fina feitos de caldo da carne sem acrescentar amidos, como: arroz, batata, macarrão, mandioca, mandioquinha, cará, inhame. Leite desnatado, iogurte natural desnatado sem pedaços, mingau ralo, gelatina diet, água de coco, bebida isotônica, sucos coados e diluídos. Suplemento de proteína: albumina (é mais barato, mas alguns pacientes não toleram bem) ou caseinato de cálcio ou whey isolado. Indica-se 1 a 2 colheres de chá 3 vezes ao dia. |
Volumes | 50 ml no início da semana e ir aumentando para 100 ml até o final da semana, de 30 em 30 minutos, enquanto estiver acordado. |
Terceira semana de dieta após a cirurgia bariátrica
Tipo de dieta | Semi líquida |
Alimentos permitidos | Alimentos com a mesma preparação da semana anterior, porém liquidificados, não havendo mais necessidade de coar. Também pode ser utilizado papa infantil industrializada (doces ou salgadas). Leite desnatado, iogurte natural desnatado sem pedaços, mingau ralo, gelatina diet, água de coco, bebida isotônica, sucos diluídos com água. Suplemento de proteína (albumina, whey isolado). |
Volumes | 100 ml a 150 ml cada 30 minutos, enquanto estiver acordado. |
Quarta semana de dieta após a cirurgia bariátrica
Tipo de dieta | Transição da dieta semilíquida para pastosa. |
Alimentos permitidos | Alimentos bem amassados e cozidos, na forma de purê e suflê, como: canja de galinha e cremes de legumes, caldo de feijão, sopa de legumes com carne liquidificada. Leite integral, iogurte natural integral sem pedaços, batida de fruta, mingau, gelatina diet, água de coco, bebida isotônica, sucos não mais diluídos. Manter o suplemento de proteínas. |
Volumes | 100 g a 150 g, de acordo com a tolerância do paciente, que varia conforme a técnica cirúrgica também. |
Fracionamento | 8 a 9 refeições. |
Hidratação | Manter hidratação com água nos intervalos, beber aos goles. |
Cuidado | Risco de fazer uma alimentação mais calórica |
Quinta semana em diante após a cirurgia bariátrica
Tipo de dieta | Transição da dieta para pastosa para alimentação normal. |
Alimentos permitidos | Essa fase é constituída de purês, pastas ou cremes, suflê, feijão, carne moída ou desfiada, ovo cozido, legumes ralados e sem casca. Leite integral, iogurte natural integral sem pedaços de frutas, mingau ralo, gelatina diet, água de coco, bebida isotônica, sucos não mais diluídos com água. Avaliar a necessidade do suplemento de proteínas. |
Volumes | 100 a 180 g |
Fracionamento | 6 a 8 refeições. |
Hidratação | Manter hidratação com água nos intervalos, beber aos goles. |
Cuidado | Atenção na mastigação, velocidade da ingestão dos alimentos e consistência. |