Nutricionista Adriana Lauffer

Dieta para colite e doença de Crohn

dieta para colite

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), principalmente a Retocolite Ulcerativa e a Doença de Crohn, afetam milhões de pessoas em todo o mundo e causam inflamação crônica no trato digestivo. Embora essas condições não possuam cura definitiva, pacientes podem controlar significativamente seus sintomas através de estratégias alimentares específicas. Este post explora como uma dieta adequada pode reduzir inflamações, aliviar desconfortos e melhorar a qualidade de vida de quem convive com essas condições desafiadoras.

Entendendo as doenças inflamatórias intestinais

A retocolite ulcerativa caracteriza-se pela inflamação contínua que afeta a camada mais interna do cólon e do reto, enquanto a doença de Crohn pode atingir qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, afetando todas as camadas do intestino. Ambas as condições manifestam-se através de sintomas como dor abdominal intensa, diarreia frequente, sangramento retal, fadiga e perda de peso inexplicada.

Um fator crucial para o manejo dessas doenças envolve compreender como certos alimentos podem desencadear ou agravar inflamações intestinais. Portanto, adotar uma estratégia alimentar personalizada torna-se essencial para reduzir crises e promover períodos de remissão.

Princípios Gerais da Dieta para DII

Não existe uma dieta única que funcione para todos os pacientes com DII. Porém, alguns princípios fundamentais orientam as recomendações nutricionais. Primeiramente, pacientes devem identificar seus gatilhos alimentares individuais através de um diário alimentar detalhado que relacione consumo e surgimento de sintomas. Além disso, médicos e nutricionistas frequentemente recomendam:

Evite alimentos processados e ultraprocessados

Esses produtos contêm aditivos, conservantes e elevado teor de gorduras saturadas que intensificam processos inflamatórios no organismo. Os alimentos processados costumam conter emulsificante, um ingrediente que altera o revestimento epitelial intestinal piorando inflamação. Portanto, priorize alimentos frescos e naturais sempre que possível. Para saber melhor quais são esses alimentos e as diferenças entre eles, leia mais sobre os alimentos processados e ultra processados.

Reduza o consumo de fibras durante crises

Vegetais fibrosos, cereais integrais e nozes podem irritar um intestino já inflamado. Porém, durante períodos de remissão, o consumo de fibras beneficia a saúde intestinal.

Cuidado com laticínios

Muitos pacientes com DII apresentam intolerância à lactose, o que agrava sintomas gastrointestinais, especialmente em fases de crise. Além disso, alguns indivíduos com DII podem apresentar sensibilidade alimentar à caseína. Por isso, recomenda-se evitar o consumo. Em fases de remissão da doença, prefira as versões desnatadas. Mas, você não se sente bem com o consumo, seja com ou sem lactose, melhor evitar.

Consuma proteínas magras

Frango, peru, peixe e ovos representam fontes proteicas facilmente digeríveis que fornecem nutrientes essenciais sem sobrecarregar o trato gastrointestinal nas fases de crises. Ainda, p consumo frequente e/ou excessivo de carne vermelha é associado à recidiva de colite. Portanto, deve-se evitar especialmente carnes vermelhas ricas em gorduras.

Alimentos com trigo

Frequentemente pioram a inflamação intestinal devido ao glúten. Portanto, pode ser interessante manter um consumo menor no dia a dia, ainda que você não seja celíaco. Além disso, os frutanos e galacto-oligossacarídeos, carboidratos fermentáveis presentes no trigo, podem fermentar e também causar desconfortos abdominais.

Gorduras boas

Consumir gorduras com moderação é recomendável. Além disso, é preferível no dia a dia o consumo das gorduras ditas boas, vindas das oleaginosas, azeite de oliva, abacate, peixes.

Consumo de fibras na colite

Manter consumo adequado de fibras é importante por serem alimentos prebióticos, principalmente os que contenham fibras solúveis. Porém, ao observar maior desconforto, como dor, gases e distensão abdominal, talvez possa ser indicado o protocolo Fodmap. Alguns pacientes com colite podem se beneficiar dessa abordagem, até porque pode haver overlaping de sintomas com síndrome do intestino irritável que tende a ficar sub-diagnosticada, visto que a SII não apresenta alterações clínicas em exames de imagem.

Dieta FODMAP para DII

Os FODMAPs (Fermentable Oligo-, Di-, Mono-saccharides And Polyols) são carboidratos de cadeia curta que fermentam rapidamente no intestino, produzindo gases e atraindo água para o lúmen intestinal. Diversos estudos demonstram que a dieta de baixo FODMAP reduz significativamente sintomas em pacientes com DII.

Dieta de Baixo Resíduo em fases de crise de DII

Durante crises agudas, médicos e nutricionistas frequentemente recomendam a dieta de baixo resíduo, que reduz significativamente a quantidade de fibras e outros componentes alimentares que aumentam o volume fecal. Esta abordagem proporciona repouso intestinal e diminui a frequência de evacuações.

Dieta Mediterrânea

Pesquisas recentes apontam benefícios significativos da dieta mediterrânea para pacientes com DII, pois enfatiza alimentos anti-inflamatórios.

Probiótico na colite

Bactérias benéficas presentes em alimentos fermentados como kefir e kombucha podem melhorar a composição da microbiota intestinal, fortalecendo a barreira intestinal e modulando a resposta imune. No entanto, cada paciente deve introduzir esses alimentos cautelosamente, observando sua tolerância individual.

Pode ser útil usar um suplemento de probiótico para manter uma microbiota intestinal saudável. No entanto, as cepas bacterianas exercem diferentes funções no organismo. Por isso, você precisa escolher o suplemento adequado. Além disso, é preciso avaliar o momento apropriado de iniciar, ou então poderá experienciar desconforto.

Hidratação adequada

Manter-se bem hidratado torna-se essencial para pacientes com DII, particularmente durante episódios de diarreia. Além de água pura, pacientes podem beneficiar-se de bebidas enriquecidas com eletrólitos para repor perdas de sódio e potássio. Por outro lado, devem limitar cafeína, álcool e bebidas carbonatadas, que irritam o trato gastrointestinal e podem desencadear sintomas. Portanto, consuma líquidos suficientes (30 ml/ kg de peso ou 1 ml por kcal consumida).

Planejamento de refeições

Estabeleça uma rotina alimentar com refeições menores e mais frequentes ao longo do dia, em vez de três grandes refeições. Esta estratégia reduz a sobrecarga digestiva e minimiza a probabilidade de desconforto abdominal. Além disso, coma com calma, mastigando bem os alimentos para facilitar o processo digestivo desde o início.

Conclusão

Uma abordagem nutricional personalizada desempenha papel fundamental no manejo das doenças Inflamatórias Intestinais. Embora a dieta não substitua tratamentos medicamentosos, ela complementa significativamente o plano terapêutico e melhora a qualidade de vida.

Converse sempre com sua equipe médica para desenvolver um plano alimentar individualizado que considere suas necessidades específicas, preferências alimentares e estágio da doença. Ao compreender a relação entre alimentação e inflamação intestinal, você assume um papel ativo no controle de sua condição e otimiza seus resultados terapêuticos a longo prazo.

Alimentos e colite em fase ativa/em crise

Na fase ativa da doença existem vários cuidados diferentes para a recuperação. Abaixo você encontra um guia alimentar sobre o assunto:

Referências

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