Nutricionista Adriana Lauffer

É errado querer emagrecer?

é errado querer emagrecer

Recentemente, movimentos como o “body positive” têm incentivado pessoas com excesso de peso corporal a questionarem a necessidade de emagrecer e a procurarem aceitar seus corpos como são. Isso é positivo, porém, tem gerado confusão em algumas pessoas, levando-as a acreditar que é errado desejar emagrecer.

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Grupos com opiniões divididas

Existem opiniões divergentes nesse debate. Há pessoas que discordam desses movimentos e afirmam que estar acima do peso implica em falta de saúde, sem considerar a possibilidade de saúde mesmo com peso elevado. Além disso, acreditam que é impossível gostar de si mesmo estando acima do peso e que não há beleza nisso.

Por outro lado, existem aqueles que reconhecem que magreza não é sinônimo de saúde, felicidade ou sucesso, e que pessoas acima do peso podem ser saudáveis, ter uma alimentação equilibrada e se sentirem bem consigo mesmas, sem que o emagrecimento seja uma meta em suas vidas.

E, há um grupo de pessoas confuso: daqueles que tentam aceitar seus corpos acima do peso e aderir aos movimentos contra a gordofobia, mas não conseguem, pois intimamente ainda desejam emagrecer. Elas se questionam se estão erradas por quererem emagrecer e se isso as torna gordofóbicas. Ao final, a conclusão a que chegam é que, se ainda desejam emagrecer, é porque não se aceitam ou se amam como são, e consideram isso errado.

Essas são as pessoas que perguntam: “É errado querer emagrecer?” Vou compartilhar meu ponto de vista. Na minha opinião, não há nada de errado em querer sentir-se melhor com seu corpo mais magro, desde que:

1. O desejo de emagrecer seja genuíno

O emagrecimento deve fazer sentido para você. Se o desejo de emagrecer surge apenas por influência externa, como ordens médicas, comentários de familiares, comparações com amigos ou a crença de que só será feliz, realizado(a) ou bonito(a) dessa forma, então há um problema. O desejo não é genuíno, mas baseado em fatores externos ou crenças disfuncionais.

Outro fator que influencia essa decisão é a cultura em que vivemos. Costumo perguntar aos pacientes: se você vivesse em um país com uma cultura que não valoriza tanto o peso corporal e a imagem, você ainda desejaria emagrecer? Muitos respondem que não, indicando que o desejo de emagrecer não é genuíno, e por isso eles acabam desistindo facilmente desse projeto. Não há motivação suficiente, pois não faz sentido para eles. Porém, há pacientes que respondem “sim”, indicando que o desejo é genuíno.

2. O emagrecimento for motivado por amor

O emagrecimento deve ocorrer por amor a si mesmo, não por ódio. É comum as pessoas pensarem: “só vou me amar quando eu emagrecer; só vou cuidar da minha aparência quando eu emagrecer; sou gordo

(a) e mereço passar fome para emagrecer”. Com essa mentalidade, o emagrecimento se torna um processo tóxico e provavelmente será de curta duração.

Para que o emagrecimento seja saudável, inclusive em termos de saúde mental, e os resultados sejam duradouros, é importante decidir emagrecer porque você se ama e deseja cuidar de si mesmo. Dessa forma, será mais fácil lidar com momentos difíceis do processo, como a falta de motivação.

3. O emagrecimento seja conduzido com gentileza

Além de ser um desejo genuíno e motivado por amor próprio, o processo deve ser conduzido com gentileza. Emagrecer baseado em restrições severas, exercícios punitivos, metas irreais, autocrítica e autodepreciação também não será produtivo. Lembre-se de quando você era criança e estava na escola: você aprendia melhor com um professor gentil ou um professor agressivo? É comum as pessoas pensarem que, para emagrecer, precisam ser duramente repreendidas e se punirem. Se isso funcionasse, as pessoas já estariam magras.

4. As expectativas sobre os resultados sejam realistas

É importante estabelecer metas factíveis e ter discernimento para entender que nem sempre elas serão atingidas exatamente como planejado. Isso é essencial para que o emagrecimento seja uma decisão saudável. Caso contrário, a pessoa facilmente se sabota, acreditando que não tem capacidade.

Outro aspecto importante é a meta final de peso. Mesmo que você não alcance a meta inicialmente proposta, talvez porque seu corpo não suporte um peso tão baixo, isso não invalida todo o progresso alcançado até então. Pacientes que não reconhecem isso acabam regredindo e recuperando o peso perdido.

5. O objetivo não seja apenas mudar o corpo

Além disso, é preciso ter consciência de que emagrecer não transformará seu corpo em algo semelhante ao de uma modelo ou atriz que você admira. É importante compreender que não podemos mudar nossa estrutura corporal. Se você tem um quadril largo, ele continuará largo; se suas pernas são grossas, elas continuarão assim. Outro ponto de confusão: aceitar nosso corpo como ele é não significa negligenciar os cuidados com ele. É essencial lembrar que nosso corpo é um conjunto e aprender a admirar também as partes que gostamos, em vez de focar apenas nas partes que não gostamos.

Portanto, não há nada de errado em querer emagrecer, desde que a decisão faça sentido para você e que você siga o processo com inteligência emocional e amorosidade.