Você tem dúvidas sobre quais são os sintomas e como é o processo diagnóstico da síndrome do intestino irritável? Tire as suas dúvidas aqui. As informações desse post são traduzidas do artigo científico Guidelines on the management of irritable bowel syndrome, de 2018.
A síndrome do intestino irritável (SII) é uma doença crônica que pertence ao grupo das desordens do eixo cérebro-intestino, formalmente conhecidas como doenças funcionais. Na SII está presente a dor abdominal recorrente associada com defecação, mudança no hábito intestinal ou mudança na consistência das fezes.
Critérios diagnósticos da síndrome do intestino irritável
O diagnóstico da SII é estabelecido pelos Critérios de Roma, um conjunto de diretrizes desenvolvido por renomados pesquisadores internacionais. Esses especialistas se reúnem periodicamente em Roma para atualizar os critérios diagnósticos das desordens funcionais do trato gastrointestinal, levando em consideração os estudos mais recentes realizados.
Nos Critérios de Roma III de 2006, os critérios disgnósticos para SII eram:
- Dor ou desconforto abdominal;
- Alteração do hábito intestinal;
- Alteração do formato das fezes;
- Distensão abdominal;
- Esses sintomas deveriam ocorrer ao menos uma vez por semana nos últimos 3 meses.
Em 2016, os pesquisadores revisaram os critérios de Roma III, resultando na criação dos Critérios de Roma IV. Essa atualização foi realizada com base em novas evidências e conhecimentos científicos para melhorar a precisão do diagnóstico da SII e outras desordens funcionais do trato gastrointestinal. Esta última versão acabou por excluir muitas pessoas do diagnóstico, pois passou a considerar o seguinte:
- Dor abdominal recorrente (foi excluído “desconforto abdominal” por ser considerado muito inespecífico) ao menos uma vez por semana, nos últimos 3 meses,
Associados com duas ou mais características a seguir:
- Relacionada com defecação;
- Associada com mudança na frequência ou
- Com a consistência das fezes.
Então, comparando o atual critério de Roma IV com o critério anterior, vale a pena destacar novamente que “desconforto abdominal” foi desconsiderado, justificado pela falta de especificidade e pela ambiguidade deste termo.
No entanto, em relatórios recentes, acredita-se que a SII deveria ser considerada naqueles pacientes que se queixam de distensão/flatulência, bem como naqueles com uma duração mais curta de sintomas do que o definido pelo critério de Roma IV.
Também vale a pena notar que pacientes com SII geralmente tem outros sintomas, além daqueles que afetam o sistema digestivo. Eles são:
- Sonolência;
- Dores de cabeça;
- Dor lombar;
- Noctúria (urinar muito a noite);
- Frequente e urgente vontade de urinar e,
- Em mulheres, desordens menstruais e dispareunia ou vaginismo (dor na relação sexual).
Esses sintomas não são de importância diagnóstica, entretanto, podem interferir no o quadro clínico da doença e causar dificuldades no diagnóstico.
Como diferenciar os tipos de síndrome do intestino irritável
Para diferenciar a SII entre os seus subtipos (SII tipo diarreia, tipo constipação, tipo alternado e não classificado), a escala de fezes Bristol pode ser utilizada.
A escala ajuda a descrever e identificar o tipo de fezes juntamente com o paciente e, portanto, ajuda o profissional a avaliar os sintomas e o diagnóstico da síndrome do intestino irritável.
A identificação do tipo de SII deve ser feita sem o uso de laxantes ou agentes antidiarreicos, levando em consideração apenas as características das fezes anormais. Isso se deve ao fato de que muitos pacientes com SII apresentam períodos em que as fezes estão bem formadas, e esses períodos não devem ser levados em consideração na diferenciação do tipo de SII que o paciente possui.
De acordo com o critério de Roma IV, a SII tipo diarreia ocorre naqueles pacientes em que:
- Mais de 25% dos movimentos intestinais são do tipo 6 e 7 e
- Menos de 25% dos movimentos intestinais do tipo 1 e 2.
Já a SII tipo constipação é diagnosticada quando:
- Mais de 25% dos movimentos intestinais são do tipo 1 e 2 e
- Menos de 25% dos movimentos são do tipo 6 e 7.
Na prática clínica, para diferenciar entre SII-D e SII-C, é suficiente que o paciente reporte movimentos intestinais anormais usualmente dos tipos 6 e 7 para SII-D e tipos 1 e 2 para SII-D.
SII com movimentos intestinais alternados é usualmente diagnosticada quando o paciente reporta mais de 25% de movimentos dos tipos 6 e 7 e, ao mesmo, tempo mais de 25% de movimentos dos tipos 1 e 2. Entretanto, outros casos são classificados como SII não classificada, e é quando o paciente reporta menos de 25% de movimentos intestinais dos tipos 1 e 2 e do tipo 6 e 7.
Processo diagnóstico e exames básicos
O diagnóstico da SII deve ser precedido por:
- Coleta confiável da história médica;
- Exame físico;
- Solicitação de exames de laboratório necessários (reduzidos ao mínimo);
- Em situações justificadas (descritas adiante), a solicitação de colonoscopia.
Os testes laboratórios básicos para o diagnóstico da SII incluem:
- Hemograma;
- Proteína C reativa, proteína produzida no fígado que costuma estar aumentada quando há algum processo inflamatório acontecendo no organismo);
- Calprotectina fecal, exame de fezes para detectar se há inflamação na mucosa intestinal, em situações que requerem diferenciação entre SII sem constipação versus doença inflamatória intestinal.
Se os parâmetros inflamatórios estão ligeiramente aumentados e a probabilidade de ser colite é baixa, é recomendado repetir os testes de proteína C reativa e calprotectina antes de fazer uma colonoscopia.
Outros exames
Em casos clínicos justificados, o exame de TSH (hormônio da tireóide) é também recomendado. Já os testes sorológicos para doença celíaca, como anticorpos IgA contra transglutaminase tecidual e IgA total, são particularmente recomendados para SII-D e SII alternado, quando não respondem à terapia empírica.
Em casos de níveis elevados da classe de anticorpos anti IgA, é recomendado fazer endoscopia com biópsias do duodeno para avaliação histopatológica para descartar doença celíaca.
Na diferenciação da diarreia, exames de fezes microbiológico e parasitológico podem ser considerados dependendo do quadro clínico.
Quanto à frequente coexistência de SIBO (sigla em inglês para super crescimento bacteriano do intestino delgado) em pacientes com SII, especialmente tipo diarreia predominante e com muita distensão, o teste respiratório para SIBO deve ser incluso no processo diagnóstico.
Em casos justificados, ultrassonografia abdominal pode ser indicada como um complemento do exame físico. Já a colonoscopia e fibrosigmoidoscopia não são recomendadas para pacientes abaixo de 50 anos com suspeita de SII e sem sintomas alarmantes.
Quando é preciso fazer colonoscopia
A colonoscopia é recomendada para pacientes com sintomas alarmantes e sintomas de doenças orgânicas, sendo que os fatores de risco para tais situações são:
- Idade maior que 50 anos;
- História familiar de câncer retal;
- Doença celíaca, doença inflamatória intestinal;
- Tratamento recente com antibióticos;
- Estar em regiões endêmicas para ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias;
- Curta duração dos sintomas;
- Ocorrência dos sintomas a noite;
- Perda de peso não intencional;
- Febre;
- Sangramento vindo do trato gastrointestinal;
- Sangue nas fezes;
- Tumor ou massa abdominal;
- Ascite;
- Anemia;
- Leucocitose.
Não fique desconfiado do seu médico se ele não lhe pedir vários exames e colonoscopia, pois a SII é um distúrbio funcional e não orgânico. Portanto, ela não causa consequências graves como as colites, por exemplo, embora prejudique bastante a qualidade de vida do paciente. A não ser que você realmente apresente um sintoma suspeito ou fator de risco, não é necessário fazer muitos exames. Saiba mais sobre quais são as causas e quem desenvolve a síndrome do intestino irritável.
Fonte: Artigo Guidelines on the management of irritable bowel syndrome, 2018.
Interessado em fazer o protocolo Fodmap?
Aqui abaixo você encontra uma Lista de alimentos low Fodmap em português, confiável, baseada nas orientações da Universidade de Monash, bem como um Livro de receitas low Fodmap e uma sugestão de cardápio low Fodmap para que você consiga fazer a fase de exclusão do protocolo mantendo uma alimentação equilibrada, adequada em fibras e variada, mesmo sem orientação profissional.
Para os passos seguintes do protocolo é preciso de um profissional experiente para orientar como fazer os testes, para interpretá-los e sobre como personalizar a sua alimentação. Lembre-se que não é indicado manter a fase de exclusão da dieta de exclusão por mais que 6 semanas. Além disso, o acompanhamento profissional é importante porque parte dos pacientes possuem outras condições clínicas associadas que o protocolo não resolverá por completo e, portanto, necessita de condutas adicionais.