Nutricionista Adriana Lauffer

Gases intestinais: causas, alimentos que provocam e como aliviar

alimentos que dão gases

Os gases intestinais representam uma reação natural do organismo. Contudo, quando ocorrem em excesso, podem indicar desequilíbrios digestivos e comprometer significativamente a qualidade de vida, causando desconforto, estufamento e dor abdominal. Felizmente, a maioria dos casos relaciona-se diretamente com hábitos alimentares e comportamentais, permitindo que ajustes simples no cotidiano aliviem os sintomas de forma eficaz.

Quais são as causas mais comuns da flatulência?

Existem várias razões que explicam o excesso de gases, sendo que as mais frequentes incluem:

  • Engolir ar ao comer rápido ou conversar durante a refeição;
  • Fermentação de certos alimentos durante a digestão;
  • Má digestão por baixa produção de enzimas digestivas (hipocloridria);
  • Desequilíbrio da microbiota intestinal, conhecido como disbiose.

Alimentos que causam gases intestinais

Alguns alimentos são mais fermentáveis ou difíceis de digerir, o que favorece a formação de gases.

Alimentos ricos em oligossacarídeos

Alimentos ricos em oligossacarídeos, como especialmente as leguminosas, podem causar gases. Esses alimentos são: feijões, lentilha, grão de bico, ervilhas, fava. Para pacientes com síndrome do intestino irritável pode ser necessária uma redução drástica desses alimentos. Para outros, fazer o remolho das leguminosas corretamente costuma ser o suficiente.

Alimentos ricos em enxofre

Os vegetais crucíferos são ricos em enxofre, que também contribuem para o odor mais forte dos gases. Esses alimentos são: brócolis, couve, couve-flor, repolho, nabo, rabanete.

Alimentos ricos em frutanos

Alimentos como alho, cebola, pimentão verde e amarelo, podem causar gases por serem ricos em frutanos.

Precisa cortar todos esses alimentos?

Nem todos os alimentos listados causam desconforto em todas as pessoas. Consequentemente, recomendamos manter um diário alimentar detalhado por pelo menos duas semanas. Neste registro, anote:

  • Horário e composição das refeições
  • Sintomas apresentados (intensidade e duração)
  • Tempo entre alimentação e aparecimento dos sintomas

Essa estratégia permite identificar padrões individuais e personalizar as restrições alimentares de acordo com sua tolerância específica.

Como reduzir os gases intestinais no dia a dia?

Algumas dicas práticas que funcionam muito bem:

  1. Reduza a combinação de alimentos fermentáveis: evite refeições com muitos alimentos que causam gases de uma só vez. Exemplo não ideal: arroz, feijão preto, carne, brócolis, couve-flor, cebola. Exemplo melhor: arroz, lentilha, carne, brócolis, tomate, alface.
  2. Coma devagar e mastigue bem: isso facilita a digestão e evita engolir ar.
  3. Evite falar muito durante as refeições para não engolir ar.
  4. Evite bebidas com gás nas refeições: refrigerantes e água com gás aumentam a distensão abdominal.
  5. Experimente chás digestivos: chás como erva-doce e funcho podem ajudar a aliviar o desconforto — mas atenção: nem sempre são bem tolerados por quem tem síndrome do intestino irritável (SII).

Quando procurar ajuda profissional?

Procure avaliação médica ou nutricional quando os sintomas persistirem após modificações dietéticas por mais de 4 semanas. Nestes casos, investigações adicionais podem identificar:

Nesse caso, um acompanhamento com nutricionista funcional pode ser essencial para tratar a causa e não apenas os sintomas.

Conclusão

Controlar gases intestinais torna-se viável através de mudanças estratégicas na alimentação e nos hábitos diários. Todavia, o autoconhecimento representa o primeiro passo fundamental neste processo. Com paciência para observar as reações individuais e, quando necessário, suporte profissional adequado, é possível conquistar maior conforto digestivo e melhor qualidade de vida.

Lembre-se: cada organismo responde de forma única aos alimentos. Portanto, personalize suas estratégias baseando-se em evidências científicas sólidas e na observação cuidadosa de suas próprias reações corporais.

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