Nutricionista Adriana Lauffer

Pós-biótico butirato e síndrome do intestino irritável

Pós biótico butirato e síndrome do intestino irritável

Você já ouviu falar em pós-biótico? É algo relativamente novo e bastante promissor para o tratamento de distúrbios gastrointestinais de forma geral e outros problemas de saúde. Nesse post vou falar sobre o pós-biótico butirato e também sobre o seu efeito, mais especificamente na SII.

Prefere assistir ao vídeo desse post? São as mesmas informações!

O que é o pós biótico?

Sabemos que existem:

1) Os pró-bióticos, que são alimentos ou suplementos fontes de bactérias vivas benéficas para a saúde,

2) Os pré-bióticos, que são as fibras das quais essas bactérias fermentam e se alimentam,

3) Os simbióticos, os suplementos produtos ou alimentos que contêm os 2 juntos,

4) Os parabióticos, suplementos das bactérias pró-bióticas na sua versão inativada e, então, mais recentemente, os ditos…

5) Os pós-bióticos, que são o produto resultante da fermentação das bactérias pró-bióticas sobre as fibras pré-bióticas.

Quando as bactérias pró-bióticas fermentam as fibras pré-bióticas, elas produzem gases. Esses gases contêm ácidos graxos de cadeia curta, como ácido butírico, acético e propiônico. Esses 3 são os principais por serem os mais abundantes. O ácido butírico, ou butirato, é o pós-biótico.

As células epiteliais do cólon preferencialmente utilizam esses ácidos como fonte de energia, sendo rapidamente absorvidos pelo epitélio do trato gastrointestinal. Uma dieta adequada balanceada, rica em pro bióticos, pré-bióticos e fibras de maneira geral são o contexto alimentar ideal para a produção de butirato.

O ácido butírico endógeno é produzido pelo corpo por meio da fermentação bacteriana de carboidratos não digeríveis. Alguns exemplos deles seriam os polissacarídeos, amido resistente, oligossacarídeos (inulina e oligofrutose), lactose, pólios – praticamente os mesmos carboidratos da dieta Fodmap. Contudo, o amido resistente tem sido particularmente associado a uma boa produção de ácido butírico. Esse amido se encontra naturalmente em grãos moídos, batatas, banana verde e vários vegetais.

No entanto, a alimentação geral das pessoas contém um alto consumo de alimentos processados, pobres em fibras, ricos em açúcares simples. Tal fato resulta numa baixa produção de ácido butírico no lúmen intestinal. Portanto, a suplementação de butirato representa uma boa alternativa para garantir a ingestão diária.

Suplementação de pós biótico

Porém, o ácido butírico puro, na forma de suplemento, possui um odor muito ruim, o que o torna de difícil manuseio. Além disso, a cápsula se abre no estômago e o butirato é de fácil absorção na parte superior do trato gastrointestinal e, então, acaba por ter uma ação reduzida no cólon. Essas características limitam um pouco o uso do suplemento de ácido butírico puro na prática clínica. Por isso, a indústria farmacêutica tem desenvolvido recentemente diversos suplementos nos quais o ácido butírico é encapsulado, permitindo sua liberação retardada durante o trânsito no trato gastrointestinal.Dessa forma, há maior chance de alcançar o intestino e lá exercer a suas funções.

Considerando os potenciais fatores fisiopatológicos envolvidos na etiologia da SII, que incluem a relação cérebro-intestino (ou eixo cérebro intestino), hipersensibilidade visceral, anormalidades na motilidade, inflamação intestinal, distúrbios intestinais pós infecção, alteração da microbiota e permeabilidade intestinal, vamos ver então de forma resumida os possíveis mecanismos de ação do butirato e como ele pode ser útil no tratamento da SII.

Mecanismos de ação do pós-biótico para síndrome do intestino irritável

O pós biótico (butirato) influencia diretamente o funcionamento e saúde do trato gastrointestinal. Por exemplo:

  • A presença no intestino de bactérias que produzem butirato suprime a ação de bactérias danosas, como escherichia e salmonela.
  • Ele também possui uma função no tratamento de infecções intestinais que, resumidamente, diminuem infiltrado de células inflamatórias (achado comum em biópsias de colonoscopia), e diminuindo quantidade de sangue ou muco nas fezes, comum em colites e SII, respectivamente.
  • O butirato está envolvido na regulação da absorção de água pelas células do intestino, por isso possui uma ação importante no controle ou recuperação de diarreia.
  • Tem efeito trófico das células intestinais, ou seja, as alimenta, as nutre e, por isso, estudos mostraram que ele pode contribuir para alongar as vilosidades intestinais (vilosidades achatadas é um dos achados em biópsias de celíacos), e que são importantes para absorção dos nutrientes.
  • Ele também tem se mostrado como um potente anti-inflamatório e imunorregulador no epitélio intestinal. Ele mostrou reduzir a ação de citocinas pro inflamatórias, como interleucina 8 e TNFalfa, cujas contribuem para o aumento da permeabilidade intestinal, o começo para o desenvolvimento das sensibilidades e alergias alimentares. Tal fato é bem documentado na literatura.
  • Em ratos, a administração de ácido butírico durante uma fase aguda de colite induzida atenuou vários marcadores de inflamação em exames, o que tem sido observado também em colite ulcerativa.
  • O alívio da dor abdominal parece ser um aspecto bem importante em termos de resultado desses estudos, onde o butirato tem seu provável efeito benéfico influenciando positivamente a hipersensibilidade visceral e melhorando o peristaltismo intestinal.

Por tudo isso que o butirato pode representar, junto com outras abordagens, mais uma possibilidade de tratamento para os sintomas.

Estudos com pós-bióticos

Até o momento, pesquisadores realizaram alguns estudos para avaliar a ação do butirato nos sintomas clínicos da SII e na qualidade de vida desses pacientes.

Em um desses estudos, um grupo de pacientes recebeu 300 mg de micro encapsulado e o outro grupo recebeu placebo. Depois de 4 semanas, o grupo de tratamento teve melhora significativa da dor abdominal durante a defecação. Após 12 semanas houve melhora significativa da dor abdominal e do desconforto após comer, e da urgência para defecar. Outros estudos detectaram além disso: detectaram também melhora do desconforto abdominal, do ritmo de evacuação, e, claro, melhora da qualidade de vida.

É importante mencionar que esses estudos não observaram nenhum efeito colateral, confirmando assim a segurança do ácido butírico para adultos. No entanto, é importante ressaltar que ainda não foram realizados testes em crianças e adolescentes.

Bem, o uso do butirato é bastante promissor, eu já tenho utilizado ele na minha prática clínica e com resultados bem interessantes. Ainda assim, não suplemente por conta, pois como você pode ver, não é qualquer butirato, e jamais interrompa o seu tratamento médico para usar apenas pos biótico. Lembre-se que a recuperação da saúde vem de um conjunto de ações.

Fonte de pesquisa: Butyric acid in irritable bowel syndrome

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Mas, lembre-se: não é indicado manter a fase de exclusão da dieta de exclusão por mais que 6 semanas e, além disso, o acompanhamento profissional é importante porque parte dos pacientes possuem outras condições clínicas associadas que o protocolo não resolverá por completo e, portanto, necessita de condutas adicionais.