Nutricionista Adriana Lauffer

Óleo de hortelã-pimenta: um aliado natural contra a Síndrome do Intestino Irritável

suplemento de óleo de hortelã pimenta

A busca por tratamentos naturais para condições de saúde tem ganhado força nos últimos anos. Particularmente, o óleo de hortelã-pimenta destaca-se como uma opção promissora para quem sofre com a Síndrome do Intestino Irritável (SII). Vamos explorar por que este remédio natural merece sua atenção e como ele pode ajudar a aliviar os sintomas desconfortáveis dessa condição que afeta milhões de pessoas.

Origem do óleo de hortelã-pimenta

Extraído da Mentha × piperita, o óleo de hortelã-pimenta concentra compostos bioativos presentes nas folhas da planta. Seu aroma refrescante é facilmente reconhecível, e diversas culturas aproveitam seus benefícios medicinais há séculos. Através do processo de extração, obtemos um produto terapêutico potente que preserva as propriedades naturais da planta.

Uso de hortelã pimenta no tratamento da SII

A SII é uma condição que afeta o trato gastrointestinal, causando sintomas como dor abdominal, inchaço, flatulência e alterações nos hábitos intestinais. O óleo de hortelã-pimenta age como um antiespasmódico, relaxando os músculos do trato gastrointestinal. Uma meta-análise publicada no British Medical Journal em 2008 avaliou 12 estudos randomizados controlados e concluiu que o óleo de hortelã-pimenta mostrou-se significativamente superior ao placebo na redução dos sintomas da SII, com um número necessário para tratar (NNT) de 2,5.

Além disso, um estudo clínico de 2019 publicado na revista Digestive Diseases and Sciences demonstrou que 75% dos pacientes com SII relataram melhora significativa dos sintomas após 4 semanas de tratamento com cápsulas de óleo de hortelã-pimenta, comparado a apenas 38% no grupo placebo. Portanto, as evidências sugerem que este óleo pode ser uma opção eficaz para muitos pacientes, especialmente aqueles com SII com predominância de dor e distensão abdominal.

Como utilizar o óleo de hortelã-pimenta

Existem várias formas de aproveitar os benefícios do óleo de hortelã-pimenta, sendo que cada método apresenta eficácia e indicações específicas:

  1. Cápsulas de liberação entérica: esta é a forma mais estudada e recomendada para SII. As cápsulas são revestidas para resistir ao ácido estomacal, liberando o óleo apenas no intestino onde é necessário. A dosagem típica recomendada é de 0,2-0,4 ml (180-200 mg) três vezes ao dia, 30 minutos antes das refeições. O tratamento geralmente dura de 2 a 12 semanas, conforme orientação médica.
  2. Aplicação tópica: para dor abdominal localizada, o óleo pode ser diluído a 2-5% em um óleo transportador (como óleo de coco ou azeite) e aplicado externamente sobre o abdômen. No entanto, esta forma tem evidências limitadas comparadas às cápsulas.
  3. Chá de hortelã-pimenta: embora menos potente que o óleo, o chá pode oferecer alívio leve e é seguro para uso regular. Tipicamente, recomenda-se uma xícara (240 ml) 2-3 vezes ao dia.

É crucial ressaltar que não se deve ingerir óleo essencial puro de hortelã-pimenta. Os óleos essenciais são extremamente concentrados e podem ser tóxicos quando ingeridos diretamente. Para uso interno, utilize apenas produtos especificamente formulados para consumo, como as cápsulas de liberação entérica.

Como o óleo de hortelã-pimenta age no corpo

O principal ingrediente ativo do óleo de hortelã-pimenta é o L-mentol, que constitui aproximadamente 35-50% de sua composição. Este composto atua por vários mecanismos:

  • Antagonismo dos canais de cálcio: O L-mentol bloqueia os canais de cálcio nos músculos lisos intestinais, reduzindo contrações e espasmos. Este efeito é semelhante a alguns medicamentos antiespasmódicos convencionais, porém por um mecanismo natural.
  • Ativação de receptores TRPM8: pesquisas recentes demonstram que o mentol ativa receptores específicos nas terminações nervosas, produzindo um efeito analgésico que ajuda a diminuir a dor visceral característica da SII.
  • Efeitos antimicrobianos: o óleo também possui propriedades que podem modular a microbiota intestinal, o que pode ser particularmente relevante em casos onde há supercrescimento bacteriano associado à SII.

Além do L-mentol, outros compostos presentes no óleo, como mentona (10-30%) e acetato de mentila (3-10%), contribuem sinergicamente para seus efeitos terapêuticos através de mecanismos anti-inflamatórios e antioxidantes.

Chá vs. Óleo

Muitos se perguntam se o chá de hortelã-pimenta possui os mesmos benefícios que o óleo. Embora o chá possa oferecer alguns benefícios suaves, seja acessível e seguro para consumo regular, o óleo extraído é mais concentrado e, portanto, pode ter efeitos mais potentes.

Comparação com outros tratamentos para SII

Quando comparado a outros tratamentos para SII, o óleo de hortelã-pimenta apresenta algumas vantagens e limitações importantes:

  • Versus antiespasmódicos convencionais (como diciclomina, hioscina): o óleo de hortelã-pimenta demonstrou eficácia similar em alguns estudos, mas com menos efeitos colaterais como boca seca, visão turva e constipação.
  • Versus antidepressivos tricíclicos e ISRS (usados em baixas doses para SII): estes medicamentos tendem ser mais eficazes para pacientes com componentes de ansiedade e depressão associados à SII, mas também apresentam mais efeitos colaterais.
  • Versus modificações dietéticas (como dieta baixa em FODMAPs): as modificações dietéticas constituem uma abordagem complementar ao óleo de hortelã-pimenta, não uma alternativa. Muitos pacientes se beneficiam da combinação de ambas as estratégias.
  • Versus probióticos: alguns estudos sugerem que a combinação de óleo de hortelã-pimenta com probióticos específicos pode oferecer benefícios superiores ao uso isolado de qualquer uma das intervenções.

Efeitos colaterais do óleo de hortelã-pimenta

Embora seja geralmente seguro para a maioria das pessoas quando usado conforme recomendado, o óleo de hortelã-pimenta pode causar alguns efeitos colaterais, que incluem:

  • Sensação de queimação perianal (10-30% dos usuários)
  • Azia ou refluxo ácido (especialmente em pessoas predispostas)
  • Reações alérgicas (raras, mas possíveis)
  • Dor de cabeça ou tontura (em casos isolados)

Para minimizar estes efeitos, recomenda-se iniciar com doses mais baixas e aumentar gradualmente, além de utilizar sempre cápsulas de liberação entérica para uso interno.

Contraindicações

O óleo de hortelã-pimenta possui algumas contraindicações importantes e não deve ser usado por:

  • Crianças menores de 8 anos (as formulações e dosagens são diferentes)
  • Pessoas com doenças do fígado ou vesícula biliar
  • Indivíduos com cálculos biliares ou obstrução das vias biliares
  • Pessoas com refluxo gastroesofágico severo
  • Pacientes com arritmias cardíacas ou problemas cardíacos graves
  • Mulheres grávidas ou amamentando (devido à falta de estudos de segurança adequados)

Conclusão

O óleo de hortelã-pimenta representa uma opção terapêutica promissora e baseada em evidências para o manejo dos sintomas da SII, particularmente quando administrado na forma de cápsulas de liberação entérica. Sua eficácia, perfil de segurança favorável e mecanismo de ação bem estudado o tornam uma alternativa ou complemento viável aos tratamentos convencionais.

No entanto, como qualquer intervenção terapêutica, deve ser utilizado com conhecimento, nas dosagens corretas e preferencialmente sob orientação de um profissional de saúde. Ademais, é importante lembrar que o manejo adequado da SII frequentemente requer uma abordagem multifacetada, que pode incluir modificações dietéticas, gestão de estresse e, em alguns casos, medicamentos convencionais.

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Mas, lembre-se: não é indicado manter a fase de exclusão da dieta de exclusão por mais que 6 semanas e, além disso, o acompanhamento profissional é importante porque parte dos pacientes possuem outras condições clínicas associadas que o protocolo não resolverá por completo e, portanto, necessita de condutas adicionais.

Referências

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