Existem diversos medicamentos para síndrome do intestino irritável (SII). Alguns são indicados para SII de maneira geral, e outros são mais específicos para cada subtipo de SII. Vamos ver mais sobre isso?
Medicamentos para todos os tipos de SII
Antiespasmódicos
Drogas antiespasmódicas são um grande e heterogêneo grupo de medicamentos, com diversos mecanismos de ação, e são relativamente seguras. A principal ação é diminuir a motilidade (movimentos) ou espasmos dos músculos dos intestinos.
Espasmos são contrações musculares involuntárias geralmente acompanhadas de dor localizada. É como uma cãibra muscular acompanhada de uma dor súbita no região. Os principais efeitos colaterais dos antiespasmódicos são boca seca, tontura e visão borrada. Eles não causam consequências graves após o seu uso, mas podem piorar sintomas de refluxo em quem tem.
São os mais conhecidos: simeticona, metilbrometo (Dimetiliv), trimebutina (Digedrat), mebeverina (Duspatalin), brometo de otilônio (Lonium).
O brometo de pinavério (Siilif) não é antiespasmódico. Ele serve para tratar o sintoma de dor, distúrbios do trânsito e desconforto intestinal relacionados aos distúrbios intestinais funcionais.
Medicamentos apenas para SII tipo diarreia
Loperamida
Até 2018, apenas 3 estudos randomizados tinham sido publicados para avaliar a eficácia da loperamida no tratamento da SII tipo diarreia, e eram todos do século passado. Num estudo com 171 pacientes (amostra pequena), a eficácia do medicamento não foi demonstrada no alívio dos sintomas gerais. No entanto, em todos os estudos ele melhorou significativamente a diarreia. Portanto, para essa situação, especificamente, o medicamento pode ser utilizado.
Mesalazina
Vários estudos já foram realizados para avaliar o efeito desse medicamento, somando um total de 484 pacientes com SII. Em todos eles foi provado que a mesalazina não é melhor do que no grupo placebo para reduzir os sintomas, inclusive em pacientes com SII tipo diarreia ou pós infecção. Então, não se recomenda o uso dele para tratar SII.
Alosetron
É um receptor antagonista seletivo da 5-HT3. Ele inibe a secreção e motilidade do cólon, através de mecanismos periféricos e centrais. Por isso, reduz o nível de sensação visceral trazendo melhora da diarreia em pacientes com SII. Devido aos seus sérios efeitos colaterais (como constipação severa e isquemia colônica aguda), foi temporariamente tirado de circulação.
Após alguns anos, esse medicamento voltou ao mercado com diversas limitações e indicações para o uso. Atualmente, com a devida consciência dos seus sérios efeitos colaterais, é recomendado “apenas em mulheres com SII tipo diarreia severa, que causa sua exclusão da vida”. Apenas mulheres porque de todos os estudos realizados com alosetron, apenas um foi exclusivamente em homens.
Se com uso ocorrer constipação, o medicamento deve ser descontinuado até que ela desapareça. Depois, pode ser reintroduzido com dose reduzida 1 vez ao dia. Se os sintomas não forem suficientemente controlados após 4 semanas de uso, a dose pode ser aumentada. Mas, se os sintomas não desaparecerem após 4 semanas de uso, a medicação deve ser abandonada.
Medicamentos usados para SII tipo diarreia, tipo não-especificado e tipo alternado
Rifaximina
Foi encontrado efeito significativo na melhora dos sintomas com o uso do medicamento rifaximina. Em relação à distensão, a melhora foi especialmente notada entre mulheres e pessoas mais velhas. Também foi observado um efeito dose-dependente.
Rifaximina é o único eubiótico conhecido que restaura a composição normal da microbiota por mecanismos diretos e indiretos, modulando a microbiota intestinal. Ele não afeta a composição geral da microbiota, mas age especialmente nas bactérias danosas, como Clostridium, Peptostreptococcaceae e Escherichia.
O tratamento por 14 dias aumenta o número de bactérias como Bifidobacterium, Lactobacillus e bactérias com propriedades anti-inflamatória, como Faecalibacterium prausnitzii.
Rifaximina tem uma atividade anti-inflamatória, imunomoduladora (estímulo de citocinas anti-inflamatórias e inibição das pró-inflamatórias). Por isso, reduz a permeabilidade patológica entre os enterócitos e restaura a junção entre as células da barreira intestinal para normalizar a permeabilidade.
Todos esses mecanismos desempenham um papel importante no tratamento da SII, devido às causas da síndrome. É importante lembrar que tudo isso os probióticos também fazem pelo intestino, provavelmente num ritmo mais lento, afinal, é um suplemento e não um medicamento.
Outros casos em que também é recomendado usando rifaximina:
- Nos casos de SII pós infecção;
- SII com SIBO (supercrescimento bacteriano intestinal, com teste respiratório positivo);
- Síndromes sobrepostas.
Esse medicamento não é absorvido pelo trato gastrointestinal. A segurança da droga é comparada ao grupo placebo, sem efeitos colaterais significativos observados, também não gera resistência, nem à rifaximina nem a outros antibióticos.
Medicamentos usados apenas para SII tipo constipação
Macrogóis
São substâncias osmoticamente ativas que não são absorvidas pelo trato digestivo. São, sem dúvida, efetivos como laxantes, tanto é que são o medicamento para o preparo do exame de colonoscopia.
No entanto, na SII tipo constipação, a eficácia deles não tem sido comprovada. Embora tenha sido demonstrado um aumento no número de movimentos intestinais, esse número foi similar ao grupo controle. Além disso, a severidade dos sintomas também não diferiu entre os pacientes com SII e o grupo placebo. Fica difícil de entender esse resultado, considerando o efeito laxante forte que esse medicamento tem.
Possivelmente esse resultado está relacionado ao perfil desse grupo de pacientes com SII. Em 2017 foi realizado um estudo enorme com 878 pacientes com diferentes tipos funcionais de constipação, sendo que 31% deles eram pacientes com SII.
Aconteceu que os pacientes com SII tinham significativamente sintomas mais severos, uma pior qualidade de vida, e mais sintomas de outras desordens funcionais (como dispepsia, refluxo, depressão e raiva).
Tinham, também, mais consultas com especialistas (além de gastroenterologistas, também ginecologistas, proctologistas, ginecologistas), e mais exames (incluindo exames menos solicitados como manometria e defecografia) do que os demais pacientes com constipação.
Possivelmente, os pacientes com SII tipo constipação exigem maior demanda em termos de manejo. E mesmo com redução da intensidade de um sintoma, como a constipação, isso não representa uma melhora que seja perceptível para ele. Possivelmente, também, pode ser interessante avaliar aspectos emocionais comuns na SII que podem estar presente nesse paciente que não responde ao tratamento.
No entanto, o macrogol, devido ao seu efeito redutor da severidade da constipação, permanece como uma alternativa para esses pacientes. Ele é dose-dependente, utilizado via oral, não tem odor nem sabor. Age de forma local no intestino, fazendo as fezes reterem mais água, deixando-as, dessa forma, mais amolecidas e maiores.
Dieta como tratamento
No consultório eu atendo bastante pacientes com SII. 80% deles são do tipo diarreia, pois é bem mais comum, e eles costumam responder super bem ao tratamento dietético. Já os pacientes com SII tipo constipação, realmente, são mais difíceis de tratar.
Com o tratamento dietético eles costumam melhorar de todos os sintomas, como gases, distensão, dor, menos da constipação, infelizmente. Como é realmente bastante desconfortável não conseguir evacuar, o paciente acaba não conseguindo valorizar os demais aspectos que melhoraram com o tratamento.
Considerando a minha experiência como nutricionista especialista em gastroenterologia, e que atende bastante pacientes com SII, eu desconheço pacientes que tenham tido melhora significativa com os medicamentos. Acredito a melhora dos sintomas seja em média de no máximo 20%.
Nunca ouvi um relato de melhora como a melhora atingida através do tratamento dietético, com a dieta Fodmap. Sei que sou suspeita para falar, mas é verdade. Você que tem SII e já usou medicamentos deve estar concordando comigo.
Fonte das informações: artigo científico Guidelines on the management of irritable bowel syndrome, 2018.
Interessado em fazer o protocolo Fodmap?
Aqui abaixo você encontra uma Lista de alimentos low Fodmap em português, confiável, baseada nas orientações da Universidade de Monash, bem como um Livro de receitas low Fodmap e uma sugestão de cardápio low Fodmap para que você consiga fazer a fase de exclusão do protocolo mantendo uma alimentação equilibrada, adequada em fibras e variada, mesmo sem orientação profissional. Para os passos seguintes do protocolo é preciso de um profissional experiente para orientar como fazer os testes, para interpretá-los e sobre como personalizar a sua alimentação. Lembre-se que não é indicado manter a fase de exclusão da dieta de exclusão por mais que 6 semanas. Além disso, o acompanhamento profissional é importante porque parte dos pacientes possuem outras condições clínicas associadas que o protocolo não resolverá por completo e, portanto, necessita de condutas adicionais.