A infecção por Helicobacter pylori (H. pylori) é difícil de erradicar. Por isso, é necessário combinar vários antibióticos, bem como administrar um inibidor da bomba de prótons (Omeprazol) para proteger o estômago. No entanto, muitos alimentos e extratos vegetais já demonstraram atividade antibacteriana, inclusive contra o H pylori, in vitro.
Embora in vivo eles sejam menos eficazes, ainda assim, eles podem ajudar a prevenir a contaminação ou re-contaminação pela H. pylori. Por isso, acredita-se que, segundo estudos científicos, uma dieta preventiva pode ser uma alternativa para aqueles pacientes que se infectam repetidamente e com maior tendência à gastrite e úlceras, por exemplo. Até mesmo uma alternativa mais acessível para pacientes que vivem em áreas com sistema de saúde deficiente e sem os efeitos colaterais do que os antibióticos usados no tratamento.
H. pylori é sensível a vários antibióticos, ou seja, claritromicina, amoxicilina, metronidazol e tetraciclina. No entanto, sozinhos estes antibióticos não podem conseguem o microorganismo, inclusive devido ao aumento da resistência aos antibióticos. Além disso, a eficácia de uma terapia em particular pode variar devido ao comprometimento do paciente, idade, diretrizes locais de antibióticos, alimentação e higiene.
Por isso, alguns pesquisadores têm se dedicado a estudar o efeito anti viral de alguns alimentos ou extratos vegetais. Veja como alguns alimentos e ativos podem ajudar a erradicar a bactéria H. pylori:
Cranberry
Estudos já têm demonstrado a eficácia do suco de cranberry para tratar e prevenir infecção urinária, muito comum em mulheres. Desde então, o consumo dele tem sido cada vez mais recomendado em conjunto a esses tratamento. Assim como o suco de cranberry já demonstrou ser eficiente em combater infecção urinária, já demonstrou também ser capaz de atenuar a infecção por H pylori. Isso de deve à sua capacidade de evitar a adesão do vírus ao hospedeiro. Essa característica bacteriostática do cranberry é atribuída à uma substância chamada proantocianidinas, e também por ser fonte de vitamina C.
Outros mecanismos celulares têm sido atribuídos como responsáveis pela ação inibitória das cranberries contra o H pylori. São eles: adesão celular; formação de biofilme bloqueador; atividade anti oxidante e anti carcinogênica; supressão da proliferação do vírus; inibição de urease; inibição da adesão do H pylori no muco gástrico de humanos e até mesmo efeito citotóxico contra o germe.
Estudos com humanos demonstraram resultados positivos e significativos no tratamento do H pylori utilizando suco de cranberry. Quase uma década atrás, os pesquisadores testaram as cranberries em combinação com os antibióticos tradicionais, como metronidazol e claritromicina. Ela se mostrou efetiva na melhora da erradicação e supressão das infecções em populações endêmicas. Mas, poucos estudos têm avaliado o possível efeito benéfico do cranberry na cura da infecção. No entanto, alguns pesquisadores, baseado em estudos randomizados e duplo cegos com centenas de indivíduos, sugerem que a inclusão de suco de cranberry no protocolo terapêutico padrão pode melhorar os índices de erradicação da bactéria em mulheres e em crianças.
Alho
O alho possui ação antioxidante bem estabelecida, devido aos seus compostos organossulfurados. Esses compostos são solúveis em água e impedem dano oxidativo celular pela eliminação de radicais livres. O alho também possui uma ampla gama de tiossulfinatos, ou seja, alicina, substância que acredita-se ser responsável pela atividade antibacteriana do alho. Nesse sentido, diversos estudos têm provado que menor é o risco de câncer gástrico quanto maior é o consumo de vegetais como o alho, possivelmente pela influência positiva no H. pylori.
Curcumina
A curcumina, que é geralmente considerada como o ativo mais potente da cúrcuma utilizada como tempero, foi identificada quimicamente pela primeira vez em 1910. Estudos in vivo e in vitro têm investigado extensivamente suas propriedades anti-inflamatórias, antimutagênicas, antioxidantes e anti-infecciosas. Por essas razões, a curcumina tem sido utilizada no tratamento de úlceras pépticas e na prevenção do crescimento do H pylori.
Lactoferrina
A lactoferrina humana é uma glicoproteína da família transferrina, um peptídeo natural com grande potencial para prevenir morbidades, especialmente as gastrintestinais. Isso é devido à atividade antimicrobiana, de estímulo à proliferação celular, anti-inflamatória e de favorecimento do crescimento da flora bífida. Está presente no leite materno e no leite de vaca, nos grânulos dos neutrófilos, na saliva e nas lágrimas. É um elemento de imunidade não específica.
Em estudos com ratos, a lactoferrina diminuiu a colonização bacteriana e reduziu a gastrite por H. pylori. Ela quela íons de ferro e, por isso, limita a disponibilidade deste elemento para as bactérias. Além disso, a lactoferrina parece exibir efeito sinérgico com o antibiótico por facilitar a penetração dele pela membrana celular bacteriana.
Sulforafano
O sulforafano, que também exibe atividade bactericida in vitro contra H. pylori, incluindo cepas resistentes à claritromicina, é encontrado em maiores concentrações em brócolis e seus brotos, na forma de um precursor chamado glucorafanina. Em um estudo envolvendo pacientes assintomáticos com confirmação de infecção por H. pylori, foi recomendado o consumo diário de 70 g de broto de brócolis (contendo 420 µmol de glucorafanina). Como resultado, foi observada uma diminuição significativa da intensidade de colonização, avaliada por meio do teste respiratório da ureia e do teste de antígeno H. pylori nas fezes. Essa terapia foi bem tolerada e não foram relatados efeitos adversos associados ao consumo de brotos de brócolis.
Derivados fenólicos
Muitas frutas exibem atividade bacteriostática in vitro contra H. pylori. Acredita-se que a atividade antibacteriana dos extratos de frutas resulte de seu conteúdo rico em derivados fenólicos. O extrato de mirtilo exibe atividade in vitro, reduzindo a adesão de H. pylori à mucosa, eritrócitos e cultura de células epiteliais gástricas. Os extratos de framboesa, morango, amora preta e mirtilo demonstram potente atividade bacteriostática contra cepas de H. pylori resistentes à claritromicina. Um estudo prospectivo duplo-cego randomizado envolvendo 189 adultos com infecção por H. pylori orientou que os pacientes bebessem 250 ml de suco de mirtilo durante um período de 90 dias. Em 14,46% dos pacientes, o teste respiratório da ureia foi negativo no 35º dia. O efeito supracitado também se manteve no 90º dia.
Mel
A atividade antibacteriana do mel é atribuível, dentre outras razões, à sua alta osmolaridade, baixo pH e baixo teor de peróxido de hidrogênio. Alguns tipos de mel, como o da árvore de carvalho e mel de manuka, exibem potente atividade bacteriostática in vitro contra H. pylori e inibem a atividade da urease. Um estudo avaliou os hábitos alimentares de 150 pacientes com dispepsia e constatou que a ingestão de mel pelo menos uma vez por semana estava associada a uma prevalência significativamente menor de infecção por H. pylori.
Óleos e ácidos graxos
Em 1994, Thompson et al. demonstraram que os ácidos graxos poli insaturados, ômega-3 e -6, inibem in vitro crescimento de H. pylori. Além disso, óleos de origem vegetal contêm muitos polifenóis exibindo propriedades bacteriostáticas contra H. pylori. Em condições de laboratório, os seguintes produtos alimentares exibem atividade bacteriostática contra H. pylori: óleo de semente de groselha preta, óleo de peixe e óleo de semente de toranja. Além disso, um estudo prospectivo demonstrou a atividade bacteriostática do azeite de oliva, e outro estudo japonês indicou que a ingestão de ácidos graxos poli insaturados diminui a prevalência de gastrite atrófica.
Probióticos
Certas cepas probióticas exibem atividade antibacteriana resultante de, dentre outros mecanismos, sua capacidade de modificar a resposta imunológica do hospedeiro, secretando substâncias antibacterianas como ácido láctico, bem como alterando os mecanismos de adesão celular das bactérias invasoras.
Uma revisão sistemática de cinco estudos randomizados controlados demonstrou que a adição de Sacharomyces boulardii à terapia tripla de erradicação de H. pylori aumentou a taxa de erradicação e reduziu a incidência de efeitos colaterais gastrointestinais.
Em outro estudo, a suplementação de Lactobacillus GG junto com a terapia tripla não afetou o taxa de erradicação, mas foi associada à redução de efeitos colaterais relacionados ao tratamento.
Uma série de componentes da dieta já mostraram potencial anti-H. atividade pylori em modelos in vitro e animais. Até agora, podemos adiantar que estudos em humanos investigaram o alho, vitamina C e E, chá verde, vinho tinto e alcaçuz como potenciais agentes terapêuticos. No entanto, são necessários estudos mais bem desenhados e ensaios clínicos para determinar sua eficácia real nas populações afetadas, tanto como opções de tratamento quanto como medidas preventivas de reinfecção.
Comparando o tratamento com uso de antibióticos e inibidores da bomba de prótons, uma dieta preventiva pode ser bastante acessível para ajudar a erradicar a bactéria H. pylori, especialmente em áreas mais pobres e com sistema de saúde deficientes. Devido ao seu potencial anti-inflamatório e aos mecanismos de ação de diversos ativos presentes nesses alimentos ou extratos dos mesmos, é possível afirmar que os alimentos citados têm a capacidade de prevenir ou reduzir a infecção pelo H. pylori.
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Fontes de consulta
Non-pharmacological treatment of Helicobacter pylori
Efeito protetor da lactoferrina humana no trato gastrintestinal
Diet and Helicobacter pylori infection
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