Nutricionista Adriana Lauffer

Gases intestinais: o problema é o excesso ou onde ele se acumula?

Gases intestinais o problema é o excesso ou onde ele se acumula

Você já ouviu alguém dizer que está se sentindo “estufado de gases”? A ideia de que o desconforto abdominal vem simplesmente do “excesso de ar” é muito comum. Mas a ciência mostra que o problema pode nao ser o excesso de gases intestinais e, sim, onde ele se acumula dentro do intestino.

Um estudo publicado na revista Neurogastroenterology & Motility (2015) trouxe novas respostas a essa questão, investigando o conteúdo e a distribuição do gás intestinal em pessoas saudáveis e em pacientes com distúrbios gastrointestinais funcionais — como a Síndrome do Intestino Irritável (SII).

O objetivo do estudo

Os pesquisadores queriam entender:

  1. Qual é o volume normal de gás presente no intestino humano.
  2. Como esse gás se distribui ao longo do trato digestivo.
  3. E principalmente: como essas características se relacionam com sintomas como inchaço e distensão abdominal em pessoas com problemas funcionais intestinais.

O que foi feito?

Foram avaliados exames de tomografia abdominal de:

  • 37 pessoas saudáveis
  • 88 pacientes em estado assintomático
  • 82 pacientes durante um episódio de distensão abdominal
  • 24 pacientes após uma dieta provocadora de gases

Resultados principais

  • Em pessoas saudáveis, o intestino continha em média 95 mL de gás, distribuídos ao longo de todo o trato digestivo.
  • Pacientes com distúrbios funcionais, quando estavam bem, não tinham mais gás que o normal – ou seja, o problema não é crônico.
  • Porém, durante episódios de inchaço ou após uma dieta fermentadora, cerca de 25% dos pacientes apresentaram aumento de gás e/ou distribuição anormal dos gases.

Ponto-chave:
Nem todo mundo com sintomas tem excesso de gás. Mas, quando há desconforto, muitas vezes o gás está mal distribuído ou mal acomodado — e isso faz toda a diferença.

O que isso muda na forma de entender os sintomas?

Esse estudo reforça que:

  • O volume total de gás não explica todos os sintomas.
  • A localização e a forma como o corpo reage ao gás são mais relevantes.
  • Pessoas sensíveis, como aquelas com SII, podem ter sintomas intensos mesmo com volumes normais de gás — se ele estiver mal distribuído ou se o intestino não responder de forma adequada (como se vê em outros estudos sobre “acomodação abdominal”).

E o que pode ser feito?

Se você sente inchaço frequente, saiba que:

  • Não é só “coisa da sua cabeça”.
  • Pode haver uma disfunção na forma como o seu corpo lida com o gás intestinal, mesmo que exames de imagem ou endoscopia pareçam normais.
  • Estratégias como:

Podem ajudar a melhorar a sensibilidade e a distribuição do conteúdo intestinal, aliviando os sintomas de forma mais eficaz.

Conclusão

Esse estudo mostra que o desconforto abdominal funcional vai muito além do “excesso de gás”. O segredo pode estar na forma como o seu corpo organiza o que está dentro do intestino — e entender isso é o primeiro passo para um tratamento mais eficaz e individualizado.

Referência

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/nmo.12618