Nutricionista Adriana Lauffer

Dieta para hérnia hiatal

dieta para hérnia hiatal

A hérnia hiatal exige cuidados nutricionais específicos que podem fazer toda diferença na qualidade de vida de quem convive com esta condição. Felizmente, ajustes alimentares estratégicos conseguem reduzir significativamente estes sintomas incômodos e prevenir complicações futuras. Por isso, neste post, compartilharei orientações dietéticas práticas e cientificamente fundamentadas para gerenciar a hérnia hiatal, incluindo quais alimentos priorizar, quais evitar, tamanho ideal das porções e padrões alimentares que minimizam a pressão abdominal.

O que é hérnia hiatal

A hérnia hiatal ocorre quando parte do estômago desliza através do hiato esofágico, uma abertura no diafragma que normalmente permite apenas a passagem do esôfago para o abdômen. Esta condição afeta aproximadamente 10-15% da população adulta, aumentando sua prevalência com a idade.

hernia hiatal

Inicialmente, os pacientes podem permanecer assintomáticos. Contudo, com o tempo, muitos desenvolvem sintomas como azia, regurgitação ácida e dor torácica, especialmente após refeições pesadas ou ao deitar-se. Além disso, a hérnia hiatal frequentemente contribui para o desenvolvimento da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), pois compromete a função da barreira anti-refluxo natural do organismo.

Fatores como obesidade, gravidez, tabagismo e esforço físico excessivo aumentam significativamente o risco de desenvolver esta condição. Os médicos classificam esta condição em três tipos principais:

  • hérnia por deslizamento (mais comum);
  • hérnia paraesofágica (mais rara e potencialmente perigosa);
  • hérnia mista.

Sinais e sintomas de hérnia hiatal

A hérnia hiatal apresenta uma variedade de manifestações clínicas, que podem variar desde ausência completa de sintomas até quadros mais severos. Os principais sinais e sintomas incluem:

Sintomas digestivos de hérnia hiatal

  • Azia (queimação retroesternal) frequente, especialmente após refeições ou ao deitar-se;
  • Regurgitação ácida para a garganta ou boca;
  • Dificuldade para engolir (disfagia);
  • Sensação de plenitude gástrica mesmo após pequenas refeições;
  • Dor ou desconforto na região superior do abdômen;
  • Soluços frequentes e persistentes;
  • Dor torácica não cardíaca (que pode ser confundida com angina);
  • Dor que piora ao se curvar ou deitar após as refeições;
  • Desconforto que aumenta com refeições volumosas ou muito condimentadas;
  • Náuseas e, ocasionalmente, vômitos.

Sintomas respiratórios e ORL (otorrinolaringológicos) de hérnia hiatal

  • Tosse crônica, principalmente noturna;
  • Rouquidão matinal ou persistente;
  • Sensação de “bola na garganta” (globus faríngeo);
  • Pigarro constante;
  • Episódios de aspiração, principalmente durante o sono;
  • Sintomas de asma que pioram à noite ou após refeições.

Sinais atípicos

  • Mau hálito persistente;
  • Erosão do esmalte dentário;
  • Sinusite crônica ou infecções respiratórias recorrentes;
  • Anemia por deficiência de ferro (em casos de erosões ou úlceras);
  • Perda de peso involuntária (em casos graves com dificuldade alimentar).

Sintomas de alerta (requerem atenção médica imediata)

  • Dor torácica intensa e aguda;
  • Dificuldade respiratória súbita;
  • Incapacidade completa de engolir;
  • Vômitos com sangue (hematêmese);
  • Fezes escuras (melena);
  • Perda de consciência

É importante destacar que muitos pacientes com hérnia hiatal permanecem assintomáticos, descobrindo a condição apenas em exames realizados por outros motivos. Por outro lado, a intensidade dos sintomas não necessariamente se correlaciona com o tamanho da hérnia, pois mesmo hérnias pequenas podem causar sintomas significativos, enquanto algumas hérnias grandes podem ser assintomáticas.

Quais alimentos evitar na dieta para hérnia hiatal

Alimentos que diminuem a pressão da válvula cárdia

A válvula cárdia funciona como uma barreira natural contra o refluxo. Quando sua pressão diminui, o conteúdo ácido do estômago retorna mais facilmente para o esôfago, agravando os sintomas da hérnia hiatal. Existem alimentos que relaxam temporariamente a musculatura da cárdia, como:

  • Chocolate e cacau;
  • Bebidas alcoólicas, especialmente vinho, cerveja e destilados;
  • Condimentos e temperos, como: glutamato monossódico, canela, cravo, hortelã, menta, pimenta;
  • Cafeína, seja de chá verde, chá preto, chimarrão, refrigerantes a base de cola, café, inclusive descafeinado;
  • Doces concentrados, como: geleias, compotas, sobremesas, produtos de padaria;
  • Alimentos cítricos, como limão, laranja, abacaxi, tomate etc;
  • Alimentos gordurosos, como alimentos fritos, carnes gordurosas, molhos etc.

Alimentos de difícil digestão

Alimentos que permanecem mais tempo no estômago aumentam a produção de ácido e a chance de refluxo, especialmente em pessoas com hérnia hiatal. Exemplos:

  • Carnes vermelhas e gordurosas;
  • Excesso de vegetais/saladas cruas.

Alimentos que fermentam

A fermentação no trato digestivo causa distensão abdominal, aumentando a pressão intra-abdominal e empurrando o conteúdo estomacal contra o diafragma, piorando tanto a hérnia quanto o refluxo. Exemplos:

  • Leguminosas, como feijões, lentilha, grão de bico, ervilhas, soja. Faça o remolho adequado e consuma-os com moderação;
  • Vegetais crucíferos, como repolho, brócolis (especialmente cru e o talo), couve flor, nabo, pimentão, pepino salada, repolho;
  • Frutas com alto potencial de fermentação, como melancia, melão, uva, suco de laranja, goiaba verde;
  • Temperos como alho e cebola.

Caldos concentrados em purina

caldos concentrados em purinas podem causar desconforto considerável em pessoas com hérnia hiatal. Estes caldos – especialmente os preparados com carne vermelha, vísceras, frutos do mar e certos tipos de peixes – contêm altas concentrações de purinas que, ao serem metabolizadas, podem aumentar a acidez gástrica. São eles:

  • Molho da carne de panela;
  • Molho de guisado ou bife;
  • Molho de ensopado de peixe.

Os alimentos listados acima são potencialmente capazes de causar desconforto a quem tem hérnia hiatal. Contudo, não deixe de consumi-los apenas por estarem nesta lista. Afinal, além de serem saudáveis na sua maioria, nem todos os alimentos descritos podem realmente causar desconfortos gástricos em todas as pessoas.

Outras orientações

  • Manter o peso dentro da normalidade para evitar pressão intra-abdominal;
  • Evitar fumar;
  • Evitar apertadas na cintura;
  • Não carregar peso ou deitar após as refeições;
  • Elevar a cabeceira da cama com blocos de madeira 15 a 20 cm, para evitar refluxo e aspiração.

Orientações adicionais

  1. Controle o tamanho das porções: coma refeições menores e mais frequentes para reduzir a pressão sobre o diafragma.
  2. Mastigue adequadamente: mastigar bem cada garfada alivia o trabalho do sistema digestivo.
  3. Horários das refeições: evite comer nas 2-3 horas antes de deitar, para reduzir o risco de refluxo noturno.
  4. Hidratação: beba água entre as refeições, não durante, para evitar distensão estomacal.
  5. Postura: mantenha-se ereto durante e após as refeições, permitindo que a gravidade ajude o processo digestivo.
  6. Introduza mudanças gradualmente: modifique sua dieta aos poucos, observando como seu corpo reage a cada alteração.

Conclusão

A adesão consistente a estas recomendações alimentares frequentemente resulta em melhora significativa dos sintomas da hérnia hiatal. No entanto, lembre-se que cada organismo responde diferentemente, portanto, mantenha um diário alimentar para identificar seus gatilhos específicos. Por fim, complemente estas mudanças dietéticas com outras modificações no estilo de vida, como elevação da cabeceira da cama e controle do peso, para maximizar os benefícios.

Adotar estas mudanças não apenas alivia os sintomas, mas também potencialmente reduz a necessidade de medicações e melhora a qualidade de vida geral, permitindo que você recupere o prazer de comer sem tantas preocupações.

Essas orientações não substituem a orientação individualizada de um nutricionista especializado.

Gostou desse post? Então, você poderá gostar do post sobre refluxo gastroesofágico ou de má digestão/dispepsia.

Referências bibliográficas

  • Katz PO, Dunbar KB, Schnoll-Sussman FH, et al. ACG Clinical Guideline for the Diagnosis and Management of Gastroesophageal Reflux Disease. American Journal of Gastroenterology. 2022;117(1):27-56. Roman S, Kahrilas PJ. The diagnosis and management of hiatus hernia. BMJ. 2014;349.
  • Sfara A, Dumitrascu DL. The management of hiatal hernia: an update on diagnosis and treatment. Medicine and Pharmacy Reports. 2019;92(4):321-325.
  • Hyun JJ, Bak YT. Clinical significance of hiatal hernia. Gut and Liver. 2011;5(3):267-277. Siegal SR, Dolan JP, Hunter JG. Modern diagnosis and treatment of hiatal hernias. Langenbeck’s Archives of Surgery. 2017;402(8):1145-1151.
  • Antunes C, Sharma A. Hiatal Hernia. StatPearls Publishing; 2023.
  • Kahrilas PJ, Kim HC, Pandolfino JE. Approaches to the diagnosis and grading of hiatal hernia. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. 2019;42-43:101577.
  • Gyawali CP, Fass R. Management of Gastroesophageal Reflux Disease. Gastroenterology. 2018;154(2):302-318.
  • Wu KL, Kuo CM, Yao CC, Tai WC. The effect of dietary carbohydrate on gastroesophageal reflux disease. Journal of the Formosan Medical Association. 2018;117(11):973-978.
  • Newberry C, Lynch K. The role of diet in the development and management of gastroesophageal reflux disease: a review. Therapeutic Advances in Gastroenterology. 2019;12:1756284819882930.
  • Kubo A, Block G, Quesenberry CP, Buffler P, Corley DA. Dietary guideline adherence for gastroesophageal reflux disease. BMC Gastroenterology. 2014;14:144.
  • Jarosz M, Taraszewska A. Risk factors for gastroesophageal reflux disease: the role of diet. Przegląd Gastroenterologiczny. 2014;9(5):297-301.
  • Ness-Jensen E, Hveem K, El-Serag H, Lagergren J. Lifestyle intervention in gastroesophageal reflux disease. Clinical Gastroenterology and Hepatology. 2016;14(2):175-182.
  • Sethi S, Richter JE. Diet and gastroesophageal reflux disease: role in pathogenesis and management. Current Opinion in Gastroenterology. 2017;33(2):107-111.
  • Mone I, Kraja B, Bregu A, et al. Adherence to a predominantly Mediterranean diet decreases the risk of gastroesophageal reflux disease: a cross-sectional study in a South Eastern European population. Diseases of the Esophagus. 2016;29(7):794-800.