Nutricionista Adriana Lauffer

Dieta FODMAP para doença diverticular

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Os sintomas da doença diverticular não complicada são muito semelhantes aos da síndrome do intestino irritável (SII). Nesse caso, a dieta FODMAP para doença diverticular (DD) faria sentido? É o que vamos ver.

Fibras e doença diverticular

Uma dieta rica em fibras é recomendada pelas diretrizes alimentares como dieta padrão para a DD. Por isso, esta recomendação permanece, embora não exista forte confiança no benefício da sua falta e nem da sua adição à dieta. Ou seja, essa recomendação permanece forte, mesmo que com base em evidências de qualidade muito baixa, pois 1) os benefícios potenciais claramente superam os riscos e 2) apoia a implementação de diretrizes alimentares.

Além disso, essa forte recomendação, baseada em uma qualidade de evidência muito baixa, está alinhada com as recomendações da Sociedade Americana de Cólon e Cirurgiões Retais (ASCRS) para o tratamento médico da diverticulite aguda. Então, fica difícil não segui-la, não é mesmo?

Deve-se reconhecer que alcançar mudanças alimentares sustentáveis é difícil nas sociedades ocidentais, uma vez que não são suportadas pelo ambiente alimentar. Portanto, a dieta rica em fibras deve ser recomendada juntamente com o apoio a longo prazo para alcançar mudanças permanentes na dieta.

Quanto aos suplementos de fibras alimentares, existem evidências que mostram alguma melhora nos resultados clínicos. No entanto, também não há evidências suficientes para fazer recomendações específicas de suplementação.

Fibras e a fermentação intestinal

A questão é que alguns pacientes têm intolerância a algumas formas de fibra alimentar e / ou têm outras comorbidades que exigem uma limitação ou modificação da ingestão de fibra alimentar.

Esses pacientes devem receber aconselhamento individualizado com acompanhamento para a alcançarem melhores resultados e o gerenciamento dos possíveis sintomas. Aí é que entra a dieta FODMAP para doença diverticular.

Recentemente, tem havido crescente interesse em desenvolvimento de dietas para tratar SII, e a dieta que consiste em reduzir carboidratos fermentáveis é uma candidata promissora. FODMAP são carboidratos que não são digeridos ou absorvidos no intestino delgado. O consumo deles causa aumento de fluído no intestino delgado, o gera um aumento de pressão osmótica.

Em adição, eles geram um grande aumento de produção de gás pela fermentação deles no cólon (intestino grosso). A adoção de uma dieta pobre em FODMAPs pelos pacientes com SII levou à melhora significativa dos sintomas.

Sintomas semelhantes

Diversos relatos têm abordado a correlação potencial entre DD e SII. Os sintomas consistentes entre os pacientes com SII e DD e sua sintomatologia semelhante têm sido reportadas, e essa sobreposição de sintomas pode fazer com que a diverticulite seja diagnosticada erroneamente como SII.

SII e DD são condições distintas, claro, e seria inapropriado adaptar o critério diagnóstico de SII para DD, e a DD precisa ser excluída em um processo diagnóstico de SII. Não podemos esquecer que a SII é classificada como doença funcional e DD é uma doença orgânica.

Porém, as duas condições compartilham de sintomas em comum como, por exemplo, distensão abdominal acompanhada de dor abdominal, o que se presume ser consequência da pressão interna no trato digestivo.

Tem sido demonstrado que pacientes com SII tem pH intraluminal colônico reduzido quando comparado a indivíduos saudáveis. O baixo pH é sugestivo de alta fermentação colônica. Estes estudos utilizaram uma cápsula de motilidade chamada SmartPill para mostrar que pacientes com SII tinham pH 6,8 no cólon versus controles tinham 7,3 e mostraram que baixo pH no cólon estava correlacionado com maior severidade de dor abdominal.

Conclusão

Independentemente da causa dos sintomas, se em ambas as condições há volume excessivo gás e de conteúdo líquido no cólon, a melhora que acontece nos sintomas da SII pode acontecer para os sintomas da diverticulose.

Para alguns pesquisadores, a hipótese de dieta rica em fibra representa uma contradição lógica, e para eles provavelmente não é adequada para o tratamento a longo prazo da diverticulite, pois as fendas anatômicas presentes na musculatura do intestino grosso são propensas a divertículos causados por pressões de força relacionadas a gases e líquidos, segundo o princípio de Bernoulli.

Sem considerar que a DD tem sido bastante relacionada com o enfraquecimento da musculatura da parede intestinal. Portanto, a dieta recomendada atualmente, rica em fibras e em FODMAPs, pode gerar quantidades substanciais de gás no cólon e um pH baixo, o que está relacionado aos sintomas de SII. Teoricamente, uma dieta baixa em FODMAP seria válida para a prevenção de diverticulite.

Eu, como nutricionista especialista em gastroenterologia, que atende bastante SII e DD e vejo bastante a sobreposição de sintomas e inclusive alto consumo de FODMAP’s entre os pacientes com DD, já tive sucesso na melhora de sintomas de pacientes com doença diverticular sintomática não complicada.

Lembre-se que essas orientações não dispensam avaliação e acompanhamento profissional, pois aqui estão simplificadas e não são individualizadas. Procure a orientação de um nutricionista especializado em Gastroenterologia. Nutrição e gastroenterologia: uma união muito importante!

Fontes de consulta:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5852713/

https://scielo.conicyt.cl/pdf/rmc/v145n2/art09.pdf

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5852713/


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Mas, lembre-se: não é indicado manter a fase de exclusão da dieta de exclusão por mais que 6 semanas e, além disso, o acompanhamento profissional é importante porque parte dos pacientes possuem outras condições clínicas associadas que o protocolo não resolverá por completo e, portanto, necessita de condutas adicionais.