Nutricionista Adriana Lauffer

Como a sua dieta impacta na sua microbiota intestinal

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A cada refeição que fazemos, não alimentamos apenas nosso corpo – também nutrimos trilhões de microrganismos que vivem em nosso intestino. Um estudo publicado na revista Nutrients em 2019 revela como diferentes componentes alimentares e padrões dietéticos influenciam diretamente a composição da microbiota intestinal, impactando nossa saúde de maneiras surpreendentes. Nesse post vamos aprofundar o entendimento sobre como a dieta impacta na saúde da microbiota intestinal.

O que e a microbiota intestinal?

Primeiramente, é importante entender que nosso intestino abriga mais de 100 trilhões de microrganismos, representando 10 a 100 vezes o número de células humanas. Esses microorganismos formam um ecossistema complexo que desempenha papéis cruciais na digestão, imunidade e até mesmo na saúde mental.

Além disso, a microbiota intestinal atua como uma barreira protetora contra patógenos, ajuda na síntese de vitaminas e regula processos inflamatórios. Quando esse equilíbrio é perturbado, podem surgir diversas doenças crônicas e auto imunes.

Como os macronutrientes afetam sua microbiota

Carboidratos benéficos: os combustíveis

Os carboidratos complexos, especialmente as fibras alimentares, são verdadeiros superalimentos para nossa microbiota. Quando consumimos alimentos ricos em fibras como frutas, vegetais e grãos integrais, essas substâncias chegam intactas ao intestino grosso.

Consequentemente, as bactérias benéficas fermentam essas fibras, produzindo ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs) – compostos que:

  • Fortalecem a barreira intestinal
  • Reduzem a inflamação
  • Regulam o sistema imunológico
  • Nutrem as células intestinais
  • Combatem o câncer intestinal

Proteínas: a diferença entre fontes vegetais e animais

Enquanto isso, o tipo de proteína consumida também faz toda a diferença. Proteínas vegetais (como leguminosas e oleaginosas) promovem o crescimento de bactérias benéficas como Bifidobacterium e Lactobacillus.

Por outro lado, proteínas animais em excesso, especialmente de carne vermelha, podem aumentar bactérias tolerantes à bile e reduzir a produção de SCFAs. Isso pode elevar os níveis de compostos potencialmente prejudiciais, como o TMAO, associado a doenças cardiovasculares, bem como outros metabólitos associados ao desenvonvimento de colite e câncer de cólon retal.

Gorduras: qualidade acima de quantidade

Similarmente, o tipo de gordura consumida influencia drasticamente a microbiota. Gorduras saturadas em excesso podem:

  • Reduzir a diversidade microbiana
  • Aumentar bactérias inflamatórias
  • Danificar a camada protetora do intestino

Em contrapartida, ômega-3 (presente em peixes, nozes e sementes) restaura o equilíbrio da microbiota e possui propriedades anti-inflamatórias.

Outros fatores alimentares importantes

Sal e a microbiota intestinal

O consumo excessivo de sal (mais de 5g por dia) reduz significativamente bactérias benéficas como Lactobacillus, aumentando a vulnerabilidade a doenças inflamatórias.

Alerta sobre aditivos alimentares

Adicionalmente, adoçantes artificiais e emulsificantes presentes em alimentos ultraprocessados podem alterar negativamente a composição da microbiota, reduzindo sua diversidade e promovendo inflamação.

Micronutrientes e polifenóis: os grandes aliados

Por fim, vitaminas, minerais e compostos bioativos presentes em frutas e vegetais coloridos nutrem bactérias benéficas, funcionando como prebióticos naturais.

Padrões dietéticos e seus impactos na microbiota

Dieta Mediterrânea: o padrão ouro

A Dieta Mediterrânea emerge como a campeã para a saúde da microbiota. Rica em:

  • Vegetais e frutas diversas
  • Azeite de oliva extra virgem
  • Oleaginosas e leguminosas
  • Peixes ricos em ômega-3

Este padrão alimentar aumenta significativamente a diversidade microbiana e a produção de SCFAs.

Dieta Ocidental: a vilã moderna

Em contraste, a Dieta Ocidental (rica em gorduras saturadas, açúcar refinado e alimentos ultraprocessados) reduz drasticamente a diversidade microbiana, promovendo disbiose e inflamação crônica.

Outras dietas: cuidado com os excessos ou restrições desnecessárias

Embora dietas como a cetogênica ou sem glúten possam ter benefícios específicos, seu uso prolongado em pessoas saudáveis pode reduzir bactérias benéficas e a produção de SCFAs.

Efeito das dietas na microbiota intestinal

Na tabela abaixo você pode ver de forma resumida o efeito de diferentes dietas na saúde da microbiota intestinal.

Tipo de DietaPrincipais Alterações na MicrobiotaEfeitos BenéficosEfeitos PrejudiciaisProdução de SCFAsBarreira IntestinalInflamação
Dieta Mediterrânea• ↑ Bifidobacterium
• ↑ Lactobacillus
• ↑ Bacteroides
• ↑ F. prausnitzii
• ↓ E. coli
• Maior diversidade microbiana
• Aumento da diversidade
• Maior estabilidade
• Melhor produção de SCFAs
• Propriedades anti-inflamatórias
Nenhum identificadoAumentadaFortalecidaReduzida
Dieta Ocidental• ↑ Bacteroides
• ↑ Ruminococcus torques
• ↑ Alistipes
• ↑ Bilophila
• ↓ Prevotella
• ↓ Firmicutes benéficos
• Menor diversidade
Nenhum identificado• Redução da diversidade
• Disbiose
• Aumento de patógenos
• Inflamação crônica
ReduzidaComprometidaAumentada
Dieta Vegana Vegetariana• ↑ Bacteroides/ Prevotella
• ↑ F. prausnitzii
• ↓ Bilophila wadsworthia
• ↓ Clostridium cluster XIVa
• Maior diversidade
• Maior diversidade
• Efeito anti-inflamatório
• Melhor metabolismo de fibras
• Redução de TMAO
• Possível redução de Bifidobacterium
• Menor produção de B12
AumentadaFortalecidaReduzida
Dieta sem Glúten• ↓ Bifidobacterium
• ↓ Lactobacillus
• ↓ F. prausnitzii
• ↑ Enterobacteriaceae
• ↑ E. coli
• Melhora sintomas em celíacos
• Redução da inflamação intestinal (em celíacos)
• Redução de bactérias benéficas
• Diminuição da diversidade
• Aumento de patógenos
ReduzidaComprometidaVariável
Dieta Cetogênica• ↑ Akkermansia
• ↑ Desulfovibrio
• ↑ Bacteroides
• ↓ Bifidobacterium
• ↓ E. rectale
• ↓ Diversidade geral
• Controle de epilepsia • Perda de peso
• Possível neuroproteção
• Redução da diversidade
• Perda de bactérias benéfica
• Possível inflamação intestinal
ReduzidaComprometidaAumentada
Dieta Low-FODMAP• ↓ Bifidobacterium
• ↓ A. muciniphila
• ↓ Clostridium cluster IV
• ↓ R. gnavus  Redução da abundância total
• Melhora dos sintomas de SII
• Redução de gases e distensão
• Redução significativa da diversidade
• Perda de prebióticos naturais
• Efeitos negativos a longo prazo
ReduzidaComprometidaNeutra
Dieta Rica em Açúcar/Frutose• ↑ Proteobacteria
• ↑ Desulfovibrio vulgaris
• ↓ Bacteroidetes
• ↓ Diversidade geral
Nenhum identificado• Aumento da permeabilidade 
intestinal
• Endotoxemia metabólica
• Inflamação sistêmica
• Disbiose
ReduzidaComprometidaAumentada

Conclusões

Para otimizar sua microbiota intestinal:

  1. Diversifique seu consumo de vegetais, frutas e grãos integrais
  2. Prefira proteínas vegetais e peixes a carnes vermelhas processadas
  3. Inclua fontes de ômega-3 regularmente
  4. Reduza sal, açúcar refinado e alimentos ultraprocessados
  5. Consuma alimentos ricos em polifenóis (frutas vermelhas, chá verde, cacau)

Finalmente, os pesquisadores sugerem que o futuro da nutrição pode envolver análises individuais da microbiota para criar dietas personalizadas. Essa abordagem revolucionária poderia maximizar os benefícios alimentares para cada pessoa.

A mensagem é clara: cada escolha alimentar é uma oportunidade de nutrir não apenas seu corpo, mas também o ecossistema microscópico que sustenta sua saúde. Portanto, na próxima refeição, lembre-se de que você está alimentando trilhões de aliados invisíveis que trabalham incansavelmente pelo seu bem-estar.

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Referência

Food Components and Dietary Habits: Keys for a Healthy Gut Microbiota Composition, 2019.