A saúde intestinal desempenha um papel significativo na predisposição à candidíase vaginal de repetição, devido ao seu importante papel na regulação do sistema imunológico e na manutenção de um equilíbrio saudável de microorganismos no corpo, incluindo a Candida. E a candidíase vaginal, como se sabe, ocorre quando há um desequilíbrio e, portanto, crescimento excessivo do fungo Candida na vagina.
Como a saúde intestinal afeta a saúde vaginal
Existem algumas maneiras pelas quais a saúde intestinal pode influenciar e contribuir para a candidíase de repetição. Vamos explorar melhor cada uma delas:
1. Sistema imunológico: a maior parte do sistema imunológico do corpo está localizada no intestino, e a saúde intestinal desempenha um papel fundamental na regulação desse sistema. Se a microbiota intestinal estiver desequilibrada, o sistema imunológico pode ser enfraquecido, tornando-o menos capaz de combater infecções, incluindo infecções fúngicas como a candidíase.
2. Desequilíbrio da microbiota: um desequilíbrio na microbiota intestinal, conhecido como disbiose, pode permitir que o Candida albicans cresça de maneira descontrolada no trato gastrointestinal. Isso pode levar a um aumento na quantidade de Candida no corpo, o que aumenta o risco de candidíase vaginal.
3. Ação sistêmica: o intestino está intimamente ligado a outras partes do corpo, e as infecções fúngicas no trato gastrointestinal podem ter efeitos sistêmicos. A proximidade anatômica entre o ânus e a vagina facilita a transferência física do fungo, especialmente durante a higiene ou atividade sexual. m casos mais severos de disbiose intestinal, o fungo pode penetrar a barreira intestinal e atingir a corrente sanguínea (um processo conhecido como translocação microbiana), permitindo sua disseminação para outros tecidos, incluindo a mucosa vaginal. Além disso, o desequilíbrio intestinal pode gerar uma resposta imunológica alterada em todo o corpo, criando um ambiente propício para a proliferação fúngica em múltiplos sítios.
4. Uso de antibióticos: o uso de antibióticos frequentemente desencadeia episódios de candidíase vaginal. Isso ocorre porque estes medicamentos eliminam não apenas as bactérias patogênicas, mas também as protetoras, especialmente os Lactobacillus, que desempenham papel crucial na manutenção do pH vaginal ácido e na inibição do crescimento fúngico. Estudos mostram que após um curso de antibióticos, a microbiota intestinal pode levar até seis meses para se recuperar completamente. Durante este período de desequilíbrio, o risco de infecções fúngicas aumenta significativamente.
5. Dieta e estilo de vida: a dieta desempenha um papel importante na saúde intestinal. Uma dieta rica em açúcares e carboidratos refinados pode promover o crescimento de Candida, pois esse fungo se alimenta (fermenta) de açúcares. Além disso, o estresse crônico e o uso excessivo de álcool também podem afetar negativamente a saúde intestinal.
Quando buscar ajuda
Se você enfrenta candidíase vaginal recorrente (quatro ou mais episódios em um ano), é fundamental buscar avaliação médica abrangente. Um gastroenterologista pode avaliar a saúde intestinal através de exames específicos, enquanto um nutricionista pode desenvolver um plano alimentar personalizado. Em casos mais complexos, uma abordagem integrativa envolvendo ginecologista, gastroenterologista e nutricionista oferece melhores resultados
Conclusão
A candidíase vaginal recorrente frequentemente sinaliza um desequilíbrio sistêmico que vai além da região vaginal. Ao compreender e tratar a conexão intestino-vagina, muitas mulheres conseguem finalmente interromper o ciclo frustrante de infecções repetidas.
Uma abordagem global — combinando tratamento médico convencional, modificações dietéticas, suplementação estratégica e mudanças no estilo de vida — oferece as melhores chances de sucesso a longo prazo. Lembre-se que cada organismo é único, portanto, a personalização do tratamento sob orientação profissional é fundamental para resultados duradouros.
Gostou desse post? Então você poderá gostar de Candidíase vaginal: principais causas, Candidíase vaginal e a saúde da mulher, Alimentação e candidíase vaginal.
Referências
- Achkar JM, Fries BC. Candida infections of the genitourinary tract. Clin Microbiol Rev. 2010;23(2):253-273.
- Gonçalves B, et al. Vulvovaginal candidiasis: Epidemiology, microbiology and risk factors. Crit Rev Microbiol. 2016;42(6):905-927.
- Kumamoto CA. Inflammation and gastrointestinal Candida colonization. Curr Opin Microbiol. 2011;14(4):386-391.
- Miles MR, et al. Systemic and mucosal immunity in recurrent vulvovaginal candidiasis. Lancet Infect Dis. 2021;21(9).
- Neville BA, et al. Probiotic potential of the gut microbiota against Candida albicans. Trends Microbiol. 2015;23(12):746-748.
- Pappas PG, et al. Clinical practice guideline for the management of candidiasis: 2016 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2016;62(4).
- Zhao X, et al. Lactobacillus species: mechanisms of action in health and disease. Front Microbiol. 2020;11:2193.