Nutricionista Adriana Lauffer

Intolerância à histamina: o que é, causas e como diagnosticar

intolerância à histamina

Você já sentiu dores de cabeça intensas, problemas digestivos ou erupções cutâneas após consumir determinados alimentos, mas os testes de alergia resultaram negativos? Talvez você esteja enfrentando um problema cada vez mais reconhecido pela comunidade médica: a intolerância à histamina. Esta condição, também conhecida como histaminose alimentar, afeta aproximadamente 1% da população mundial, sendo mais comum em mulheres adultas, e representa um desafio diagnóstico devido à variedade de sintomas que podem simular outras condições.

O que é intolerância à histamina?

A intolerância à histamina ocorre quando há um desequilíbrio entre a quantidade de histamina presente no organismo e a capacidade do corpo em degradá-la. A histamina, por sua vez, é uma amina biogênica naturalmente produzida pelo corpo humano e também encontrada em diversos alimentos. Ela desempenha funções essenciais no organismo, como regulação do ácido gástrico, transmissão de sinais nervosos e modulação da resposta imunológica.

Entretanto, quando a histamina se acumula em excesso no organismo, surge uma cascata de sintomas que afetam múltiplos sistemas do corpo. Diferentemente de uma alergia alimentar, na qual o sistema imunológico reage contra proteínas específicas, a intolerância à histamina não envolve uma resposta imune mediada por IgE, por isso os testes alérgicos convencionais não detectam esta condição.

Causas da intolerância à histamina

A principal causa da intolerância à histamina está relacionada à redução da atividade da enzima Diamina Oxidase (DAO), responsável pela degradação da histamina ingerida através dos alimentos. A DAO é uma enzima intracelular que cataboliza as diaminas e participa na via das poliaminas. Assim, quando há deficiência desta enzima, a histamina consumida na alimentação não é adequadamente metabolizada, resultando em seu acúmulo no organismo.

Vários fatores podem contribuir para a diminuição da atividade da DAO:

  1. Enzima DAO: polimorfismos (SNP) no gene AOC1 estão associados à baixa atividade enzimática da DAO, predispondo geneticamente algumas pessoas à intolerância à histamina.
  2. Problemas intestinais: condições que afetam a integridade da mucosa intestinal, como doença inflamatória intestinal, doença celíaca e síndrome do intestino irritável, podem reduzir temporariamente a produção de DAO.
  3. Disbiose intestinal: o supercrescimento bacteriano no intestino delgado pode ser causa e ou agravante do problema, já que certas bactérias fermentam alimentos produzindo quantidades elevadas de histamina.
  4. Medicamentos: alguns fármacos podem inibir a atividade da DAO, como anti-inflamatórios não esteroidais, antidepressivos, antibióticos e medicamentos para problemas cardíacos.
  5. Consumo de álcool: o álcool não apenas contém histamina, mas também inibe a atividade da DAO, potencializando os efeitos da intolerância.
  6. Enzima HNMT: além da DAO, existe uma segunda enzima envolvida na degradação da histamina, chamada histamina N-metiltransferase (HNMT). A HNMT é uma proteína citosólica responsável pela inativação da histamina intracelular, expressa em diversos tecidos humanos. Alterações nesta enzima também podem contribuir para a intolerância à histamina, embora a deficiência de DAO seja a causa mais comum.

Sintomas da intolerância à histamina

A intolerância à histamina manifesta-se através de múltiplos sintomas que variam em intensidade e podem afetar diferentes sistemas do corpo, tornando seu diagnóstico desafiador. A grande variabilidade de sintomas se deve ao fato de que temos receptores para histamina em todo o nosso organismo. Os principais sistemas afetados e seus respectivos sintomas incluem:

Trato gastrointestinal:

  • Dores abdominais e cólicas
  • Diarreia ou constipação
  • Náusea e vômitos
  • Distensão abdominal e flatulência
  • Azia

Sistema Cardiovascular:

  • Taquicardia (batimentos cardíacos acelerados)
  • Hipotensão (pressão arterial baixa)
  • Arritmias

Sistema Nervoso:

  • Dores de cabeça e enxaquecas
  • Vertigem e tontura
  • Ansiedade
  • Dificuldade de concentração
  • Fadiga

Pele:

  • Urticária (vergões na pele)
  • Coceira
  • Rubor facial (vermelhidão)
  • Eczema
  • Inchaço (angioedema)

Área respiratória:

  • Congestão nasal
  • Rinite
  • Dificuldade respiratória
  • Tosse

Os sintomas podem se confundir com outras condições médicas fazem com que o diagnóstico da intolerância à histamina seja frequentemente tardio, com pacientes passando anos em busca de respostas para seus problemas de saúde.

Diagnóstico da intolerância à histamina

Atualmente, não existe um único teste ou exame definitivo para diagnosticar a intolerância à histamina, o que torna o processo diagnóstico complexo e frequentemente baseado na exclusão de outras condições. Apesar dos avanços significativos na compreensão da intolerância à histamina, não há consenso sobre um algoritmo diagnóstico. Os especialistas geralmente utilizam uma combinação de abordagens para chegar ao diagnóstico:

Avaliação clínica da intolerância à histamina

  1. História clínica detalhada: o primeiro passo é uma anamnese cuidadosa, investigando a relação entre o consumo de alimentos ricos em histamina e o aparecimento dos sintomas.
  2. Diário alimentar e de sintomas: o paciente é orientado a manter um diário alimentar porque ele pode ajudar a identificar sintomas e padrões de dieta.
  3. Dieta de eliminação e reintrodução controlada: o paciente deve seguir uma dieta livre em histamina por 2 meses. Se os sintomas voltarem após a reintrodução, é sinal a pessoa realmente apresenta intolerância à histamina. Esta abordagem é considerada o “padrão ouro” para o diagnóstico.
  4. Exclusão de outras condições: é fundamental excluir outras intolerâncias alimentares, doenças gastrointestinais, alergias alimentares mediadas por IgE e mastocitose subjacente.

Exames para intolerância à histamina

  1. Teste de atividade DAO no sangue: é um exame avalia a atividade da enzima DAO no sangue mediante uma técnica de radioimunoensaio. A atividade é considerada reduzida abaixo de 3-10 U/ml e muito reduzida abaixo de 3 U/ml. No entanto, é importante notar que a medição dos níveis de DAO no sangue tem sido cientificamente inconclusiva, pois podem não refletir a atividade de DAO no intestino e, por isso, não são recomendadas para diagnóstico de rotina.
  2. Testes genéticos: podem também ser feitos testes genéticos para identificação dos polimorfismos da DAO para tentar estabelecer se a intolerância é passageira ou permanente.
  3. Dosagem de triptase sérica: a aferição da triptase no soro pode ser útil para excluir a mastocitose, uma condição que pode apresentar sintomas semelhantes.
  4. Histamina nas fezes: o excesso de histamina nas fezes pode ser um sinal de baixa degradação da histamina devido à falta de DAO ou por produção excessiva de de histamina por bactérias histaminogênicas. No entanto, pesquisadores questionam se a quantidade de histamina detectada nas fezes realmente reflete a quantidade de histamina na luz intestinal.

É importante ressaltar que o diagnóstico da intolerância à histamina deve ser realizado por profissionais de saúde qualificados, como alergistas, gastroenterologistas ou imunologistas, em conjunto com nutricionistas especializados em intolerâncias alimentares

Perspectivas futuras e desafios da intolerância à histamina

A intolerância à histamina, embora cada vez mais reconhecida, ainda enfrenta desafios significativos em termos de diagnóstico e tratamento. Afinal, ainda não existe um consenso internacional sobre critérios diagnósticos, e a pesquisa sobre tratamentos eficazes além da dieta de baixo teor de histamina está em andamento.

Avanços recentes em testes genéticos e compreensão do papel da microbiota intestinal prometem melhorar a capacidade de diagnosticar e tratar esta condição. No entanto, até que mais pesquisas sejam concluídas, a abordagem mais eficaz para diagnóstico da intolerância à histamina continua sendo a resposta à dieta.

Se você suspeita sofrer de intolerância à histamina, é fundamental buscar orientação médica especializada e não tentar um autodiagnóstico ou tratamento sem supervisão profissional. Portanto, busque um gastroenterologista, alergista ou imunologista, em conjunto com um nutricionista especializado, que possam oferecer o suporte necessário para o diagnóstico correto e o desenvolvimento de um plano de tratamento individualizado.

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Referências

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