Nutricionista Adriana Lauffer

Saiba como prevenir a diverticulite

como evitar crise de diverticulite

A diverticulose é uma condição caracterizada pela formação de pequenas bolsas (divertículos) na parede do cólon, afetando aproximadamente 50% das pessoas acima de 60 anos nos países ocidentais. Quando esses divertículos se inflamam ou infectam, desenvolve-se a diverticulite, uma complicação aguda que pode resultar em consequências graves, incluindo peritonite, sepse e necessidade de intervenção cirúrgica de emergência.

Devido ao risco de complicações potencialmente fatais, a prevenção de crises de diverticulite torna-se fundamental para pessoas diagnosticadas com diverticulose. As estratégias preventivas abaixo são baseadas em evidências científicas atuais e visam reduzir significativamente o risco de crises inflamatórias.

Como prevenir a diverticulite

A pessoa que tem diagnóstico de diverticulose (o nome da doença) deve cuidar da saúde intestinal para evitar que os divertículos inflamem e levem à crise, que é chamada “diverticulite”. As orientações para evitar crises de diverticulite são as seguintes:

Proteínas animais e gorduras

Dietas ricas em carnes vermelhas e processadas estão associadas a maior risco de diverticulite. O Health Professionals Follow-up Study, acompanhando mais de 46.000 homens por 26 anos, demonstrou que o consumo elevado de carne vermelha aumenta o risco de diverticulite em 58% comparado ao consumo moderado.

Recomenda-se:

  • Priorizar gorduras anti-inflamatórias (azeite de oliva, abacate, oleaginosas)
  • Limitar carnes vermelhas a 1-2 porções semanais de 90-120g
  • Evitar carnes processadas como embutidos, presuntos e salsichas
  • Preferir fontes proteicas como peixes, aves sem pele, ovos e proteínas vegetais
  • Reduzir gorduras saturadas (presentes em queijos gordurosos, manteiga, cream cheese) que podem aumentar a inflamação intestinal

Sobre alimentos que fermentam e fibras

O consumo adequado de fibras desempenha papel central na prevenção da diverticulite. Estudos prospectivos demonstram que dietas ricas em fibras reduzem o risco de diverticulite em até 40%. Recomenda-se a ingestão de 25-35g de fibras diárias, priorizando:

  • Fibras solúveis: encontradas em aveia, cevada, frutas cítricas, maçãs e leguminosas, ajudam a formar gel que amacia as fezes e reduz a pressão intraluminal.
  • Fibras insolúveis: presentes em cereais integrais, casca de frutas e vegetais folhosos, aumentam o volume fecal e aceleram o trânsito intestinal.

Contudo, a introdução de fibras deve ser gradual para evitar desconforto abdominal, especialmente durante remissão de crises agudas. Conheça a quantidade de fibras nos alimentos.

Os FODMAPs (Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides And Polyols) são carboidratos fermentáveis que podem exacerbar sintomas em pessoas com diverticulose. Em vez de eliminar completamente estes alimentos, estudos recentes sugerem uma abordagem personalizada de restrição moderada, identificando quais grupos específicos desencadeiam sintomas em cada indivíduo. Uma dieta equilibrada com restrição parcial de FODMAPs pode reduzir significativamente desconforto abdominal e prevenir inflamação nos divertículos.

Sobre hidratação

A ingestão adequada de líquidos é fundamental para a prevenção da diverticulite. A água amolece as fezes e facilita seu trânsito pelo cólon, reduzindo a pressão intraluminal que contribui para a formação e inflamação dos divertículos.

Recomenda-se consumir aproximadamente 30-35ml de água por quilo de peso corporal diariamente. Por exemplo, uma pessoa de 70kg deve ingerir cerca de 2,1-2,5 litros de água por dia, ajustando conforme atividade física, temperatura ambiente e condições de saúde específicas.

Além da água pura, infusões de ervas sem açúcar, chás e água de coco natural também contribuem para a hidratação adequada. Bebidas com cafeína e álcool devem ser limitadas, pois possuem efeito diurético que pode comprometer a hidratação intestinal.

Sobre a microbiota intestinal

A disbiose (desequilíbrio da microbiota intestinal) desempenha papel significativo na patogênese da diverticulite. Estudos recentes demonstram que alterações na composição bacteriana do cólon podem aumentar a inflamação da mucosa e predispor a crises.

A suplementação com probióticos específicos pode:

  • Modular a resposta imune intestinal
  • Fortalecer a barreira epitelial do cólon
  • Inibir o crescimento de patógenos
  • Reduzir a inflamação de baixo grau

Cepas como Lactobacillus casei, Lactobacillus plantarum e certas bifidobactérias demonstraram eficácia na redução de sintomas abdominais e prevenção de recorrências em estudos clínicos. Recomenda-se optar por suplementos probióticos sem prebióticos (conhecidos como simbióticos), uma vez que muitos prebióticos são FODMAPs e podem exacerbar sintomas em pessoas sensíveis.

Consulte um gastroenterologista e nutricionista especializados para recomendações sobre cepas específicas e dosagens apropriadas para seu caso.

Sobre o consumo de sementes

Contrariando recomendações antigas, pesquisas recentes demonstram consistentemente que o consumo de sementes, nozes e grãos não aumenta o risco de diverticulite . Um estudo de 18 anos com 47.228 participantes não encontrou associação entre consumo de nozes, milho ou pipoca e complicações diverticulares. Pelo contrário, estes alimentos geralmente contribuem para o aporte de fibras e compostos anti-inflamatórios benéficos.

Sobre o peso corporal

O excesso de gordura visceral (abdominal) produz citocinas pró-inflamatórias que podem contribuir para a inflamação sistêmica e local na parede intestinal. Estudos epidemiológicos demonstram associação significativa entre obesidade e maior risco de complicações diverticulares. Portanto, manter o peso dentro da faixa saudável é fundamental para reduzir a inflamação de baixo grau e minimizar o risco de diverticulite.

Atividade física e manejo do estresse

A prática regular de atividade física contribui significativamente para a prevenção da diverticulite, através de múltiplos mecanismos:

  • Melhora do peristaltismo intestinal e redução do tempo de trânsito
  • Redução da inflamação sistêmica
  • Melhora da composição da microbiota intestinal
  • Controle do peso corporal

Recomenda-se pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada (como caminhadas rápidas, natação ou ciclismo) ou 75 minutos de atividade intensa, idealmente distribuídos ao longo da semana.

Além disso, o estresse crônico altera a motilidade intestinal e aumenta a inflamação através do eixo cérebro-intestino. Práticas como meditação mindfulness, yoga e técnicas de respiração profunda demonstraram benefícios na redução de sintomas gastrointestinais e prevenção de crises inflamatórias.

Quando buscar atendimento médico

É crucial reconhecer os sintomas de diverticulite aguda para buscar atendimento imediato:

  • Dor abdominal persistente, geralmente no quadrante inferior esquerdo
  • Febre acima de 38°C
  • Alterações significativas no hábito intestinal (diarreia ou constipação)
  • Sangue nas fezes
  • Náuseas e vômitos
  • Sensibilidade abdominal ao toque

A diverticulite não tratada pode evoluir para complicações graves como abscesso, fístula, obstrução intestinal ou peritonite (inflamação do peritônio causada por perfuração intestinal e vazamento de conteúdo fecal para a cavidade abdominal), uma emergência médica com risco de vida.

Conclusão

A prevenção da diverticulite requer uma abordagem multifatorial, individualizando recomendações conforme as necessidades específicas de cada pessoa. A combinação de alimentação adequada, hidratação, controle do peso, atividade física e gerenciamento do estresse oferece a melhor estratégia preventiva baseada em evidências atuais.

Embora estas orientações representem o conhecimento científico mais recente, elas não substituem o acompanhamento médico profissional. Trabalhe em conjunto com uma equipe multidisciplinar (gastroenterologista, nutricionista especializado e outros profissionais) para desenvolver um plano personalizado de prevenção e tratamento.

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