Modular a microbiota intestinal para promover saúde mental é uma estratégia cada vez mais reconhecida na literatura científica. Esse avanço impulsionou o desenvolvimento dos psicobióticos — probióticos com potencial para auxiliar no tratamento de transtornos como ansiedade e depressão.
O que são psicobióticos?
Probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, promovem benefícios à saúde do hospedeiro. Além de melhorar a função intestinal, algumas cepas específicas parecem influenciar a comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo cérebro-intestino.
Com base nesse entendimento, pesquisadores começaram a investigar como os probióticos podem modular funções neurobiológicas. Eles observaram que certos microrganismos impactam a regulação do humor, o controle do estresse e até mesmo sintomas de ansiedade e depressão. Assim surgiu o conceito de psicobióticos — cepas probióticas capazes de afetar positivamente o sistema nervoso central por meio de mecanismos imunológicos, endócrinos e neurais.
Estudos de psicobióticos com animais
Estudos com roedores demonstram alterações neurobiológicas após a ingestão de prebióticos. Já, os probióticos estão lentamente emergindo, e até agora revelou benefícios significativos, incluindo ações anti-inflamatórias e neuroprotetoras.
O uso de probióticos específicos em testes com animais também levou a uma diminuição de níveis de noradrenalina no hipocampo. Esse efeito é semelhante ao uso de um antidepressivo tricíclico, a amitriptilina, que está associado a uma melhor resposta ao estresse.
Sabe-se que 20% das pessoas após Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) desenvolvem depressão. Nesse sentido, um grupo de pesquisadores testou o que aconteceria após o IAM em ratos que utilizaram probióticos específicos. Eles administraram aos ratos as cepas Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175. Ao final, eles encontraram uma diminuição dos sintomas depressivos, além da restauração da permeabilidade intestinal nos ratos.
Estudos de psicobióticos com humanos
Embora os estudos clínicos ainda sejam limitados, os primeiros resultados são promissores. Em um ensaio clínico com voluntários saudáveis, a combinação de Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175 levou a uma melhora significativa no humor e na resposta ao estresse após 30 dias de suplementação.
Em pacientes com síndrome da fadiga crônica, essa mesma combinação reduziu sintomas associados à ansiedade e à depressão em apenas dois meses. Esses achados sugerem que os psicobióticos podem atuar como auxiliares terapêuticos não apenas para indivíduos com quadros clínicos diagnosticados, mas também para pessoas em situações de estresse crônico.
Além disso, um estudo comparativo entre 43 pacientes com ansiedade e depressão e 57 indivíduos saudáveis identificou níveis significativamente mais baixos de Bifidobacterium e Lactobacillus nos pacientes com transtornos mentais, sugerindo uma possível associação entre disbiose intestinal e saúde mental comprometida.
Conclusão
O uso de probióticos no contexto da saúde mental oferece uma abordagem inovadora, com potencial para complementar os tratamentos convencionais de ansiedade e depressão. Os psicobióticos, em especial as cepas Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175, têm demonstrado resultados consistentes na modulação do eixo cérebro-intestino, na redução da inflamação e na melhora do estado emocional.
À medida que novas pesquisas aprofundam o conhecimento sobre a microbiota intestinal, torna-se possível desenvolver intervenções mais personalizadas — especialmente para pacientes que não respondem bem aos tratamentos farmacológicos tradicionais. Assim, os psicobióticos despontam como aliados promissores na promoção do bem-estar mental.
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Referências
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