A hipertensão arterial afeta milhões de brasileiros e representa um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Felizmente, podemos controlar essa condição através de hábitos alimentares adequados. Uma alimentação equilibrada não apenas complementa o tratamento medicamentoso, mas também pode prevenir o surgimento da pressão alta em indivíduos saudáveis. Vamos aprofundar, portanto, as melhores estratégias alimentares para manter sua pressão arterial sob controle.
A dieta DASH para pressão alta
A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension – Abordagens Dietéticas para Combater a Hipertensão) foi desenvolvida especificamente para reduzir a pressão arterial. Diversos estudos comprovam sua eficácia, demonstrando reduções significativas na pressão sistólica e diastólica em apenas algumas semanas de adesão ao plano alimentar.
Esta dieta prioriza o consumo de frutas, vegetais, cereais integrais, laticínios com baixo teor de gordura e proteínas magras, enquanto reduz a ingestão de sódio, alimentos processados, gorduras saturadas e açúcares. O resultado é uma alimentação rica em nutrientes essenciais para a saúde cardiovascular, como potássio, magnésio, cálcio e fibras.
A redução do sódio é um passo fundamental para baixar a pressão
O consumo excessivo de sódio está diretamente relacionado ao aumento da pressão arterial. O sal retém água no organismo, aumentando o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão nos vasos. Por isso, reduzir o consumo de sal é uma das medidas mais eficazes para controlar a hipertensão.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo máximo de 5g de sal por dia para pessoas normotensas (equivalente a aproximadamente uma colher de chá rasa). Para hipertensos, essa recomendação é ainda mais restrita, limitando-se a 4g diárias, ou seja, cerca de 2/3 de uma colher de chá.
Contudo, o brasileiro consome, em média, entre 12g e 14g de sal diariamente – quase três vezes mais que o recomendado! Para reduzir esse consumo, adote algumas estratégias simples:
- Substitua o sal por ervas e especiarias ao preparar suas refeições
- Evite alimentos ultraprocessados, que geralmente contêm altos teores de sódio oculto
- Leia atentamente os rótulos dos alimentos, optando por aqueles com menor teor de sódio
- Retire o saleiro da mesa para evitar adicionar sal aos alimentos já preparados
- Prefira alimentos in natura, que naturalmente contêm menos sódio
Aumente o consumo de potássio, magnésio e cálcio
Enquanto o sódio deve ser limitado, outros minerais podem atuar como protetores contra a hipertensão. O potássio, por exemplo, contrabalança os efeitos do sódio, ajudando o organismo a eliminá-lo através da urina e promovendo o relaxamento dos vasos sanguíneos.
O magnésio atua como um relaxante natural da musculatura dos vasos, enquanto o cálcio participa da contração e relaxamento dos músculos cardíacos. Juntos, esses minerais contribuem significativamente para a regulação da pressão arterial. Veja abaixo os alimentos fontes de cada mineral:
Potássio:
- Banana, abacate, laranja e outras frutas cítricas, batata-doce, espinafre e outras folhas verdes, feijões e leguminosas, tomate
Magnésio:
- Amêndoas, nozes e outras oleaginosas; sementes de abóbora e girassol; cereais integrais e leguminosas; chocolate amargo (com moderação)
Cálcio:
- Iogurte natural e leite com baixo teor de gordura; queijos com pouca gordura; sardinhas; couve e brócolis, tofu
O poder anti-hipertensivo dos alimentos
Alguns alimentos específicos merecem destaque por seu potencial efeito benéfico na pressão arterial:
- Alho e cebola: contêm compostos que promovem a vasodilatação e ajudam a reduzir a pressão arterial.
- Chocolate amargo: rico em flavonoides, que melhoram a função endotelial e promovem o relaxamento dos vasos sanguíneos. Consuma com moderação (20-30g por dia).
- Azeite de oliva extra-virgem: rico em gorduras monoinsaturadas e compostos fenólicos que beneficiam a saúde cardiovascular.
- Chá verde: contém catequinas e outros antioxidantes que promovem a saúde das artérias.
- Beterraba: rica em nitratos, que são convertidos em óxido nítrico no organismo, um potente vasodilatador.
Sobre rótulos de alimentos e pressão alta
Ao comprar alimentos industrializados, torne-se um detetive dos rótulos, prestando especial atenção à quantidade de sódio listada na tabela nutricional. Procure produtos com menos de 140mg de sódio por porção, classificados como “baixo teor de sódio”, e evite aqueles com mais de 400mg, considerados “alto teor”. Além disso, fique atento às diferentes denominações que o sódio pode receber nos ingredientes, como glutamato monossódico, bicarbonato de sódio e fosfato dissódico.
Prefira alimentos que tragam termos como “sem adição de sal”, “teor reduzido de sódio” ou “light em sódio”, mas sempre verifique a tabela nutricional, pois alguns produtos naturalmente pobres em sódio usam esses termos apenas como estratégia de marketing. Lembre-se que os valores indicados geralmente se referem a uma porção específica do produto, portanto, considere quanto realmente vai consumir para calcular corretamente sua ingestão diária de sódio.
Como temperar a comida quando se tem pressão alta
Transforme sua cozinha e explore novas formas de temperar sua comida com ervas frescas e secas que intensificam o paladar sem prejudicar sua saúde cardiovascular. Substitua o sal por combinações aromáticas como alho, cebola, gengibre, alecrim, manjericão, orégano, tomilho e coentro, que não apenas realçam o sabor natural dos alimentos, mas também contribuem com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes benéficas para o sistema circulatório.
Além disso, experimente o limão, que adiciona acidez e realça sabores, ou o vinagre balsâmico para finalizar pratos com notas agridoces sofisticadas. Invista em misturas de especiarias caseiras sem sal, como curry, páprica, cominho e cúrcuma, guardando-as em potes herméticos para manter a intensidade dos aromas. Com o tempo, seu paladar se adaptará a essa nova forma de temperar, descobrindo nuances de sabor antes mascarados pelo excesso de sal, e sua pressão arterial agradecerá essa mudança saborosa e saudável.
Para temperar os seus alimentos de maneira mais natural, veja esse post sobre fundos e caldos para sopas e risotos, esse post sobre como fazer sal temperado caseiro, sobre receitas de coberturas para pão mais saudáveis, e sobre como manter os temperos naturais sempre frescos.
Lembre-se que pode ser necessário um período de adaptação do paladar. Portanto, para não tornar essa mudança desagradável demais, vá reduzindo aos poucos a quantidade de sal e modificando aos poucos a forma de temperar.
Alimentos e quantidade de sódio
Alimentos com pouco sódio:
Todos os vegetais e frutas in natura. Todos os cereais, como o arroz, milho, trigo e aveia, desde que adicionados de pouco ou nenhum sal. Óleos e manteigas sem sal. Chá, café e mate, além de sucos de frutas, bebidas sem gás. Açúcar, doces e compotas caseiras.
Tempere sua comida com: louro, cravo, coentro, manjericão, manjerona, salsa, sálvia, tomilho, orégano, pimenta, pimentão, cebola, alho, cebolinha, estragão, curry, gengibre, etc (todos os naturais).
Se você é hipertenso e diabético ou obeso ao mesmo tempo, obviamente não poderá consumir doces livremente apenas por terem baixo teor de sódio. Mas, agora você já sabe sobre o teor de sódio dos alimentos.
Alimentos com quantidade moderada de sódio:
Leite, iogurtes, creme de leite, queijos, ovos, carnes frescas de gado, aves, peixes, frutos do mar.
Alimentos com alta quantidade de sódio:
Pão francês, pão de milho, pão doce, pão integral, feijão preto, manteiga e margarina com sal. Todos os produtos de padaria e confeitaria, bolachas doces e salgadas.
Alimentos com muito alta quantidade de sódio:
Carnes e pescados defumados e salgados, embutidos (salsicha, linguiça, chouriço, salame, presunto, patês), bacon, toucinho, caldo e extrato de carne, picles, azeitonas, molho inglês, shoyo, sopas prontas e pó para pudins e flãs, saladas de maionese, pizzas, temperos prontos (Sazon, Knor…).
Hábitos de vida saudáveis para controlar pressão alta
Além da alimentação adequada, outros hábitos são essenciais para o controle da hipertensão:
- Monitore regularmente sua pressão arterial
- Pratique atividade física regularmente (pelo menos 150 minutos por semana)
- Mantenha o peso dentro dos limites saudáveis
- Limite o consumo de bebidas alcoólicas
- Evite o tabagismo
- Controle o estresse com técnicas de relaxamento, meditação ou atividades prazerosas
Conclusão
Controlar a pressão arterial através da alimentação não significa apenas fazer restrições, mas adotar um padrão alimentar equilibrado e variado. A dieta DASH, por exemplo, propõe um estilo de vida alimentar completo, que pode ser seguido por toda a família, não apenas por quem já tem hipertensão.
Lembre-se de que pequenas mudanças, implementadas gradualmente, podem trazer grandes benefícios à sua saúde cardiovascular a longo prazo. Consulte sempre um médico e um nutricionista para orientações personalizadas sobre o melhor plano alimentar para seu caso específico.
Ao combinar uma alimentação adequada com outros hábitos saudáveis, você estará dando passos importantes não apenas para controlar a pressão arterial, mas para melhorar sua saúde e qualidade de vida como um todo.
Referências Científicas
- World Health Organization. Guideline: Sodium intake for adults and children. Geneva: World Health Organization; 2012.
- Appel LJ, et al. A clinical trial of the effects of dietary patterns on blood pressure. DASH Collaborative Research Group. New England Journal of Medicine. 1997;336(16):1117-1124.
- Sacks FM, et al. Effects on blood pressure of reduced dietary sodium and the Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) diet. DASH-Sodium Collaborative Research Group. New England Journal of Medicine. 2001;344(1):3-10.
- Whelton PK, et al. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults. Journal of the American College of Cardiology. 2018;71(19).
- Malta DC, et al. Prevalência da hipertensão arterial segundo diferentes critérios diagnósticos, Pesquisa Nacional de Saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia. 2018;21(suppl 1).
- Barroso WKS, et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2021;116(3):516-658.