A ferritina elevada no sangue representa um importante sinal de alerta que merece atenção nutricional cuidadosa. Esta proteína, responsável pelo armazenamento do ferro no organismo, quando em níveis excessivos, pode indicar sobrecarga deste mineral, frequentemente associada a condições como hemocromatose, doenças hepáticas ou inflamações crônicas.
Portanto, uma abordagem dietética estratégica torna-se fundamental. Por isso, neste post vou compartilhar algumas orientações nutricionais cientificamente embasadas para auxiliar no manejo dos níveis de ferritina. Lembre-se sempre que é importante consultar profissionais de saúde qualificados para personalizar e acompanhar qualquer intervenção dietética, considerando sua condição específica e necessidades individuais.
O que é ferritina
A ferritina é uma proteína presente em muitos tipos de células, especialmente nas células do fígado, baço e medula óssea. Ela desempenha um papel crucial no armazenamento e liberação controlada de ferro no organismo. Esse armazenamento e essa liberação controlada mantêm o ferro armazenado de maneira segura, protegendo o organismo contra os efeitos adversos do excesso de ferro. Por isso, quando os níveis de ferro estão altos no sangue, ele é capturado pela ferritina e armazenado dentro de sua estrutura. Conforme o corpo precisa de ferro, a ferritina libera o ferro armazenado de maneira controlada.
Sintomas de ferritina alta
Os principais sinais e sintomas da ferritina alta são: dores nas articulações, fadiga, falta de energia, perda de peso, mudança na coloração da pele (tonalidade bronzeado), dor abdominal, perda do desejo sexual, atrofia testicular, perda de pêlo corporal, problemas cardíacos, sintomas relacionados com o início do diabetes. Resumindo, o excesso de ferro resulta em danos teciduais e prejuízo funcional dos órgãos envolvidos, especialmente fígado, pâncreas, coração e hipófise.
Exame de ferritina
O exame de ferritina mede o excesso de ferro no sangue, mostrando o estoque desse mineral no nosso corpo. Um fato interessante é que ferritina alta no sangue é mais comum em homens do que em mulheres. No entanto, quando acontece em mulheres normalmente é naquelas em que o fluxo menstrual é muito pequeno ou que não menstruam mais.
Quando a ferritina alta é a doença hemocromatose
Níveis elevados de ferritina no sangue podem ser um sinal de vários problemas de saúde, incluindo a hemocromatose. No entanto, é importante destacar que a ferritina alta não é um diagnóstico definitivo de hemocromatose por si só, pois existem várias outras condições médicas e fatores que também podem resultar em níveis elevados de ferritina.
A hemocromatose é uma doença genética caracterizada pelo acúmulo excessivo de ferro no organismo devido a uma absorção anormalmente alta de ferro a partir da dieta. Portanto, quando há suspeita de hemocromatose é essencial realizar exames médicos mais abrangentes, incluindo exames genéticos e outros testes específicos para confirmar a presença da doença.
Como baixar a ferritina
Existem diversas formas de baixar a ferritina:
- Através da doação de sangue ou sangria
- Através de uma dieta pobre em ferro
- Evitando comer alimentos que aumentem a absorção do ferro
- Aumentando o consumo de alimentos que dificultam a absorção do ferro.
Abaixo iremos entrar em mais detalhes sobre cada item.
Ferro heme e não heme
Alimentos ricos em ferro desempenham um papel crucial na manutenção da saúde, fornecendo esse mineral essencial, tão necessário para a produção de hemoglobina e a oxigenação dos tecidos. Mas, é importante fazer que as fontes de ferro são divididas em duas categorias: “ferro heme” e “ferro não heme”.
As diferenças entre ferro heme e não heme residem em sua origem e biodisponibilidade. O ferro heme é encontrado predominantemente em alimentos de origem animal, como: carne vermelha, peixe, aves e gema de ovo. Ele é mais facilmente absorvido pelo corpo humano devido à sua estrutura semelhante à hemoglobina.
Por outro lado, o ferro não heme, está presente em alimentos de origem vegetal, como: leguminosas, vegetais de folhas verdes e grãos integrais. Esse ferro é pobremente absorvido, devido à influência de compostos inibidores de absorção (como os fitatos) e à falta da estrutura heme. Para melhorar a absorção de ferro não heme, é aconselhável combinar esses alimentos com fontes ricas em vitamina C, que aumentam a absorção do mineral. No entanto, no caso da ferritina alta ou hemocromatose, essa combinação é desaconselhável.
O mito dos feijões e folhas verdes
É verdade que indivíduos com hemocromatose precisam gerenciar seu consumo de ferro para evitar seu acúmulo excessivo. Mas, excluir totalmente alimentos com ferro não-heme não é necessário. Afinal, o ferro não-heme, encontrado em alimentos vegetais como leguminosas, grãos integrais e vegetais de folhas escuras, é pobremente absorvido em comparação ao ferro-heme, presente em alimentos de origem animal. Além disso, esses alimentos também fornecem nutrientes essenciais, como fibras e vitaminas.
Portanto, para quem possui hemocromatose, o foco está em evitar principalmente alimentos ricos em ferro-heme, como carnes vermelhas e vísceras, que são fontes de ferro mais bem absorvidos pelo organismo.
Como você pode ver, a orientação de um profissional de saúde, como um médico ou nutricionista, é essencial para desenvolver um plano alimentar adequado e individualizado, que equilibre a ingestão de ferro e promova a saúde em pessoas com hemocromatose.
Como diminuir a absorção de ferro pelo organismo
Alguns nutrientes e substâncias encontrados nos alimentos são conhecidos por dificultar a absorção do ferro, atuando como agentes quelantes. Veja abaixo:
- Fitatos, que são fatores anti nutricionais encontrados em cereais e grãos;
- Fibras, encontradas em farelos, cereais e grãos integrais, frutas e verduras;
- Taninos e cafeína, que são encontrados em chás e no café;
- Cálcio, pois compete pelos mesmos sítios de absorção que o ferro na membrana celular;
- Ácido oxálico, encontrado no espinafre, por exemplo, forma sais insolúveis com o ferro dificultando a absorção do mineral;
- Evitar alimentos ricos em vitamina C no almoço e jantar, como laranja, limão, kiwi, morango, mamão, goiaba, caju, acerola, mexerica, salsinha.
Com essas estratégias, a absorção de ferro pelo organismo fica prejudicada, o que é positivo no contexto da ferritina alta e da hemocromatose.
Quando é preciso fazer sangria
A sangria terapêutica torna-se necessária quando os níveis de ferritina ultrapassam significativamente os valores de referência, indicando sobrecarga de ferro potencialmente prejudicial ao organismo.
O procedimento de sangria, também chamado flebotomia terapêutica, remove fisicamente o excesso de ferro através da retirada periódica de sangue – geralmente 450-500 mL por sessão, com frequência determinada pelos níveis de ferritina e a resposta individual ao tratamento.
Este método eficaz reduz progressivamente os estoques de ferro, prevenindo danos a órgãos vitais como fígado, coração e pâncreas. Paralelamente ao procedimento, ajustes alimentares estratégicos complementam o tratamento, reduzindo a ingestão de alimentos ricos em ferro heme e controlando fatores que aumentam sua absorção.
Valor da ferritina no exame de sangue
Os médicos consideram níveis acima de 800 ng/mL em homens e superiores a 400 ng/mL em mulheres como valores especialmente preocupantes, que demandam intervenção. Nestas situações, os pacientes recebem encaminhamento para um hematologista, que realizará exames mais específicos, incluindo testes genéticos para identificar mutações associadas à hemocromatose hereditária.
Recomendação diária de ingestão de ferro:
- Homens = 6-45 mg/dia. Ideal = 8 mg/dia
- Mulheres < 50 anos = 18-45 mg/dia
- Mulheres >50 anos = 8-45 mg/dia
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Dieta para ferritina alta
O mito de que as pessoas com hemocromatose devem evitar completamente alimentos ricos em ferro não heme não é inteiramente preciso. O consenso internacional sobre Hemocromatose, organizado pela Associação Européia para o Estudo do Fígado, NÃO indica a adoção de dieta estritamente pobre em ferro. No entanto, esse consenso recomenda:
- Evitar alimentos com alto teor de ferro heme;
- Evitar suplementos que contenham ferro;
- Evitar vitamina C, pois aumenta a absorção intestinal de ferro não heme;
- Bebidas alcoólicas, pois podem acelerar o dano hepático;
- Frutos do mar (principalmente ostras cruas), responsáveis por casos de infecções fatais geradas por sua contaminação com Vibrio vulnificus em pessoas com hemocromatose.
Caso você deseje um material para lhe auxiliar a aprofundar o seu entendimento sobre a ferritina recomendamos o ebook mencionado no final deste post.
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