Os chás representam uma das formas mais antigas de medicina em diversas culturas ao redor do mundo, oferecendo benefícios que vão muito além do simples prazer gustativo. Quem nunca pensou em preparar um chazinho quando está com algum mal-estar? Atualmente, a ciência confirma o que a sabedoria tradicional já apontava há milênios: diferentes ervas possuem compostos bioativos capazes de promover a saúde e aliviar diversas condições. Assim, neste breve guia, vamos conhecer os principais tipos de chás e suas indicações terapêuticas, organizados por categorias funcionais.
Chás digestivos e carminativos
Os chás digestivos favorecem ativamente o processo de digestão, enquanto os carminativos atuam especificamente na redução de gases estomacais e intestinais. Entre as ervas mais eficazes para estas finalidades, destacam-se:
- Hortelã: rica em mentol, relaxa a musculatura lisa do trato digestivo e alivia espasmos, sendo particularmente benéfica para quem sofre de síndrome do intestino irritável (com cautela) e dispepsia.
- Camomila: além de suas propriedades digestivas, possui efeito anti-inflamatório que beneficia o sistema gastrointestinal, aliviando sintomas de má digestão.
- Boldo: contém boldina, um alcaloide que estimula a produção de bile e protege as células hepáticas, sendo indicado para desconfortos digestivos e problemas hepáticos leves.
- Erva-doce: fonte de anetol, composto que estimula diretamente a produção de enzimas digestivas e reduz a formação de gases intestinais, atuando como carminativo natural.
- Gengibre: rico em gingeróis e shogaóis, estimula a digestão, combate náuseas e reduz a inflamação, sendo particularmente útil para má digestão e enjoos.
Chás calmantes e sedativos
Estas infusões exercem efeito calmante sobre o sistema nervoso, auxiliando no controle da ansiedade, estresse e insônia:
- Camomila: contém apigenina, flavonoide que se liga aos mesmos receptores cerebrais que medicamentos ansiolíticos, sem causar dependência.
- Capim cidreira/Capim limão: rico em citral, oferece efeito relaxante e auxilia na qualidade do sono, reduzindo a agitação mental.
- Maracujá: as folhas contêm flavonoides com propriedades ansiolíticas que ajudam a controlar a ansiedade e melhorar o sono.
- Melissa: conhecida como erva-cidreira, possui ácidos rosmarínicos que promovem relaxamento sem sedação excessiva.
- Valeriana: contém valepotriatos, que aumentam a disponibilidade de GABA no cérebro, proporcionando efeito sedativo natural.
Complementam esta categoria: folha de laranja, tília (ou tilia), alface e Angélica sylvestris.
Chás anti-inflamatórios e antirreumáticos
Estas ervas auxiliam no tratamento de inflamações diversas e condições como artrite, gota e reumatismo:
- Gengibre: seus compostos bioativos inibem vias inflamatórias, reduzindo dores articulares em pacientes com artrite.
- Alecrim: rico em ácido rosmarínico e carnosol, diminui marcadores inflamatórios e alivia dores musculares e articulares.
- Dente de leão: possui taraxasterol, que inibe a produção de citocinas pró-inflamatórias, auxiliando em problemas reumáticos.
- Cavalinha: rica em silício, fortalece tecidos conjuntivos e articulações, além de apresentar efeito diurético que ajuda na eliminação de ácido úrico.
- Chapéu de couro: contém flavonoides com ação anti-inflamatória e diurética, beneficiando quadros de reumatismo e gota.
Também apresentam propriedades antirreumáticas: agrião, limão, hortelã, cordão de frade, urtiga, chá verde e folha de abacate.
Chás diuréticos e depurativos
Os diuréticos aumentam a excreção urinária, enquanto os depurativos auxiliam na eliminação de toxinas:
- Cavalinha: rica em equisetonina e sais minerais, aumenta significativamente o volume urinário, ajudando na eliminação de toxinas.
- Dente de leão: seus princípios amargos estimulam a função renal e hepática, promovendo desintoxicação eficaz.
- Cabelo de milho: contém maisite, que aumenta a diurese sem depletar eletrólitos, tornando-o um diurético suave e seguro.
- Bardana: sua raiz possui inulina e ácidos fenólicos que estimulam a função renal e hepática, auxiliando na depuração sanguínea.
- Salsaparrilha: rica em saponinas, favorece a eliminação de toxinas através dos rins e pele.
Completam esta categoria: caroba, chapéu-de-couro, borragem, limão, camomila, sabugueiro, malva, japecanga, ipê roxo e carqueja.
Chás para fígado e vesícula
Estes chás dividem-se em quatro categorias principais:
- Coleréticos (aumentam a produção de bile):
- Bardana, chicória, zedoária, sálvia
- Colagogos (estimulam a evacuação da bile):
- Babosa, oliveira, carqueja
- Ação mista (coleréticos e colagogos):
- Alcachofra, boldo, dente de leão, menta, alecrim
- Hepatoprotetores (protegem as células hepáticas):
- Cardo-mariano, carqueja, alcachofra
Importante destacar que estes chás devem ser evitados em casos de obstrução das vias biliares e estados degenerativos hepáticos avançados.
Chás expectorantes e para problemas respiratórios
Estes chás exercem ação especial sobre as vias aéreas, ajudando a eliminar secreções e aliviar sintomas respiratórios:
- Malva: rica em mucilagens, forma um filme protetor nas mucosas irritadas, aliviando a tosse seca.
- Tília: contém flavonoides e mucilagens que atuam como antitussígeno e expectorante suave.
- Guaco: rico em cumarina, dilata os brônquios e facilita a expectoração, sendo muito útil em quadros de bronquite.
- Eucalipto: o cineol presente nas folhas apresenta ação broncodilatadora e antimicrobiana, auxiliando em infecções respiratórias.
Outras plantas úteis incluem: orégano, sálvia, violeta, pinheiros, avenca, tanchagem, alecrim, cipreste, alho, limão e cebola.
Chás adstringentes e anti-hemorrágicos
Possuem ação cicatrizante, contraindo tecidos e combatendo inflamações e hemorragias:
- Cavalinha: rica em sílica e taninos, promove coagulação e contração de tecidos, sendo útil em sangramentos menores.
- Broto de goiaba: contém taninos que contraem capilares, reduzindo sangramentos e diarreias.
- Romã: a casca contém punicalaginas, potentes adstringentes que controlam diarreias e sangramentos.
- Visco: possui propriedades vasoconstritoras que auxiliam no controle de hemorragias.
Completam esta categoria: eucalipto, maracujá, couve, cipreste, aloés ou babosa, agrimonia, carvão vegetal, bálsamo do peru, hera terrestre e cardo santo.
Chás antidiabéticos
Atuam no controle da glicemia, auxiliando o tratamento do diabetes:
- Pata de vaca: contém insulina vegetal, que auxilia na regulação da glicose sanguínea.
- Bardana: sua raiz contém inulina, fibra que retarda a absorção de açúcares.
- Alcachofra: rica em cinarina, que melhora a função hepática e o metabolismo da glicose.
- Garra do diabo: possui harpagosídeo, que aumenta a sensibilidade à insulina.
Outros chás funcionais
- Aperientes (estimulam o apetite): alecrim, agrião, camomila, melissa, água de alho, dente de leão, sálvia, manjerona, alfavaca, quássia.
- Antissépticos (desinfetantes): arnica (bochechos), bardana, limão, malva branca.
- Antipiréticos (combatem febres): sabugueiro, eucalipto, hortelã, cavalinha, tília, verbena, cabelo de milho, alfavaca, limão.
- Laxativos (melhoram a constipação): semente de linhaça, ameixa preta, cáscara sagrada, zimbro, hortelã, erva-doce, capim cidreira.
- Vermífugos (combatem vermes): alho, losna, cenoura, hortelã, uva, erva de santa Maria, folha de pessegueiro, canafístula, mentruz, semente de abóbora, cebola crua.
Considerações importantes sobre o consumo de chás
Embora os chás ofereçam diversos benefícios terapêuticos, algumas precauções fundamentais devem ser observadas:
- Consulte profissionais de saúde: pessoas com condições médicas pré-existentes ou em tratamento medicamentoso devem consultar médicos ou farmacêuticos antes de iniciar o consumo regular de qualquer infusão terapêutica.
- Atenção às contraindicações específicas:
- Alguns chás carminativos devem ser consumidos com cautela por quem tem síndrome do intestino irritável, como camomila e erva-doce/funcho
- Chás para fígado e vesícula são contraindicados em casos de obstrução das vias biliares
- A carqueja pode causar depleção de cálcio e magnésio quando consumida em excesso
- Gestantes e lactantes: precisam de orientação específica, pois nem todas as ervas são seguras nestes períodos.
- Qualidade das ervas: é fundamental para garantir os benefícios e evitar contaminações, preferindo produtos orgânicos e de fornecedores confiáveis.
- Forma de preparo: influenciam diretamente na extração dos princípios ativos e, consequentemente, na eficácia terapêutica.
- Tempo de uso: não se deve usar mais que 3 meses todos os dias a mesma erva.
Conclusão
Os chás representam uma abordagem natural e eficaz para complementar a promoção da saúde e o alívio de diversos sintomas. A ciência moderna valida cada vez mais o conhecimento tradicional sobre as propriedades terapêuticas dessas bebidas milenares. Portanto, incorporar diferentes tipos de chá ao seu dia a dia pode constituir uma estratégia simples e prazerosa para melhorar sua qualidade de vida.
No entanto, lembre-se sempre de que os chás medicinais devem ser utilizados como complemento, e não substituição, aos tratamentos convencionais. Para condições de saúde mais sérias, o acompanhamento médico é fundamental. Sendo assim, aproveite os benefícios que a natureza oferece através destas infusões, mas faça isso com consciência e orientação adequada.
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Outras plantas com ação digestiva ou carminativa incluem: funcho, poejo, cardo santo, quássia, sálvia, carqueja, raiz de genciana, anis estrelado e coentro.