Nutricionista Adriana Lauffer

Principais Tipos de Verminoses e Parasitoses: Sintomas e Tratamentos

Principais-Tipos-de-Verminoses-Parasitoses-Sintomas-Tratamentos

As verminoses e parasitoses intestinais afetam milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em regiões com saneamento básico deficiente. Estas infecções, muitas vezes silenciosas, podem causar desde sintomas leves até complicações graves quando não tratadas adequadamente. Neste post, vamos entender os principais tipos de verminoses e parasitoses, seus sintomas característicos e as opções de tratamento mais eficazes disponíveis atualmente.

Ascaridíase (Ascaris lumbricoides)

A ascaridíase, causada pelo verme cilíndrico Ascaris lumbricoides, representa uma das helmintíases mais comuns globalmente. Os ovos deste parasita chegam ao sistema digestivo através de alimentos ou água contaminados, desenvolvendo-se até se tornarem vermes adultos que podem atingir até 40 cm de comprimento.

Sintomas:

  • Dor abdominal difusa e cólicas intestinais;
  • Náuseas e vômitos (ocasionalmente com presença do verme);
  • Diarreia ou constipação alternadas;
  • Perda de apetite e consequente perda de peso;
  • Febre baixa em infestações mais intensas;
  • Sintomas respiratórios como tosse seca e chiado durante a fase de migração larval.

Nas infestações maciças, os vermes podem formar um emaranhado capaz de causar obstrução intestinal, especialmente em crianças. Além disso, estes parasitas ocasionalmente migram para locais ectópicos como ductos biliares ou apêndice, causando complicações graves.

Tratamento: o médico geralmente prescreve medicamentos anti-helmínticos como albendazol (dose única de 400mg para adultos) ou mebendazol (100mg duas vezes ao dia por três dias). Uma única dose destes medicamentos elimina efetivamente o parasita em 95% dos casos. No entanto, infestações muito intensas ou com complicações, pode ser necessária intervenção cirúrgica.

Ancilostomíase (Ancylostoma duodenale e Necator americanus)

Os ancilostomídeos penetram ativamente na pele humana, geralmente pela sola dos pés em contato com solo contaminado. Após migrarem pelos pulmões, estes vermes se fixam na mucosa do intestino delgado, onde sugam sangue para sua alimentação.

Sintomas:

  • “Coceira da terra” ou dermatite pruriginosa no local de entrada das larvas;
  • Tosse seca e irritativa quando as larvas passam para o pulmão e que dura alguns dias;
  • Dor epigástrica semelhante a úlcera péptica;
  • Anemia ferropriva, principal complicação devido à perda crônica de sangue;
  • Fadiga intensa e palidez cutâneo-mucosa;
  • Edema e desnutrição proteica em casos avançados.

A anemia desenvolve-se gradualmente e pode tornar-se severa, principalmente em crianças e gestantes, causando atraso no desenvolvimento físico e cognitivo.

Tratamento: além do albendazol (400mg em dose única) ou mebendazol (100mg duas vezes ao dia por três dias), frequentemente torna-se necessária a suplementação com ferro para corrigir a anemia. Os casos graves podem exigir transfusão sanguínea. Além disso, o acompanhamento laboratorial é essencial para confirmar a eficácia do tratamento e a recuperação dos níveis de hemoglobina.

Estrongiloidíase (Strongyloides stercoralis)

Este nematódeo apresenta um ciclo de vida complexo e a capacidade única de autoinfecção, permitindo que permaneça no organismo humano por décadas. Principalmente em pacientes imunodeprimidos, o Strongyloides pode causar hiperinfecção potencialmente fatal.

Sintomas:

  • Urticária serpiginosa na pele (larva currens), característica distintiva;
  • Sintomas pulmonares como tosse e dispneia durante a migração larval;
  • Dor abdominal, principalmente epigástrica;
  • Diarreia intermitente, por vezes alternando com constipação;
  • Náuseas e vômitos em infecções moderadas a graves;
  • Em imunodeprimidos: síndrome de hiperinfecção com disseminação para múltiplos órgãos.

A hiperinfecção representa uma emergência médica, com taxa de mortalidade superior a 50% quando não diagnosticada e tratada prontamente.

Tratamento: a ivermectina (200µg/kg/dia por 1-2 dias) constitui o tratamento de escolha por sua elevada eficácia. Alternativamente, utiliza-se albendazol (400mg duas vezes ao dia por 3-7 dias). Para pacientes imunodeprimidos ou com hiperinfecção, o tratamento deve ser mais prolongado e monitorado cuidadosamente com exames parasitológicos seriados.

Enterobíase ou Oxiuríase (Enterobius vermicularis)

A enterobíase, causada pelo pequeno nematódeo Enterobius vermicularis, afeta principalmente crianças em idade escolar. Sua transmissão ocorre facilmente em ambientes com aglomeração humana devido ao ciclo oro-anal dos ovos.

Sintomas:

  • Prurido anal intenso, especialmente noturno;
  • Irritabilidade e distúrbios do sono devido ao desconforto;
  • Infecções urinárias e genitais secundárias em meninas (por migração dos vermes);
  • Desconforto abdominal leve e intermitente;
  • Frequentemente assintomática, exceto pelo prurido anal.

O prurido anal noturno ocorre porque as fêmeas do parasita migram até o ânus para realizar a postura de ovos durante a noite, causando irritação local.

Tratamento: o pamoato de pirantel, mebendazol ou albendazol em dose única são altamente eficazes, porém recomenda-se uma segunda dose após duas semanas para eliminar parasitas que possam ter eclodido após o tratamento inicial. O tratamento deve abranger todos os membros da família simultaneamente, independentemente de sintomas, devido à facilidade de reinfecção. Além disso, medidas de higiene como troca e lavagem adequada de roupas de cama e íntimas são fundamentais.

Teníase (Taenia solium e Taenia saginata)

As tênias, ou solitárias, são cestódeos que podem atingir vários metros de comprimento no intestino humano. A infecção ocorre pelo consumo de carne de porco (T. solium) ou bovina (T. saginata) mal cozida contendo cisticercos viáveis.

Sintomas:

  • Frequentemente assintomática ou com sintomas leves;
  • Desconforto abdominal vago e intermitente;
  • Alterações do apetite (aumento ou diminuição);
  • Perda de peso gradual;
  • Náuseas e ocasionalmente diarreia;
  • Presença de proglótides (segmentos do verme) nas fezes ou roupas íntimas.

A teníase por T. solium merece atenção especial devido ao risco de cisticercose, que ocorre quando ovos do parasita são ingeridos e as larvas migram para tecidos como músculos e cérebro.

Tratamento: o praziquantel (5-10mg/kg em dose única) representa a opção terapêutica mais eficaz. Alternativamente, utiliza-se niclosamida (2g em dose única para adultos). Após o tratamento, recomenda-se análise das fezes para confirmar a eliminação completa do parasita, incluindo o escólex (cabeça).

Esquistossomose (Schistosoma mansoni)

Endêmica em várias regiões tropicais, a esquistossomose é transmitida pelo contato com água doce contaminada. Os vermes adultos habitam os vasos sanguíneos do sistema digestivo e produzem ovos que causam reação inflamatória intensa.

Sintomas:

  • Fase aguda: dermatite cercariana (coceira na pele após contato com água contaminada)
  • Febre, mal-estar, fraqueza e dor de cabeça (fase aguda)
  • Dor abdominal, especialmente no quadrante superior direito
  • Diarreia com muco e eventualmente sangue
  • Na fase crônica: hepatoesplenomegalia e hipertensão portal
  • Complicações graves incluem varizes esofágicas com risco de sangramento

A esquistossomose crônica não tratada pode levar à fibrose hepática periportal, hipertensão portal e suas complicações, incluindo hemorragia digestiva alta potencialmente fatal.

Tratamento: O praziquantel (40-60mg/kg dividido em duas doses no mesmo dia) apresenta eficácia superior a 90%. Para complicações da forma hepatoesplênica, o tratamento é direcionado ao manejo das varizes esofágicas e outras manifestações da hipertensão portal. O acompanhamento pós-tratamento é essencial para garantir a cura parasitológica.

Giardíase (Giardia lamblia)

Este protozoário flagelado causa uma das parasitoses intestinais mais comuns mundialmente, afetando especialmente crianças. A transmissão ocorre pela ingestão de cistos presentes na água ou alimentos contaminados.

Sintomas:

  • Diarreia aquosa, pastosa e fétida, frequentemente com muco mas sem sangue;
  • Distensão e dor abdominal, principalmente periumbilical e em quadrante superior direito;
  • Náuseas e perda de apetite significativa;
  • Perda de peso progressiva;
  • Fadiga crônica;
  • Esteatorreia (fezes gordurosas) em casos prolongados.

A infecção crônica por Giardia pode levar à má absorção de nutrientes, especialmente gorduras, carboidratos e vitaminas lipossolúveis, resultando em perda de peso significativa e deficiências nutricionais.

Tratamento: o metronidazol (250mg três vezes ao dia por 5-7 dias para adultos) continua sendo amplamente utilizado. Alternativas incluem tinidazol (dose única de 2g para adultos), nitazoxanida ou secnidazol. No entanto, em casos refratários ao tratamento inicial, combinações terapêuticas ou cursos prolongados podem ser necessários. Ademais, a resistência aos nitroimidazólicos tem aumentado, tornando alguns casos desafiadores.

Amebíase (Entamoeba histolytica)

A amebíase, causada pelo protozoário Entamoeba histolytica, pode manifestar-se desde infecções assintomáticas até quadros graves de colite amebiana ou abscesso hepático.

Sintomas:

  • Diarreia com muco e sangue (disenteria amebiana);
  • Cólicas abdominais intensas e tenesmo;
  • Febre baixa a moderada;
  • Náuseas e vômitos;
  • Na forma hepática: dor no quadrante superior direito, hepatomegalia dolorosa e febre alta;
  • Em casos graves: megacólon tóxico ou perfuração intestinal.

É fundamental diferenciar E. histolytica de outras espécies de Entamoeba não patogênicas, como E. dispar e E. moshkovskii, morfologicamente idênticas.

Tratamento: o tratamento envolve metronidazol (750mg três vezes ao dia por 7-10 dias) ou tinidazol (2g uma vez ao dia por 3 dias), seguido por um agente intraluminal como paromomicina (25-35mg/kg/dia dividido em três doses por 7 dias) para erradicação completa. Mas, quando há abscesso hepático amebiano geralmente requer tratamento mais prolongado e, ocasionalmente, drenagem percutânea.

Criptosporidiose (Cryptosporidium parvum)

Este coccídio causa diarreia autolimitada em imunocompetentes, mas pode provocar infecção grave e persistente em imunodeprimidos, particularmente portadores de HIV/AIDS.

Sintomas:

  • Diarreia aquosa volumosa;
  • Cólicas abdominais;
  • Náuseas e vômitos;
  • Febre baixa;
  • Anorexia e perda de peso;
  • Em imunodeprimidos: diarreia crônica intratável e disseminação para vias biliares e respiratórias.

Em pacientes com AIDS e contagem de CD4 muito baixa, a criptosporidiose pode tornar-se uma infecção debilitante e potencialmente fatal.

Tratamento: a nitazoxanida (500mg duas vezes ao dia por 3 dias para adultos) representa o único medicamento aprovado para criptosporidiose, porém sua eficácia é limitada em imunodeprimidos graves. Para pacientes com HIV, a restauração imunológica com terapia antirretroviral eficaz constitui o componente mais importante do tratamento. Além disso, medidas de suporte como hidratação e reposição eletrolítica são essenciais.

Prevenir é a melhor estratégia

As medidas preventivas contra verminoses e parasitoses incluem:

  • Acesso a água tratada e saneamento básico adequado;
  • Higiene pessoal rigorosa, especialmente lavagem das mãos;
  • Lavagem e higienização adequada de alimentos consumidos crus;
  • Cozimento completo de carnes e pescados;
  • Uso de calçados em áreas com solo potencialmente contaminado;
  • Evitar nadar em águas possivelmente contaminadas com esgoto;
  • Políticas públicas de educação sanitária e tratamento em massa em áreas endêmicas.

Conclusão

As verminoses e parasitoses intestinais, embora frequentemente negligenciadas, continuam representando importante problema de saúde pública mundial. O conhecimento sobre seus sintomas facilita o diagnóstico precoce, enquanto o tratamento adequado previne complicações potencialmente graves. Além disso, medidas preventivas simples podem reduzir drasticamente o risco de infecção.

Se você apresenta sintomas sugestivos de parasitose intestinal, procure orientação médica para diagnóstico preciso e tratamento adequado. Não permita que estes pequenos invasores comprometam sua saúde e qualidade de vida. Afinal, com informação adequada e cuidados básicos, muitas destas infecções podem ser efetivamente prevenidas.

Gostou desse post? Então você poderá gostar do post sobre Exame parasitológico de fezes: vale a pena? ou sobre Alimentação e parasitose.

Referências Bibliográficas

  1. Centers for Disease Control and Prevention. Parasites – Soil-transmitted Helminths. CDC.gov. Atualizado em 2023.
  2. World Health Organization. Soil-transmitted helminth infections. WHO Fact Sheets. 2023. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/soil-transmitted-helminth-infections
  3. Hotez PJ, Brindley PJ, Bethony JM, King CH, Pearce EJ, Jacobson J. Helminth infections: the great neglected tropical diseases. Journal of Clinical Investigation. 2018;118(4):1311-1321. doi:10.1172/JCI34261
  4. Jourdan PM, Lamberton PHL, Fenwick A, Addiss DG. Soil-transmitted helminth infections. The Lancet. 2018;391(10117):252-265. doi:10.1016/S0140-6736(17)31930-X
  5. Ryan ET, Hill DR, Solomon T, Aronson NE, Endy TP. Hunter’s Tropical Medicine and Emerging Infectious Diseases. 10ª edição. Elsevier; 2020.
  6. Shirley DA, Moonah S, Kotloff KL. Burden of disease from cryptosporidiosis. Current Opinion in Infectious Diseases. 2022;25(5):555-563. doi:10.1097/QCO.0b013e328357e569
  7. Leder K, Weller PF. Giardiasis: Epidemiology, clinical manifestations, and diagnosis. UpToDate. Atualizado em janeiro de 2023.
  8. Stanley SL Jr. Amoebiasis. The Lancet. 2019;361(9362):1025-1034. doi:10.1016/S0140-6736(03)12830-9
  9. Haque R. Human intestinal parasites. Journal of Health, Population and Nutrition. 2020;25(4):387-391.
  10. Farthing M, Salam MA, Lindberg G, et al. Acute diarrhea in adults and children: a global perspective. Journal of Clinical Gastroenterology. 2018;47(1):12-20. doi:10.1097/MCG.0b013e31826df662
  11. Keiser J, Utzinger J. Efficacy of current drugs against soil-transmitted helminth infections: systematic review and meta-analysis. JAMA. 2019;299(16):1937-1948. doi:10.1001/jama.299.16.1937
  12. Colley DG, Bustinduy AL, Secor WE, King CH. Human schistosomiasis. The Lancet. 2020;383(9936):2253-2264. doi:10.1016/S0140-6736(13)61949-2
  13. Olsen A, van Lieshout L, Marti H, et al. Strongyloidiasis–the most neglected of the neglected tropical diseases? Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene. 2019;103(10):967-972. doi:10.1016/j.trstmh.2009.02.013
  14. Efstratiou A, Ongerth JE, Karanis P. Waterborne transmission of protozoan parasites: Review of worldwide outbreaks – An update 2011-2016. Water Research. 2017;114:14-22. doi:10.1016/j.watres.2017.01.036
  15. Checkley W, White AC Jr, Jaganath D, et al. A review of the global burden, novel diagnostics, therapeutics, and vaccine targets for Cryptosporidium. The Lancet Infectious Diseases. 2018;15(1):85-94. doi:10.1016/S1473-3099(14)70772-8