Nutricionista Adriana Lauffer

Cuidados com Alimentação para Refluxo Gastroesofágico

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Viver com refluxo gastroesofágico pode ser extremamente desafiador, principalmente quando cada refeição se torna uma fonte potencial de desconforto. Felizmente, ajustar sua alimentação representa uma das estratégias mais eficazes para gerenciar os sintomas desta condição. De fato, pesquisas recentes demonstram que até 70% dos pacientes experimentam uma redução significativa dos sintomas após mudanças dietéticas específicas, o que inclui não apenas a eliminação de alimentos gatilho, mas também a adoção de novos hábitos alimentares.

Além disso, uma abordagem nutricional adequada não só alivia as queixas imediatas como azia e regurgitação, mas também pode prevenir complicações a longo prazo, como esofagite e até mesmo condições pré-cancerosas. Neste post, vou te apresentar como adaptar sua alimentação para controlar o refluxo e, consequentemente, recuperar o prazer de comer sem preocupações.

Entendendo o refluxo gastroesofágico

O refluxo gastroesofágico ocorre quando o conteúdo ácido do estômago retorna ao esôfago devido ao relaxamento inadequado do esfíncter esofágico inferior (EEI), uma válvula muscular que normalmente impede esse retorno. Consequentemente, esse relaxamento causa regurgitação ácida e essa acidez machuca o revestimento do esôfago, causando sintomas como queimação e desconforto torácico. Além disso, fatores como obesidade e gravidez pioram o problema, pois criam uma pressão adicional no abdômen que força o conteúdo estomacal a subir e hérnia de hiato pode agravar o problema, pois torna a funcionalidade do esfíncter ainda mais problemática.

Alimentos que pioram o refluxo

Certos alimentos são conhecidos por desencadearem ou intensificarem os sintomas de refluxo. Portanto, identificá-los e reduzí-los ou eliminá-los da dieta é um passo fundamental para controlar a condição. Primeiramente, alimentos gordurosos como frituras, carnes vermelhas gordurosas e molhos cremosos retardam o esvaziamento gástrico, aumentando a pressão no estômago. Ademais, alimentos ácidos como tomate, frutas cítricas e suas preparações podem machucar diretamente a mucosa esofágica já inflamada.

Os seguintes alimentos frequentemente agravam os sintomas de refluxo:

  • Bebidas: café (inclusive descafeinado), chá preto, refrigerantes, bebidas alcoólicas, sucos cítricos
  • Laticínios ricos em gordura: leite integral, creme de leite, queijos amarelos gordurosos
  • Frutas cítricas: laranja, limão, abacaxi, tomate
  • Condimentos: pimenta, molho de tomate, vinagre, ketchup, mostarda
  • Gorduras: frituras, gordura animal, molhos cremosos, chocolate, sorvetes
  • Outros: cebola crua, alho, menta, hortelã, alimentos muito condimentados

Alimentos que ajudam a controlar o refluxo

Em contrapartida, diversos alimentos podem ajudar a reduzir os sintomas de refluxo. Principalmente, alimentos ricos em fibras como grãos integrais, vegetais e frutas não ácidas ajudam a absorver o ácido estomacal e aceleram o esvaziamento gástrico. Além disso, alimentos com pH mais alcalino podem neutralizar a acidez excessiva.

Inclua em sua dieta:

  • Vegetais: brócolis, moranga, chuchu, aspargos, feijão verde, batata
  • Frutas não ácidas: melão, banana, pera, maçã (sem casca)
  • Grãos: aveia, arroz integral, quinoa, pão integral
  • Proteínas magras: frango (sem pele), peru, peixe, tofu, ovos
  • Gorduras saudáveis (em pequenas quantidades): azeite de oliva, abacate, oleaginosas
  • Laticínios com baixo teor de gordura: leite desnatado, iogurte natural desnatado, queijos brancos

Estratégias alimentares eficazes

Além da escolha adequada dos alimentos, a forma como você se alimenta também influencia significativamente os sintomas do refluxo. Por isso, adotar hábitos alimentares saudáveis é essencial para o controle da condição. Primeiramente, faça refeições menores e mais frequentes para evitar a distensão gástrica excessiva. Além disso, mastigue bem os alimentos para facilitar a digestão e reduzir a produção excessiva de ácido.

Outras estratégias importantes incluem:

  1. Controle do tamanho das porções: refeições volumosas aumentam a pressão no estômago e forçam a abertura do EEI. Por isso, opte por porções menores distribuídas ao longo do dia.
  2. Evite refeições tardias: não se alimente nas 2-3 horas antes de deitar, pois a posição horizontal facilita o refluxo do ácido estomacal.
  3. Mantenha um peso saudável: o excesso de peso, especialmente na região abdominal, exerce pressão sobre o estômago e pode agravar os sintomas.
  4. Beba água entre as refeições: beber grandes quantidades de líquidos durante as refeições pode distender o estômago. Prefira hidratar-se entre as refeições.
  5. Coma devagar: alimentar-se rápido leva à ingestão de ar, o que aumenta a pressão gástrica. Além disso, quando comemos rápido tendemos a comer um volume maior de alimento.
  6. Eleve a cabeceira da cama: dormir com a cabeça elevada (15-20 cm) ajuda a prevenir o refluxo noturno.

Diário alimentar e refluxo

Cada pessoa reage de maneira diferente a determinados alimentos. Por isso, manter um diário alimentar pode ser extremamente útil para identificar seus gatilhos pessoais. Anote o que você come, quando come e quais sintomas aparecem após as refeições. Com o tempo, você conseguirá estabelecer padrões e identificar quais alimentos específicos desencadeiam seus sintomas, sem fazer restrições alimentares desnecessárias.

Quando procurar ajuda profissional

Embora mudanças na dieta possam ajudar significativamente no controle do refluxo, é importante consultar um gastroenterologista e um nutricionista para orientação personalizada. Principalmente se você apresentar sintomas graves ou persistentes como dificuldade para engolir, perda de peso não intencional, dor torácica intensa ou sintomas que não melhoram com o tratamento medicamentoso ou com as mudanças na dieta.

Conclusão

O controle do refluxo gastroesofágico através da alimentação requer paciência e persistência. No entanto, os benefícios de uma dieta adequada vão além do alívio dos sintomas; incluem também a prevenção de complicações a longo prazo e a melhora significativa na qualidade de vida.

Portanto, invista tempo para conhecer seu corpo, identificar seus gatilhos dos seus sintomas e para adotar hábitos alimentares saudáveis. Lembre-se de que cada organismo é único, e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Assim, personalize sua abordagem dietética com a ajuda de profissionais qualificados para obter os melhores resultados possíveis.

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Referências

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