Você já se perguntou por que algumas pessoas com intolerância à lactose conseguem tomar um cafezinho com leite sem problemas, enquanto outras apresentam desconforto imediato? A resposta está na ciência – e pode surpreender quem acredita que a intolerância à lactose exige a eliminação total deste açúcar da dieta. Nesse post, vamos entender melhor quanto de lactose mesmo os intolerantes conseguem consumir sem precisar de enzima.
A revelação dos estudos cegos
Pesquisas científicas conduzidas em condições controladas têm revelado algo notável: a maioria das pessoas diagnosticadas com intolerância à lactose consegue tolerar pequenas quantidades sem apresentar sintomas significativos. Um estudo pioneiro conduzido por Vesa e colaboradores demonstrou que indivíduos com má-digestão de lactose não apresentavam sintomas gastrointestinais quando ingeriam baixas quantidades de lactose (entre 0,5 e 7,0g por dia). Este achado revolucionou nossa compreensão sobre o manejo da condição.
Em testes duplo-cegos, nos quais nem os participantes nem os pesquisadores sabiam quem estava recebendo lactose ou placebo, os resultados foram surpreendentes. Outros estudos aleatórios duplo-cegos confirmaram que quase todas as pessoas podem tolerar até 12 gramas de lactose por dia (equivalente a um copo de leite) sem apresentar qualquer sintoma.
Em testes duplo-cegos, nos quais nem os participantes nem os pesquisadores sabiam quem estava recebendo lactose ou placebo, os resultados foram surpreendentes. Outros estudos aleatórios duplo-cegos confirmaram que quase todas as pessoas podem tolerar até 12 gramas de lactose por dia (equivalente a um copo de leite) sem apresentar qualquer sintoma.
Lactose nos medicamentos e comprimidos
Este conhecimento tem implicações importantes para quem se preocupa com a presença de lactose em medicamentos. A presença de lactose na preparação de comprimidos já foi avaliada como potencial desencadeante de sintomas em pacientes com intolerância à lactose, porém sem diferenças nos níveis de hidrogênio expirado ou nos sintomas em comparação com placebo. Em outras palavras, a pequena quantidade de lactose presente em medicamentos é geralmente insuficiente para provocar desconforto, mesmo em pessoas intolerantes.
Estudos realizados pelas Universidades de Cardiff e Kentucky apontam que a quantidade de lactose em medicamentos varia entre 30 mg e 400 mg por comprimido – valores significativamente abaixo do limiar de tolerância de 7-12g demonstrado nos estudos mencionados anteriormente. Isto explica por que a maioria dos intolerantes não sente sintomas ao tomar medicações que contêm lactose como excipiente.
O efeito placebo e nocebo na intolerância à lactose
Curiosamente, nossas expectativas desempenham um papel importante na nossa resposta fisiológica. Um estudo notável documentou que pessoas com ou sem intolerância à lactose desenvolveram sintomas de desconforto gastrointestinal após tomarem o que acreditavam ser lactose, mas na verdade era placebo. Esta descoberta destaca como nossas expectativas podem influenciar nossas reações corporais. Saiba mais sobre efeito nocebo e placebo.
Auto conhecimento para manejar a intolerância à lactose
Entender seu limite pessoal de tolerância à lactose é fundamental. A quantidade de lactose necessária para desencadear alguma reação no organismo varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da quantidade ingerida, fracionamento desta ingestão ao longo do dia e do grau de deficiência de lactase.
Ao invés de eliminar completamente os laticínios da dieta, a maior parte dos indivíduos com intolerância à lactose consegue tolerar diariamente até 12g de lactose em uma única dose. Isso equivale aproximadamente a um copo de leite (250ml), que contém cerca de 12,5g de lactose.
Conclusão
A intolerância à lactose não é uma condição binária de “tudo ou nada”, mas existe em um espectro de tolerância que varia entre indivíduos. A maioria das pessoas intolerantes pode consumir pequenas quantidades de lactose sem desconforto, especialmente quando distribuídas ao longo do dia.
Este conhecimento tem aplicações práticas importantes, principalmente no contexto de medicamentos que contêm lactose como excipiente. A quantidade presente nestes produtos é tipicamente muito menor que o limiar de tolerância da maioria das pessoas, tornando estes medicamentos seguros para o consumo mesmo por indivíduos intolerantes.
Como sempre, a abordagem individualizada é essencial. Se você tem preocupações específicas relacionadas à sua intolerância à lactose, consulte um profissional de saúde qualificado que possa orientar sobre as melhores estratégias para seu caso particular.
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Referências
- Vesa TH, Korpela RA, Sahi T. Tolerância à lactose – um alvo em movimento. American Journal of Clinical Nutrition, 2000; 71:600-602.
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- Suarez FL, Savaiano DA, Levitt MD. A comparison of symptoms after the consumption of milk or lactose-hydrolyzed milk by people with self-reported severe lactose intolerance. New England Journal of Medicine, 1995; 333:1-4.
- Mattar R, Mazo DFC, Carrilho FJ. Lactose intolerance: diagnosis, genetic, and clinical factors. Clinical and Experimental Gastroenterology, 2012; 5:113-121.