Nutricionista Adriana Lauffer

Teste de Hidrogênio Expirado para SIBO: Prós e Contras

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O Supercrescimento Bacteriano no Intestino Delgado (SIBO) tem se tornado cada vez mais reconhecido como uma condição que afeta significativamente a saúde digestiva de muitas pessoas. Por isso, com o aumento da conscientização sobre essa condição, cresce também a demanda por métodos diagnósticos eficazes. Entre eles, o teste de hidrogênio expirado destaca-se como uma das ferramentas mais utilizadas na prática clínica, embora esse método diagnóstico tenha importantes prós e contras.

O que é o Teste de Hidrogênio Expirado?

O teste de hidrogênio expirado (ou teste respiratório de hidrogênio) é um exame não invasivo que mede a quantidade de hidrogênio (e, em alguns casos, metano) no ar expirado pelo paciente após a ingestão de um substrato específico. Os substratos utilizados são geralmente glicose ou lactulose.

O princípio por trás do teste é que seres humanos não produzem hidrogênio; apenas bactérias intestinais são capazes de fermentar carboidratos e produzir este gás. Esse gás, por sua vez, é absorvido pela corrente sanguínea e eliminado pelos pulmões.

Prós do Teste de Hidrogênio Expirado

1. Não invasivo

Uma das maiores vantagens do teste respiratório é seu caráter não invasivo. Diferentemente da cultura do aspirado jejunal (método diagnóstico considerado padrão-ouro, mas raramente realizado), o teste respiratório não requer procedimentos invasivos como endoscopia. Isso o torna mais aceitável para os pacientes e reduz riscos associados a procedimentos invasivos.

2. Facilidade de execução

O teste é relativamente simples de ser realizado em ambiente ambulatorial ou laboratorial, não necessitando de equipamentos altamente especializados. O paciente apenas sopra em um aparelho semelhante a um bafômetro em intervalos regulares após ingerir o substrato.

3. Boa correlação com sintomas

Vários estudos demonstraram que resultados positivos no teste respiratório têm boa correlação com os sintomas típicos do SIBO, e a resolução dos sintomas após o tratamento muitas vezes coincide com a normalização dos resultados do teste.

4. Potencial para quantificar a gravidade

Os valores obtidos no teste podem, em certa medida, refletir a gravidade do supercrescimento bacteriano, permitindo um acompanhamento da resposta ao tratamento.

5. Capacidade de detectar diferentes tipos de SIBO

Quando realizado com medição tanto de hidrogênio quanto de metano, o teste pode identificar diferentes padrões de SIBO, incluindo aqueles causados por organismos produtores de metano (arqueas), que estão frequentemente associados à constipação.

Contras do Teste de Hidrogênio Expirado

1. Falta de padronização

Um dos maiores problemas do teste respiratório é a falta de protocolos universalmente padronizados. Existem variações consideráveis nos substratos utilizados (glicose vs. lactulose), nos valores de corte para positividade, na duração do teste e nos intervalos de coleta.

2. Sensibilidade e especificidade limitadas

O teste respiratório apresenta limitações em termos de sensibilidade (capacidade de detectar corretamente casos positivos) e especificidade (capacidade de descartar corretamente casos negativos). Estudos mostram sensibilidade variando de 62% a 94% e especificidade de 78% a 83%, dependendo do protocolo utilizado.

3. Resultados falso-positivos e falso-negativos

Diversas condições podem levar a resultados incorretos:

  • Falso-positivos: trânsito intestinal acelerado, consumo recente de alimentos ricos em fibras, tabagismo.
  • Falso-negativos: uso recente de antibióticos, uso de laxantes, SIBO distal, organismos não produtores de hidrogênio.

4. Variações conforme o substrato utilizado

  • Teste com glicose: mais específico, mas pode perder casos de SIBO distal, pois a glicose é completamente absorvida no intestino delgado proximal.
  • Teste com lactulose: pode detectar casos de SIBO distal, mas tem maior taxa de falso-positivos devido ao trânsito acelerado para o cólon.

5. Difícil interpretação em algumas condições

A interpretação pode ser desafiadora em pacientes com trânsito intestinal alterado, como aqueles com síndrome do intestino irritável ou diabéticos com neuropatia autonômica.

6. Disponibilidade limitada

Apesar de relativamente simples, o teste ainda não está disponível em todos os centros médicos, especialmente em regiões com recursos limitados.

Considerações Clínicas Importantes

A escolha do substrato tem implicações importantes. Ao final, a glicose é geralmente preferida devido à menor taxa de falso-positivos, mas pode perder casos de SIBO distal, visto que um estudo comparativo por Rezaie et al. (2015) demonstrou que o teste com glicose tinha uma especificidade de 83,5%, comparado a 65,5% para lactulose.

Além disso, a combinação de medição simultânea de hidrogênio e metano aumenta a sensibilidade do teste, detectando casos que seriam perdidos se apenas o hidrogênio fosse medido. Isso é particularmente relevante porque aproximadamente 10-15% da população possui flora intestinal predominantemente metanogênica.

Conclusão

O teste de hidrogênio expirado representa uma ferramenta valiosa no diagnóstico do SIBO, pois oferece uma alternativa não invasiva e relativamente acessível. No entanto, suas limitações em termos de padronização, sensibilidade e especificidade devem ser consideradas na interpretação clínica dos resultados.

Idealmente, o diagnóstico de SIBO deve ser baseado na combinação de história clínica, sintomas compatíveis, resultados do teste respiratório e exclusão de outras condições que podem mimetizar o quadro. Ainda assim, em alguns casos, pode ser necessário um tratamento empírico, seguido de avaliação da resposta clínica.

A pesquisa contínua para aprimorar as metodologias do teste e estabelecer protocolos mais padronizados é essencial para melhorar a acurácia diagnóstica e, consequentemente, o manejo adequado dos pacientes com SIBO.

Referências Bibliográficas

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Créditos da imagem: site Gastroendo.