Nutricionista Adriana Lauffer

Familiares podem sabotar o emagrecimento

Familiares podem sabotar o emagrecimento

O psiquiatra Arthur Kaufman deu uma entrevista para a jornalista Mônica Tarantino, da revista Isto É, que foi intitulada “Parente é serpente”, mostrando como familiares podem sabotar o emagrecimento. Você pode estar pensando: “Mas, como assim? Eu tenho um super apoio da minha família!”, ou “Eles apenas querem o meu bem”, ou “Eles ficam com pena de mim”.

Bem, segundo o psiquiatra, existem familiares que podem nos sabotar sem nós percebermos, e provavelmente eles também não percebem. Segundo ele existe, por exemplo, os modelos de cônjuges, de pais e de amigos “engordativos”.

Além dos sofrimentos físicos a que muitas vezes se submetem para emagrecer a qualquer custo, os gordos também são vítimas de uma pressão velada, psicológica, exercida dentro de casa, pela família. Na opinião do psiquiatra Arthur Kaufman, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o emagrecimento de um dos cônjuges ou filhos desperta reações variadas na célula familiar. E nem sempre a favor das expectativas de quem quer perder peso.

Nesta entrevista, ele descreve as agruras familiares que envolvem o emagrecimento. Fala, por exemplo, da ameaça dos maridos engordativos, homens que mudam de comportamento quando a companheira perde peso. Especializado no tratamento da obesidade há mais de uma década, Kaufman coordena o curso de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ele acha que há uma certa sabotagem social contra o gordo. “Notou que é comum convidar alguém de dieta para jantar e servir filé mignon, bacon, batatas e mousse, em vez de um prato com menos calorias? As pessoas não levam a sério, mas há algo errado. O obeso é um entre os bodes expiatórios da atualidade”, afirma.

A entrevista:

ISTOÉ – Os parentes podem atrapalhar a perda de peso?

Arthur Kaufman – Muitas famílias apóiam o emagrecimento, mas podem criar problemas. Vamos supor que o casal tenha duas filhas, uma magra e a outra gorda. Durante a dieta, é comum comprar biscoitos para a filha magra, que não pode ficar sem um docinho, segundo a mãe. Mas todos sabem que a filha gorda é quem comerá 19 biscoitos, enquanto a magra degustará um. Não se pode generalizar, mas se disser que, inconscientemente, esse pai ou essa mãe querem que a filha continue gorda, me jogarão ovo na rua. Só que, com frequência, é isso que acontece.

O filhão ou filhona adolescentes e gorduchos podem continuar dependentes dos pais por mais tempo. Inúmeras vezes, a obesidade também interfere na vida sexual dos adolescentes, que fica empobrecida. Há outros exemplos. Acompanhei uma paciente com bulimia (distúrbio em que a pessoa se alimenta e vomita) que comia muito chocolate. A irmã escondia os chocolates numa gaveta, que deixava destrancada. Quando ela saía, a paciente corria para o quarto e devorava os chocolates. A irmã voltava e perguntava quem tinha roubado os chocolates.

ISTOÉ – Como se detecta a presença dessas armadilhas?

Kaufman – Há situações em que é preciso ficar atento. Principalmente em relação aos maridos engordativos. O tipo reclama que a mulher está enorme, que antes ela não era assim. Compara com a vizinha, com a prima bonitona. Ela começa a emagrecer e ele de vez em quando elogia. Mas, de uma hora para outra, inexplicavelmente, começa a trazer doces para casa, convida para jantar em uma churrascaria. Fala que ela já emagreceu e que isso não prejudicará em nada sua silhueta. Lentamente, ela volta à velha forma.

Outro marido engordativo é bonachão. Quando ela começa a emagrecer e a se cuidar, recuperando a feminilidade, normalmente quer uma vida sexual mais ativa. Só que o marido não quer, não aguenta ou tem uma outra relação. Se a mulher cobrar atenção sem retorno, pode recomeçar a engordar. Ficando infeliz, quer terminar o casamento. Um terceiro tipo de marido engordativo quer saber se existe alguma outra pessoa que a esteja motivando a emagrecer. Acha que não é para ele. É o sujeito que pode ter sido um cidadão pacífico e muda de comportamento. Em alguns casos, chega a bater na mulher. Aí ela desanima, deprime e engorda. Existem também “mulheres engordativas”, mas em número menor. A frase “Um mau casamento é tão engordativo quanto um sundae de chocolate”, tirada do livro Peso, sexo e casamento, resume bem essas situações.

ISTOÉ – Fala-se dessas situações em casa ou nos consultórios?

Kaufman – Às vezes, esses jogos são sutis e não se fala uma palavra sobre eles em casa. Em geral, só ficam mais claros por meio da psicoterapia.

ISTOÉ – Por que as famílias têm esse tipo de reação?

Kaufman – As pessoas desempenham papéis nem sempre claros dentro da dinâmica familiar. Os psiquiatras chamam isso de “mitos familiares”. Se em uma família alguém é classificado de maluco, outros podem se definir como não-malucos. Se alguém é tachado de gordo, os outros se definem como não-gordos. E o gordo é um dos bodes expiatórios da atualidade. Descarrega-se sobre ele toda carga de preconceitos. Tem mais: o emagrecimento promove alterações de comportamento e rotina. Muita gente fica mais agressiva. Quando a dieta começa, a pessoa deixa de usar a comida para aplacar a raiva. E pode lidar com o que a incomoda brigando e falando de uma maneira considerada inadequada pelos familiares. Se o obeso não tiver estrutura para aguentar as reações dos parentes, engorda novamente.

ISTOÉ – A comida pode se transformar em vício?

Kaufman – No sentido de dar prazer ou de evitar uma dor, pode ser. Nós nos drogamos para ter prazer ou fugir de um sofrimento. O alimento é um ótimo condutor de afeto. A pessoa se realiza afetivamente quando come. Alguns têm “orgasmos gastronômicos”. Certa vez, durante uma sessão de psicodrama, uma moça obesa pegou uma almofada, que representava para ela um bolo de chocolate, e começou a se acariciar com ela e dizer que amava o bolo e não aguentava ficar sem ele. Estava em êxtase. A sexualidade acaba sendo transferida. Não é à toa que as pessoas olham para os doces e sentem um verdadeiro tesão. É uma situação erotizada.

ISTOÉ – É comum emagrecer e depois recuperar o peso. As emoções e a família colaboram para a recaída?

Kaufman – Sim. A tendência de todos é procurar o equilíbrio, que chamamos de homeostase. Faz parte da homeostase de algumas pessoas serem gordas, porque assim se sentem mais seguras, mesmo que não sejam felizes. Elas sabem se virar assim. Quando emagrecem, muitas não aguentam a transformação. Pode ser bom para a mulher ser paquerada, mas isso não faz parte da programação mental dela, que talvez volte a engordar porque não se sente preparada para lidar com as novas emoções. Outras vezes, entra no biquíni, mas a vida não muda, os amores não aparecem. Então, a tendência é lentamente retornar ao padrão de segurança e conforto que se conhecia e era mais fácil.

ISTOÉ – Dá para mudar esses padrões de comportamento pessoais e da família?

Kaufman – Sim. Muita gente, quando se toca que usa a gordura para ficar como está e não evoluir, começa a mudar. E se a pessoa sente que é tratada como bode expiatório, pode sugerir sessões de terapia familiar.

ISTOÉ – O gordo pode ser feliz?

Kaufman – Se disser que todo gordo não é feliz, estou quase dizendo que os magros o são. Não acho que dá para definir a felicidade das pessoas pelo corpo, mas dá para medir a felicidade pelo corpo que a pessoa percebe. Porque posso até ser magro e perceber meu corpo como feio, sem o poder de dar prazer a ninguém e nem a mim mesmo. Nesse caso, não serei feliz.

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Segundo Kaufman, “o gordo é o bode expiatório”. Além dos sofrimentos físicos a que muitas vezes se submetem para emagrecer a qualquer custo, também são vítimas de uma pressão velada, psicológica, exercida dentro de sua própria casa, pela família. Por isso que a terapia se faz tão necessária para que o paciente consiga seguir em frente com o seu tratamento, tendo inteligência emocional para lidar com tantas adversidades.

E você? Conhece algum parente cujas atitudes se encaixam como serpentes?!

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