A esclerose múltipla é uma doença que lesiona os nervos do corpo e do cérebro. Com isso, a pessoa pode desenvolver diversas dificuldades, dependendo como for a evolução da doença. Alguns estudos têm mostrado uma contribuição da alimentação na melhora da esclerose múltipla. Então, te convido a saber mais sobre esclerose múltipla e alimentação.
O que é esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença crônica degenerativa de caráter inflamatório que agride a bainha de mielina. Esta bainha é uma capa composta por tecido adiposo que protege as células nervosas que fazem parte do sistema nervoso central, responsável pelo transporte de mensagens do cérebro para o restante do corpo.
É considerada uma doença autoimune, em que o organismo perde a capacidade de reconhecimento das suas células e começa a atacá-las, resultando em destruição dos próprios tecidos pelo sistema imunológico, também conhecido como mimetismo celular.
Sintomas da esclerose múltipla
Os sintomas da doença comprometem a qualidade de vida conforme a doença avança, e são caracterizados por: paralisia, tremor, dor, ansiedade, estresse, depressão, déficit de atenção, problemas de aprendizagem, fadiga, vertigens e distúrbios visuais, chegando até a alteração no controle da urina e das fezes.
O que causa esclerose múltipla
Existem vários fatores envolvidos no desenvolvimento da doença, como: desordens genéticas, dieta e estilo de vida, cigarro, exposição a toxinas, infecção pelo vírus Herpesvírus humano 4, entre outros.
Esclerose múltipla e alimentação
Vários estudos estão trazendo evidências de que a alimentação pode contribuir para o desenvolvimento da doença. O consumo de leite, alimentos com glúten e gordura saturada, além da presença de disbiose intestinal e deficiência de vitamina D, estão ligados à uma alimentação que precisa de cuidados.
Lácteos e glúten
Os alimentos lácteos e os fonte em glúten estão relacionados com a esclerose devido ao mimetismo molecular, que é capacidade de um microrganismo patogênico de criar estruturas semelhantes ao do hospedeiro. Nesse cenário, o mimetismo aconteceria entre os antígenos presentes nesses alimentos e uma sequência de aminoácidos existentes na bainha de mielina.
Gordura saturada
Carnes gordurosas, manteigas, óleos de dendê, o óleo de coco e seus derivados devem ser evitados por serem fontes ricas em gordura saturada. Essa gordura alteraria a estrutura das membranas celulares, favorecendo a entrada de antígenos na barreira hematoencefálica, podendo acelerar a degradação da mielina.
O consumo diário recomendado de gordura saturada para quem tem diagnóstico de esclerose múltipla é de até 15 g. Logo abaixo segue uma tabela com os principais alimentos fontes de gordura saturada e suas quantidades em 100 g de alimento:
Alimentos | Gordura Saturada por 100 g de alimento | Calorias (kcal) |
Banha de porco | 26,3 g | 900 |
Bacon grelhado | 10,8 g | 445 |
Bife de vaca com gordura | 3,5 g | 312 |
Bife de vaca sem gordura | 2,7 g | 239 |
Frango com pele assado | 1,3 g | 215 |
Leite | 0,9 g | 63 |
Salgadinho de pacote | 12,4 g | 512 |
Bolacha recheada | 6 g | 480 |
Lasanha à bolonhesa congelada | 3,38 g | 140 |
Salsicha | 8,4 g | 192 |
Manteiga | 48 g | 770 |
Disbiose intestinal
Outro cuidado ligado à alimentação é relativo à disbiose intestinal. Disbiose é o desequilíbrio da microbiota intestinal, configurando uma diminuição do número de bactérias boas do intestino e aumento das bactérias “ruins”. Esse desequilíbrio na microbiota reduz a capacidade de absorção dos nutrientes pelo corpo, causando carências de vitaminas importantes para evitar o avanço da doença. Além disso, o desequilíbrio da microbiota gera inflamação intestinal de baixo grau, nos deixando suscetíveis a desenvolver doenças auto imunes.
Vitaminas para o sistema imune
As vitaminas mais importantes para o funcionamento adequado do sistema imunológico e para os sintomas da doença são: vitaminas A e D por serem moduladoras do sistema imunológico, bem como as vitaminas C, E e B12 por ser importante para a síntese de mielina. Algumas podem ser acompanhadas por exames bioquímicos. Saiba mais sobre alimentos e suas vitaminas e minerais.
Vitamina D
A deficiência de vitamina D é outro fator ligado à doença, pois a mesma interage com o sistema imunológico aumentando a tolerância às substâncias estranhas, protegendo contra a auto-imunidade e a inflamação. Além disso, tem sido observado que há receptores de vitamina D no sistema nervoso central e esta vitamina regula a produção de mielina pelos oligodentrócitos. Sendo assim, a suplementação de vitamina D pode contribuir para reduzir o progresso e prevenir o desenvolvimento da doença.
Dieta para esclerose múltipla
Segundo diversos estudos científicos, a alimentação pode contribuir para piora ou melhora da doença, e sua maior progressão ou não. Nesse sentido, a dieta estilo mediterrânea foi eleita como um dos melhores estilos de alimentação para essa condição. Ela é baseada em frutas, verduras e legumes, cereais integrais, grãos, carnes brancas, gorduras boas (não saturadas) ricas em ômega 3, que são as vindas de peixes, castanhas, azeite, abacate. Essa alimentação também é a mais indicada para manter uma microbiota intestinal saudável, conforme explicado no item acima, em “disbiose”.
Conclusão
Então, para esclerose múltipla pode-se 1) substituir os lácteos por leites vegetais, 2) retirar ou reduzir o glúten e substitui-la por farinhas que não contenham, 2) consumir variedades de frutas e legumes para aumentar o aporte necessário de vitaminas e minerais importantes, 3) manter a vitamina D em dia, através de suplementação ou tomando 15 minutos de sol ao dia, em horários recomendados, 4) acompanhar os demais nutrientes, 5) manter seu intestino saudável, 6) manter uma dieta estilo mediterrânea. Não faça essas alterações sozinho. Tenha o seu nutricionista!
Fontes de consulta:
Diet and Multiple Sclerosis, 2014
Diet, Gut Microbiota, and Vitamins D + A in Multiple Sclerosis, 2018
The Role of Diet in Multiple Sclerosis: A Review, 2018
Influence of Diet in Multiple Sclerosis: A Systematic Review, 2017
The Role of Diet in Multiple Sclerosis: Mechanistic Connections and Current Evidence, 2018
Diet and Multiple Sclerosis: Scoping Review of Web-Based Recommendations, 2019
The Role of Diet in Multiple Sclerosis, 2017
Multiple Sclerosis and Nutrition, 2005
Nutrition facts in multiple sclerosis, 2015
Effects of dietary restriction on neuroinflammation in neurodegenerative diseases, 2021