Você já deve ter ouvido falar das controvérsias da dieta FODMAP para síndrome do intestino irritável, certo? Como tudo o que é novo, sofre rejeições e críticas, e não foi diferente quando surgiu a dieta FODMAP: houveram controvérsias.
O surgimento da dieta FODMAP como tratamento para SII foi um “game changer” para esses pacientes. Estudos de todo o mundo têm mostrado a sua eficácia em relação ao placebo, e 50-87% dos adultos com SII se beneficiam dela, melhora que não costuma ser atingida nem de perto com os atuais medicamentos para SII.
Das abordagens dietéticas propostas para SII, a evidência de eficácia é amplamente direcionada a apenas essa dieta: a dieta pobre em oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis, ou seja, a dieta FODMAP, do acrônimo em inglês the fermentable oligosaccharides, disaccharides, monosaccharides, and polyols diet.
Apesar disso tudo, existem controvérsias sobre a dieta FODMAP. Vamos ver isso mais de perto.
Prefere ver algo mais resumido? Assista ao vídeo:
A preocupações sobre a dieta FODMAP
Desde a primeira pesquisa mostrando as evidências da eficácia da dieta FODMAP para o manejo da síndrome do intestino irritável (SII), ela tem ganho popularidade. No entanto, alguns pesquisadores começaram a levantar alguns questionamentos sobre ela.
A preocupação central sobre a segurança da dieta tem sido em relação à primeira fase dela, que é a fase de eliminação dos alimentos ricos em FODMAP, pois alguns pesquisadores acreditam que ela poderia comprometer a saúde física e mental do paciente.
As críticas negativas alegadas são:
- A restrição da diminui a quantidade de bactérias da microbiota
- Propõe restrição alimentar intensa;
- É pobre em fibras solúveis e prebioticos;
- Leva a carências nutricionais a longo prazo;
- Compromete do comportamento alimentar em pessoas suscetíveis devido à restrição alimentar.
Vamos discutir um pouco sobre essas alegações, porém, primeiro vamos falar sobre a evolução dessa dieta ao longo dos 10 anos, desde o seu surgimento, bem como sobre a prescrição e orientação dela, que deveria ser sempre por profissional capacitado.
Veremos esses dois aspectos primeiro porque, 1) nem sempre as pessoas acompanham a evoluções dos estudos e ficam com seus conceitos ultrapassados e, 2) como tudo que ganha popularidade, começa a sofrer distorções.
A evolução da dieta FODMAP
A questão é que a aplicação da dieta ao longo de uma década, desde que ela surgiu, evoluiu de uma rígida lista de alimentos “permitidos e proibidos” para um programa/protocolo estruturado de 3 fases.
A primeira fase é a de restrição dos FODMAP’s por 30 dias. Para iniciar, é fundamental termos uma Lista de alimentos low Fodmap confiável. Após, a segunda fase, que é a de testes para reintrodução e, então, na terceira fase, fazer a personalização da alimentação para o paciente.
A personalização serve para torná-lo independente para ajustar e administrar própria alimentação, dosando alimentos com FODMAPs e suas quantidades, e ao mesmo tempo atingir um bom estágio de ausência de sintomas.
Ou seja, não é mais simplesmente uma lista de alimentos proibidos para o resto da vida. Portanto, aqui já desmistificamos o ponto negativo alegado N° 2 Restrição alimentar intensa.
Dieta FODMAP prescrita por nutricionista especializado e experiente
Além disso, com avaliação e orientação cuidadosa, preferencialmente por um nutricionista especializado e experiente no protocolo, o risco de tais consequências negativas alegadas na saúde é quase inexistente.
Porém, nem sempre as pessoas fazem com acompanhamento adequado. Por isso, muitas vezes, a escolha de um profissional não capacitado ou desinteressado pode levar a:
1) Orientação do protocolo ao paciente de forma errada e, portanto, sem resultados satisfatórios;
2) Orientação do protocolo ao paciente através de um plano alimentar mal elaborado, tornando a execução pelo paciente ainda mais difícil e impedindo-o, assim, de obter os benefícios da dieta;
3) Orientação de um plano alimentar pobre em fibras, sendo que existem muitos alimentos pobres em FODMAP mas que são boas fontes de fibras;
4) Não identificação de pacientes com comer transtornado e, portanto, não conseguirão executar tamanha restrição e poderão sentir piora do seu comportamento alimentar.
Portanto, ao realizar o protocolo Fodmap com nutricionista experiente, capacitado e atento, desmistificamos os pontos negativos alegados Nº 2, 3, 4 e 5.
Dieta Fodmap e microbiota
Uma dessas preocupações e críticas à dieta FODMAP tem sido de que a fase inicial da dieta arruinaria a microbiota intestinal devido à exclusão rígida dos FODMAPs.
Estudos controlados têm indicado que a dieta FODMAP não tem efeito negativo na diversidade bacteriana da microbiota, mas, de fato, irá reduzir a abundância bacteriana total.
Assim como do contrário, a alta ingestão de FODMAP vai aumentar as bactérias promotoras de saúde, visto que os alimentos ricos em FODMAP’s têm efeito probiótico, no entanto, provocam os desconfortos nos pacientes com SII.
No entanto, esse efeito de diminuição da quantidade de bactérias do microbioma é perfeitamente contornável com suplementação de probióticos e fibras solúveis prebióticas não fermentáveis e que, de quebra, não provocam os desconfortos sentidos pelos pacientes.
Portanto, acabamos de resolver o ponto negativo alegado N° 1 de que a dieta diminui a quantidade de bactérias da microbiota.
FODMAP gentil
A orientação da dieta FODMAP pelo nutricionista capacitado inclui não só como orientar o protocolo das 3 fases, mas também quando e como aplicar a dieta FODMAP gentil.
Tudo isso com o maior bom senso possível para ajudar com que o paciente consiga aplicá-lo no dia-a-dia. Inclui também orientação cuidadosa e avaliação da resposta à dieta, bem como diminuir os riscos de muita ou pouca restrição da dieta.
Inclusive, por essa e outras razões, surgiu a dieta “FODMAP gentil”, descrita como uma restrição seletiva de alguns alimentos muito concentrados em FODMAPs, que pode resolver determinados casos de pacientes que por algum motivo não devem ou não precisam de restrição total na primeira fase, para resolve a questão do excesso de restrição na fase inicial da dieta e a crítica de que prejudicaria a micriobiota. Ou seja, com a criação da Fomdap gentil, desmistificamos novamente vários pontos negativos alegados.
Dieta FODMAP e a cura para síndrome do intestino irritável
Como dito anteriormente, a dieta evoluiu em relação há 10 anos atrás, quando foi criada, assim como o entendimento, diagnóstico e o tratamento da SII. Assim como hoje se sabe, devido ao aumento considerável de conhecimento a respeito nos 20 anos de que a SII é uma condição crônica, porém não fatal, o que diminui a sua gravidade.
Idealmente, uma dieta curaria essa condição, mas isso não é possível considerando o entendimento multifatorial da patogênese. A dieta, portanto, é uma medida de controle de sintomas, e não de cura.
No entanto, ela funciona a longo prazo, é capaz de dar conta da flutuação dos sintomas, e ao ser orientada corretamente, terá uma baixa interferência na qualidade de vida do paciente.
Soluções para as controvérsias
Com a popularidade vêm controvérsias e aplicações inapropriadas para a dieta FODMAP, o que também leva a críticas infundadas. Por isso, profissionais especializados para guiar os pacientes no seu uso são essenciais para evitar problemas desse tipo, bem como para promover maior aderência aos que realmente se beneficiariam dela.
Na minha prática clínica a melhora completa é atingida em 90% do pacientes, talvez por que, de fato, como disse o Peter Gibson, “a aplicação prática da dieta requer boa familiaridade e um pouco de bom senso para uma população heterogênea como são os pacientes com SII”. Ou seja, talvez porque eu consiga fazê-los aderir bem à dieta, tornando o dia-a-dia do paciente o mais simples possível.
Pudemos desmistificar todos os pontos negativos alegados:
- A restrição da diminui a quantidade de bactérias da microbiota. Solução: suplementar probiótico e fibras.
- Propõe restrição alimentar intensa. Solução: executar a FODMAP gentil.
- É pobre em fibras solúveis e prebioticos. Solução: o profissional elaborar com mais carinho o plano alimentar do paciente, pois é possível sim uma dieta FODMAP adequada em fibras.
- Leva a carências nutricionais a longo prazo. Solução: isso não é verdade, a não ser o que paciente faça sozinho ou sem orientação adequada.
- Compromete do comportamento alimentar em pessoas suscetíveis devido à restrição alimentar. Solução: executar a FODMAP gentil.
Atualmente, o objetivo da terceira fase do protocolo, a fase final, é obter um nível mínimo de restrição dos FODMAPs, e não a exclusão total deles. Dois motivos para isso é evitar a redução de bactérias boas na microbiota e evitar restrições alimentares desnecessárias. Portanto, é para isso que serve a fase dos testes e a fase da personalização final da alimentação.
Fonte das informações: Controversies and reality of the FODMAP diet for patients with irritable bowel syndrome, março 2019.
Interessado em fazer o protocolo Fodmap?
Aqui abaixo você encontra uma Lista de alimentos low Fodmap em português, confiável, baseada nas orientações da Universidade de Monash, bem como um Livro de receitas low Fodmap e uma sugestão de cardápio low Fodmap para que você consiga fazer a fase de exclusão do protocolo mantendo uma alimentação equilibrada, adequada em fibras e variada, mesmo sem orientação profissional.
Para os passos seguintes do protocolo é preciso de um profissional experiente para orientar como fazer os testes, para interpretá-los e sobre como personalizar a sua alimentação. Lembre-se que não é indicado manter a fase de exclusão da dieta de exclusão por mais que 6 semanas. Além disso, o acompanhamento profissional é importante porque parte dos pacientes possuem outras condições clínicas associadas que o protocolo não resolverá por completo e, portanto, necessita de condutas adicionais.