Nutricionista Adriana Lauffer

Alimentos e constipação intestinal

Alimentos e constipação intestinal

A constipação intestinal afeta milhões de pessoas em todo o mundo, causando desconforto, irritabilidade e impactando significativamente a qualidade de vida. Caracterizada por evacuações infrequentes (menos de três vezes por semana), fezes endurecidas e sensação de evacuação incompleta, este problema frequentemente tem relação direta com nossos hábitos alimentares.

Felizmente, mudanças na dieta podem promover melhoras notáveis nesse quadro, sem necessidade de recorrer a laxantes ou outros medicamentos. Neste artigo, vamos entender como sua alimentação influencia diretamente seu trânsito intestinal e quais estratégias nutricionais podem ajudar a combater e prevenir a constipação.

Entendendo a constipação intestinal

Antes de mergulharmos nas soluções referentes à alimentação, é importante compreender o que acontece em nosso corpo durante a constipação. O intestino grosso (cólon) tem como uma de suas principais funções absorver água das fezes e, quando o movimento intestinal está lento, ocorre absorção excessiva de água, resultando em fezes ressecadas e difíceis de eliminar. Além disso, o tônus muscular do intestino e a sensibilidade aos sinais de necessidade de evacuação também desempenham papéis importantes neste processo.

A constipação pode ser causada por diversos fatores, incluindo:

  • Dieta pobre em fibras
  • Desidratação
  • Sedentarismo
  • Alterações na rotina ou viagens
  • Estresse e ansiedade
  • Efeitos colaterais de medicamentos
  • Condições médicas específicas

Dentre estes fatores, a alimentação inadequada destaca-se como um dos mais facilmente modificáveis e impactantes.

O papel das fibras alimentares na constipação intestinal

As fibras são componentes vegetais não digeríveis que desempenham função crucial na saúde intestinal. Elas se dividem principalmente em dois tipos, cada um com benefícios específicos para o trânsito intestinal:

Fibras solúveis

As fibras solúveis formam um gel ao contato com a água, o que amolece as fezes e facilita seu trânsito pelo intestino. Além disso, são fermentadas pelas bactérias intestinais, produzindo ácidos graxos de cadeia curta que nutrem as células intestinais e melhoram a saúde da microbiota.

Fontes de fibras solúveis:

  • Aveia e farelo de aveia
  • Frutas como maçã, banana, laranja e abacate
  • Leguminosas como feijão, lentilha e grão-de-bico
  • Sementes de chia e linhaça
  • Vegetais como cenoura e batata-doce

Fibras insolúveis

As fibras insolúveis, por sua vez, não se dissolvem em água e adicionam volume às fezes, acelerando seu movimento pelo trato digestivo. Elas funcionam como uma “vassoura” natural, estimulando as contrações musculares do intestino.

Fontes de fibras insolúveis:

  • Cereais integrais como arroz integral e pães integrais
  • Farelo de trigo
  • Vegetais folhosos como couve, espinafre e alface
  • Casca de frutas (quando comestíveis)
  • Nozes e sementes

Quantidade ideal de fibras diárias para constipação intestinal

A recomendação de ingestão diária de fibras para tratar e prevenir a constipação intestinal geralmente é mais alta que a recomendação padrão para adultos saudáveis. Enquanto a recomendação geral para adultos é de 25 a 30 gramas de fibras por dia, para pessoas com constipação crônica, especialistas frequentemente recomendam entre 25 a 35 gramas diárias.

Para casos mais resistentes de constipação, alguns estudos e diretrizes clínicas sugerem que a ingestão pode ser aumentada gradualmente até 30-40 gramas por dia, desde que acompanhada de adequada hidratação (pelo menos 2-2,5 litros de líquidos diariamente).

É importante destacar que o aumento na ingestão de fibras deve ser gradual – geralmente recomenda-se um acréscimo de 5 gramas a cada semana – para permitir que o intestino se adapte e evitar efeitos colaterais como gases, distensão abdominal e desconforto. A combinação de fibras solúveis e insolúveis também é mais eficaz do que apenas um tipo.

Para crianças, idosos ou pessoas com condições médicas específicas, as recomendações podem variar, por isso é importante consultar um profissional de saúde para recomendações personalizadas.

Hidratação e constipação intestinal

Aumentar o consumo de fibras sem o acompanhamento adequado de líquidos pode, ironicamente, piorar a constipação. As fibras necessitam de água para funcionar corretamente – as solúveis precisam dela para formar o gel benéfico, enquanto as insolúveis precisam de hidratação para amolecer as fezes enquanto adicionam volume.

Por isso, ao aumentar a ingestão de fibras, é fundamental aumentar proporcionalmente o consumo de líquidos. A recomendação geral sobre hidratação é:

  • Pelo menos 2 litros (8 copos) de água por dia
  • Aumento para 2,5 a 3 litros ao consumir dietas ricas em fibras
  • Preferência por água, mas chás de ervas sem cafeína e sucos naturais também contam
  • Evitar ou limitar bebidas alcoólicas e aquelas com cafeína (café, alguns chás e refrigerantes), que podem ter efeito diurético

Probióticos e prebióticos na constipação

Além das fibras e da hidratação, outro aspecto fundamental da alimentação que influencia o trânsito intestinal é o equilíbrio da microbiota intestinal – o conjunto de trilhões de microrganismos que habitam nosso intestino.

Probióticos

Os probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Algumas cepas específicas têm demonstrado eficácia no tratamento da constipação, melhorando a frequência e consistência das evacuações.

Fontes alimentares de probióticos:

  • Iogurte natural com culturas vivas
  • Kefir (leite fermentado)
  • Kombucha (chá fermentado)
  • Chucrute (repolho fermentado)
  • Kimchi (vegetais fermentados)
  • Miso e tempeh (derivados da soja fermentada)

Prebióticos

Os prebióticos são substâncias (principalmente fibras específicas) que servem de alimento para as bactérias benéficas do intestino, promovendo seu crescimento e atividade. Eles complementam o efeito dos probióticos, criando um ambiente intestinal mais saudável.

Fontes alimentares de prebióticos:

  • Alho e cebola
  • Banana verde ou ainda firme
  • Alcachofra
  • Aspargo
  • Chicória
  • Raiz de bardana
  • Cereais integrais

A combinação de prebióticos e probióticos na alimentação, chamada de simbiótica, tem efeito sinérgico na promoção da saúde intestinal e no combate à constipação.

Alimentos a serem limitados na constipação intestinal

Assim como existem alimentos que favorecem o bom funcionamento intestinal, outros podem contribuir para a constipação. É recomendável limitar o consumo de:

Alimentos processados e ultraprocessados

Geralmente pobres em fibras e ricos em aditivos, conservantes e gorduras, tendem a desacelerar o trânsito intestinal. Exemplos incluem fast food, salgadinhos industrializados, bolachas recheadas e carnes processadas.

Alimentos refinados

O processamento elimina grande parte das fibras naturalmente presentes em grãos e cereais. Farinha branca, arroz branco e produtos derivados fornecem carboidratos de rápida absorção, mas pouca fibra.

Laticínios em excesso

Embora não seja uma regra para todos, algumas pessoas notam piora da constipação com o consumo excessivo de laticínios, especialmente queijos. Se você observar esta associação, considere moderar ou buscar alternativas.

Alimentos fritos e gordurosos

Dietas muito ricas em gorduras, especialmente saturadas e trans, podem retardar o esvaziamento gástrico e o trânsito intestinal como um todo.

Quando considerar suplementação de fibras na constipação

Embora o ideal seja obter fibras através da alimentação, algumas pessoas podem se beneficiar de suplementação, especialmente durante a transição para uma dieta mais rica em fibras ou em casos de constipação mais resistente.

Opções comuns incluem:

  • Psyllium (casca de plantago)
  • Metilcelulose
  • Inulina
  • Polidextrose

Entretanto, é importante consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação, pois o tipo e a dose variam de acordo com as necessidades individuais.

Quando procurar ajuda médica para constipação intestinal

Embora mudanças na alimentação possam ser eficazes para a maioria dos casos de constipação, algumas situações requerem avaliação médica:

  • Constipação repentina sem causa aparente, especialmente em pessoas com mais de 50 anos
  • Sangue nas fezes
  • Dor abdominal intensa
  • Perda de peso não intencional
  • Constipação que não melhora mesmo com mudanças na dieta e estilo de vida
  • Alternância entre diarreia e constipação
  • Histórico familiar de câncer colorretal ou doença inflamatória intestinal

Nestes casos, é essencial descartar condições mais sérias antes de atribuir o problema apenas à dieta.

Laxantes para constipação intestinal

Evite ao máximo o uso de laxantes. Porém, dependendo a causa da sua constipação intestinal, eles podem ser necessários. Nesses casos, alguns tipos de laxantes são melhores que outros. Fique atento a isso e converse com seu médico ou nutricionista.

Caso você os utilize como método frequente para evacuar sem ter tido recomendação médica para tal, procure deixar de usar laxante e utilizar coquetéis laxativos caseiros e naturais.

Conclusão

A constipação intestinal, embora comum, não deve ser considerada normal ou inevitável. Com abordagens alimentares adequadas – priorizando fibras, hidratação, probióticos e alimentos minimamente processados – a maioria das pessoas pode melhorar significativamente seu trânsito intestinal e qualidade de vida.

Lembre-se de que mudanças na dieta para combater a constipação devem ser graduais, permitindo que seu corpo se adapte. Paciência e consistência são essenciais, pois os resultados podem levar algumas semanas para se tornarem evidentes. Além disso, a alimentação funciona melhor quando combinada com outros hábitos saudáveis, como atividade física regular, gerenciamento do estresse e estabelecimento de uma rotina intestinal.

Por fim, cada organismo é único, e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Esteja atento às respostas do seu corpo e faça ajustes conforme necessário, idealmente com o acompanhamento de profissionais de saúde qualificados.

Referências

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