A microbiota exerce seu efeito e funções no nosso organismo de inúmeras maneiras, de forma direta e indireta.
Ação protetora
As bactérias “boas” possuem capacidade de nos proteger de infecções por microrganismos patogênicos. Isto é conseguido das seguintes formas:
- Deslocando-se patógenos (dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo),
- Competindo por nutrientes,
- Competindo por receptores e, ainda
- Produzindo fatores que interferem na sobrevivência de cepas patobiontes, por exemplo secretando bacteriocinas (antibióticos naturais) e outras colicinas, gerando ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, lactato, acetato, etc) a partir de fermentação de fibras solúveis, que reduzem o pH colônico e dificultam a proliferação de bactérias nefastas.
A capacidade de algumas bactérias de formar biofilmes é sabidamente um dos fatores mais importantes na resistência antibiótica a várias infecções. Bactérias do “bem” podem interferir na formação de biofilmes de várias maneiras e assim permitir a ação antibiótica, aumentando sua eficácia.
Ação metabólica
A função metabólica é exercida através de:
- Diferenciação de células epiteliais intestinais,
- Metabolização de eventuais carcinógenos presentes na dieta,
- Sintetização ou facilitação da absorção de vitaminas e de outros nutrientes e oligoelementos,
- Produção de hormônios.
Algumas cepas são capazes de produzir hormônios e neurotransmissores e, provavelmente, interferem diretamente na função de vários órgãos e seus produtos tais como adrenal, hipófise, tiroide, gônadas, etc. Deste modo, modificam diretamente nosso metabolismo, estando diretamente relacionadas com problemas metabólicos, como obesidade e diabetes.
Ação genética
Várias bactérias podem ainda interferir na função dos chamados receptores nucleares (RN), os quais formam uma superfamília de proteínas que funcionam como fatores transcritores, modificando a expressão e atividade de genes alvo. Vários produtos da microbiota se ligam a estes RN modificando sua ação, podemos assim destacar os “peroxisome proliferator activated receptors” (PPARs) que interferem no controle da produção de energia, inflamação e imunomediação, receptores de vitamina D (VDR, NR111), receptores xenobióticos (PXR, NR112, CAR), receptores esteroides, receptores de estrógenos, receptores de hormônios tiroidianos, etc.
Participam de maneira ativa no metabolismo de sais biliares, transformando sais biliares primários em secundários, os quais podem, por exemplo, interagir com células L intestinais, regulando liberação peptídeo YY (PYY) e “glucagon-like-peptide-” (GLP-1), os quais participam de maneira direta no controle da fome e saciedade. A microbiota pode ainda atuar diretamente na ativação e função de diferentes fármacos.
Ação digestiva
A microbiota parece também capaz de promover a digestão de vários alimentos, como a lactose e principalmente as fibras. Bactérias do gênero Lactobacillus, podem produzir beta-galactosidase e, assim, facilitar a quebra de lactose, diminuindo sintomas de intolerância a este dissacarídeo. A fermentação das fibras gera AGCC que atuam em diferentes sistemas metabólicos intestinais e extra intestinais inclusive atuando diretamente sobre o eixo cérebro-intestino.
Ação imunomoduladora
Uma das funções mais importantes dos microrganismos consiste em seu efeito imunomodulador. Microrganismos são reconhecidos diretamente pelos chamados “pattern recognition receptors” (PRR), uma espécie de “scanner” natural, como os “toll-like receptors” (TL) encontrados nas células intestinais de Panneth e principalmente nas células dendríticas intestinais, importantes coordenadoras do tipo de resposta imune a ser iniciada.
As bactérias identificadas por estes receptores podem influenciar diretamente no comportamento destas células, equilibrando a resposta imune, exercendo efeito sobre doenças infecciosas e também naquelas imuno-mediadas (autoimunes e alérgicas). A microbiota ainda modula diretamente a liberação de muco, IgA e defensinas pelas células intestinais, além de manter a permeabilidade intestinal.
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