Nutricionista Adriana Lauffer

Alergia alimentar e síndrome do intestino irritável: metade dos pacientes podem possuir ambos.

alergia alimentar e síndrome do intestino irritável

Já mencionei em outro post (“Quando a dieta Fodmap não funciona”) sobre a dieta FODMAP que em torno de 20% dos pacientes podem não ter resultados tão efetivos com essa dieta. Isso se deve principalmente devido à possibilidade de haver alergia alimentar envolvida.

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No entanto, um estudo publicado na Revista Gastroenterology em 2019 concluiu que esse número pode ser ainda maior. Cerca de 50% dos pacientes com Síndrome do Intestino Irritável (SII), mesmo nos casos em que os testes de alergia são negativos.

Nesse estudo, os pesquisadores selecionaram pacientes com SII e com testes negativos para alergia alimentar, inclusive os testes cutâneos de alergia.

Testes cutâneos de alergia, ou testes de alergia no antebraço ou Teste de Prick, são aqueles testes em que são aplicadas no antebraço da pessoa algumas gotas da substância que se pensa causar alergia, ou faz-se algumas picadas, com uma agulha com a substância. Após esse procedimento, aguarda-se 20 minutos para verificar se o paciente faz reação.

Os pacientes eram submetidos a uma endoscopia juntamente com um método chamado endomiscroscopia confocal a laser. Essa é uma modalidade de imagem endoscópica avançada que fornece imagens semelhantes à histologia com aumento de 1000 vezes para avaliação por microscopia in vivo, e que já existe há 10 anos.

Durante a endoscopia, através de um cateter, eram administradas amostras líquidas de 20 ml de soluções. Eram 6 soluções ao total, contendo trigo, leite, soja, fermento ou ovo, e uma solução controle. Juntamente com a endomicroscopia confocal a laser, os pesquisadores conseguiam acompanhar e ver as reações celulares acontecendo no paciente, in vivo.

O que eles viram:

– Que pelo menos 50% dos pacientes podem ter alergia alimentar não clássica. A clássica é aquela mediada por IgE, e cujos os exames costumam dar sempre negativos, sejam os exames de sangue ou os testes cutâneos;

– Que os sintomas eram tardios, apesar de as reações na mucosa duodenal serem imediatas. Portanto, a alergia tardia apresenta sintomas tardios (e não imediato ao consumo) e, por isso, leva esse nome;

– As principais reações vistas pelos pesquisadores quando as amostras de alimentos entravam em contato com a mucosa eram: 1) aumento imediato de permeabilidade intestinal (principal via para o desenvolvimento de alergias alimentares) e 2) infiltração de eosinófilos (principal categoria de células sinalizadoras de reação alérgica);

– Que a alergia não clássica, não mediada por IgE, é uma combinação de diferentes processos fisiopatológicos, com variações em secreção entérica, permeabilidade, motilidade, e sensações. Esse tipo de alergia varia de pessoa para pessoa e, por isso, a detecção e tratamento são complicados.

Conclusão

Segundo esse estudo podemos ver que existem muitos mecanismos envolvidos na SII. Portanto, em algumas pessoas, não só os princípios de fermentação aos fodmaps ou intolerância à histamina podem estar presentes, mas também outros mecanismos de alergia alimentar.

Pacientes com SII, com maior sensibilidade visceral e refratários à tratamentos precisam ter muita calma e paciência. Muitas vezes precisam ir por partes e ajustando a conduta de tratamento. É preciso ter cautela e bom senso para identificar também quando questões emocionais influenciam os sintomas. Isso pode acontecer através da somatização ou neurotização (falo isso como especialista em psicologia), para não só culpabilizar alimentos. Mas, se você não melhorou com as condutas que fez até agora, a possibilidade de alergia alimentar tardia é uma delas.

Tenha paciência consigo mesmo, com seu intestino e com o seu tratamento. A recuperação é gradual e pode ser lenta, o tratamento pode ser difícil e vezes precisar de ajustes, mas é totalmente possível.

Leia na íntegra: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31100380/

Fonte: Many Patients With Irritable Bowel Syndrome Have Atypical Food Allergies Not Associated With Immunoglobulin E, 2019.

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